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Bissau: LGDH denuncia mais de cem pessoas torturadas em 2024

26 de junho de 2025

Liga Guineense dos Direitos Humanos denuncia que, pelo menos, 120 pessoas, incluindo ativistas e políticos, foram submetidas a práticas de tortura no país, em 2024.

Violência em África
A LGDH denuncia a prática sistemática de tortura na Guiné-Bissau e apresentou, esta quinta-feira, um manifesto contra a tortura (imagem de arquivo)Foto: Tinnakorn/imago images

Julinha Sana Sambú e Zinaida dos Reis são duas jovens guineenses que foram detidas, no ano passado, durante uma manifestação histórica da Frente Popular, em Bissau, por mais justiça e democracia. Em entrevista à DW, lembram esse dia, que deixou marcas nas suas vidas.

"Eu acho que foi um dos momentos mais complicados da minha vida. Não só porque fui vítima de maus-tratos, mas porque eu presenciei isso desde início, a forma como eles nos trataram", diss Sambú à DW. 

"Estávamos indefesos. Foi um dia de humilhação, um dia em que eu que me tiraram a dignidade e em que me senti não guineense", acrescentou.

Tortura

As jovens relatam terem sido vítimas de tortura após a detenção. Zinaida dos Reis diz que foram tratadas de forma cruel, como se não fossem seres humanos.

"Arrancaram de mim a minha cidadania com violência, não sei como explicar isso. Esta é a primeira vez que eu estou a dar entrevista sobre o acontecido, acho que não tive coragem de falar sobre este assunto", relatou. 

"O sentimento que eu vivi foi uma mistura de medo paralisante e uma raiva absurda. É como se o país em que eu nasci tivesse me virado as costas", disse Zinaida dos Reis.

As autoridades guineenses não responderam aos pedidos de esclarecimento da DW.

Danúncias

No dia em que se assinala o Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura, a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) denuncia a prática sistemática de tortura na Guiné-Bissau e apresentou, esta quinta-feira, um manifesto contra a tortura.

Segundo Bubacar Turé, presidente da organização não-governamental, nos últimos cinco anos, centenas de cidadãos guineenses foram detidos arbitrariamente e submetidos a sessões de tortura em instalações do Ministério do Interior, que diz ter-se tornado "num epicentro da violência e da impunidade".

"Estas sessões, além de cruéis, são filmadas e arquivadas como forma de intimidação e chantagem, constituindo uma afronta abominável à dignidade humana. Para além das torturas físicas, os detidos enfrentam tortura psicológica severa, especialmente nas condições degradantes."

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A Liga tem denunciado a situação há vários anos, incluindo junto das autoridades judiciais. Em 2021, por exemplo, o Ministério do Interior expulsou da polícia três agentes acusados de torturar jovens em Bafatá, no leste da Guiné-Bissau.

N'kanandé Ká conta à DW que também já foi detido e torturado. O jovem professor diz que, até hoje, vive com as sequelas.

"Fui preso com mais alguns outros colegas. Fomos submetidos a ondas de torturas com cassetete. Mais de três homens a torturar uma pessoa. Foi um momento difícil, traumático e assombroso."

A DW não conseguiu obter esclarecimentos sobre o caso junto do Ministério do Interior. A Liga Guineense dos Direitos Humanos alerta que é preciso dizer basta a toda esta situação.

Bubacar TuréFoto: privat

Responsabilidade

O ativista dos direitos humanos Bubacar Turé responsabiliza diretamente o ministro do Interior, Botche Candé e o secretário de Estado da Ordem Pública, José Carlos Macedo Monteiro, por "transformarem a casa que deveria ser de proteção e segurança dos cidadãos num espaço de medo, brutalidade e violação dos direitos humanos".

"Face aos factos irrefutáveis, a LGDH exige o desmantelamento imediato de todos os esquadrões de tortura operantes no Ministério do Interior e noutras instituições de segurança", dizem.

Também pedem "a demissão imediata dos senhores Botche Candé e José Carlos Macedo Monteiro, por responsabilidade política e moral, erradicação total da tortura, em todos os contextos, públicos ou privados, punição exemplar de todos os responsáveis morais e materiais pela prática de tortura".

A Guiné-Bissau ratificou a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura em setembro de 2013, mas não apresentou relatórios sobre a implementação do documento.

Este ano, o Estado submeteu à avaliação do Comité da ONU um relatório oficial sobre a tortura, algo aplaudido, na altura, pelas organizações não-governamentais.

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