Guiné-Bissau: "Manecas" dos Santos com mandado de detenção
gs
11 de junho de 2017
Agentes da Polícia Judiciária foram a casa do comandante histórico do PAIGC com mandado de detenção. Mas "Manecas" dos Santos estava hospitalizado, segundo o advogado Carlos Pinto Pereira.
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Desde que alertou para a possibilidade de um golpe de Estado na Guiné-Bissau, em entrevista ao jornal português Diário de Notícias, o comandante Manuel, mais conhecido como "Manecas", dos Santos está na mira do Ministério Público guineense.
"Dois agentes da Judiciária foram a casa dele para cumprir um mandado de detenção", na sexta-feira (08.06), contou ao Diário de Notícias Carlos Pinto Pereira, o advogado de "Manecas" dos Santos. Mas "a esposa informou os agentes que ele estava hospitalizado e disse-lhes para contactarem comigo", acrescentou.
Carlos Pinto Pereira foi ao Ministério Público nesse mesmo dia. "Li o mandado. Não especifica o propósito da detenção, quando devia dizer que o motivo era não ter comparecido a uma audiência judicial", inicialmente agendada para 2 de junho. "A falta sem justificação pode ser motivo para mandado, mas não foi o caso. Ele não pôde ir por motivos de saúde e justificou. Essa justificação foi entregue por mim, mas fizeram tábua rasa dela", criticou o advogado.
Ainda na sexta-feira, o médico de "Manecas" dos Santos foi depor. "Quando eu estava a sair de lá [do Ministério Público], cruzei-me com ele", que "esclareceu o que havia a esclarecer", acrescentou o advogado Carlos Pinto Pereira.
Acusação de simulação de crime
Tudo começou com uma entrevista ao diário português, em abril, em que o histórico comandante de artilharia do PAIGC na luta contra o exército colonial português pela independência da Guiné e Cabo Verde, afirmou que "a Guiné-Bissau poderá estar na iminência de um golpe de Estado", devido à prolongada crise política e institucional.
Como consequência, "Manecas" dos Santos foi notificado pelo Ministério Público para interrogatório (a 18.05), onde reiterou que exprimiu ao jornal a sua opinião. O processo foi arquivado.
No entanto, dias depois outro processo foi aberto e "Manecas" dos Santos foi novamente convocando para novo interrogatório, a 2 de junho. O comandante, de 74 anos, apresentou atestado médico, explicando que não podia comparecer por motivos de saúde. Ainda assim, a 5 de junho, o delegado do procurador emitiu o mandado de detenção e na sexta-feira (09.06) apareceram em casa dele.
Neste segundo interrogatório do Ministério Público está em causa a acusação de "simulação de crime: que ele teria falado da preparação de um crime e não provou. Para esse crime, menos gravoso, a pena é de dois anos", explicou o advogado. Carlos Pinto Pereira garantiu que "o comandante está perfeitamente tranquilo e disponível para todos os esclarecimentos".
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.