Militantes do PRS insurgem-se contra a direção do partido
Iancuba Dansó (Bissau)
6 de outubro de 2021
Na Guiné-Bissau, vários militantes do Partido da Renovação Social (PRS) exigem a marcação da data de um congresso, salientando que o mandato da atual direção da formação política expirou.
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A direção do partido mantém-se em silêncio e os contestatários afirmam que a formação política "vai mal". Reprovam, sobretudo, o comportamento do partido no atual cenário político e social do país.
O Movimento de Salvação do PRS em Memória de Kumba Ialá, antigo líder do partido, enumerou várias alegadas falhas da direção do grupo político.
O movimento, composto por dirigentes históricos do partido no poder, questiona a não realização do congresso daquela formação política. E ameaça avançar com a subscrição dos membros dos órgãos do partido para obrigar a marcação da data para a escolha do novo líder.
O porta-voz do grupo contestatário, Alqueia Tambá, critica ainda o papel do partido no país.
"Imagine: um partido que quer,governar não sabe que tem que criar condições para que haja escola, saúde e para que as populações durmam bem nas suas casas”, disse à DW África Tambá para que aponta a ocorrência no país de "raptos e violações dos direitos humanos de todas as formas”.
PRS em silêncio
A direção do Partido da Renovação Social recusou reagir às declarações do Movimento que disse à DW África desconhecer.
Em conversa não gravada um dos vice-presidentes do PRS afirma que as declarações feitas sobre o partido, "só vinculam a quem as proferiu”.
Mas para o analista político, Luís Peti, os contestatários devem ser levados a sério, porque, "o PRS é um partido que está no Governo e tem uma expressão política muito forte”.
Por outro lado, adianta Peti "[o partido] não deve desprezar e nem menosprezar as opiniões e as críticas que vêm de qualquer quadrante que seja, no sentido de melhorar a sua conduta e de poder contribuir ainda mais para o cenário político e governativo do país”.
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Congresso suspenso devido à "Covid-19”
O PRS suspendeu a realização do seu sexto congresso, que deveria ter tido lugar entre 16 e 19 de setembro, justificando a decisão com a pandemia da Covid-19 e o Estado de Calamidade em vigor na Guiné-Bissau.
A direção, que entrou em caducidade, está, neste momento, em busca de consenso com os candidatos à liderança do partido para a marcação da nova data do congresso.
O jurista Cabi Sanhá considera que a direção dos "renovadores” está agora com poderes limitados:
"É verdade que os órgãos dirigentes caducos normalmente não devem tomar grandes decisões, decisões de fundo”, diz o jurista.
Mesmo assim, diz Cabi Sanhá "isso não impede que esses órgãos continuem a fazer uma gestão corrente dos assuntos do partido”.
O partido da Renovação Social, que em seis eleições legislativas realizadas na Guiné-Bissau, desde 1994, ganhou uma, partilha a governação do país com o Movimento para Alternância Democrática (MADEM G-15) e Assembleia do Povo Unido-Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), no âmbito de uma aliança parlamentar.
Presidenciais: Futuro da Guiné-Bissau adiado para segunda volta
Domingos Simões Pereira e Umaro Sissoco Embaló disputam segunda volta das presidenciais na Guiné-Bissau, a 29 de dezembro. Balanço da primeira volta das eleições feito pela CPLP, CEDEAO e União Africana é positivo.
Foto: DW/B. Darame
Domingos Simões Pereira vs Umaro Sissoco Embaló
Domingos Simões Pereira foi o vencedor das presidenciais na Guiné-Bissau, no entanto, não alcançou a maioria necessária para assumir o poder. O candidato apoiado pelo PAIGC conseguiu 222.870 votos, o que representa 40,13% do eleitorado. Seguiu-se Umaro Sissoco Embaló, do MADEM-G15, com 153.530 votos, ou seja, 27,65%.
Foto: DW/B. Darame
Medalha de bronze para Nabiam
Em terceiro lugar ficou Nuno Nabiam, com 13,16% dos votos. Seguiu-se José Mário Vaz, com 12,41%, Carlos Gomes Júnior, com 2,66%, e Baciro Djá, com 1,28% do eleitorado. Vicente Fernandes conseguiu 0,77% dos votos, Mamadu Iaia Djaló 0,51%, Idriça Djaló 0,46% e Mutaro Intai Djabi 0,43% dos votos. Os candidatos que obtiveram os piores resultados foram Gabriel Fernando Indi e António Afonso Té.
Foto: picture alliance/dpa
PAIGC pede apoio de APU e FREPASNA
Segue-se agora a segunda volta, marcada para 29 de dezembro. Domingos Simões Pereira, do PAIGC, já pediu o apoio aos partidos APU-PDGB e FREPASNA. DSP disse aceitar e respeitar os resultados eleitorais divulgados e deixou um recado a Sissoco Embaló: que na campanha para a segunda volta, não serão tolerados discursos de divisão dos guineenses: "serão atacados judicial e politicamente", disse.
Foto: DW/B. Darame
MADEM-G15 conta com apoiantes de Jomav
Por sua vez, Umaro Sissoco Embaló disse confiar na vitória na segunda e voltou a fazer acusações ao adversário Domingos Simões Pereira. "A Guiné-Bissau era um país laico e de concórdia nacional, Domingos Simões Pereira semeou o ódio e a divisão entre os guineenses". Embaló já havia anunciado, antes da primeira volta, que existia um acordo entre vários partidos contra DSP, em caso de segunda volta.
Foto: Privat
Grande derrotado
O antigo chefe de Estado da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, é já considerado o grande derrotado das presidenciais. Jomav, que concorreu como independente às eleições de 24 de novembro, ficou em quarto lugar na votação, atrás de Domingos Simões Pereira, Umaro Sissoco Embaló e Nuno Nabiam. O ex-Presidente conseguiu apenas 12,41% dos votos.
Foto: DW/B. Darame
Votação ordeira
A votação de 24 de novembro foi acompanhada por 23 observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), 54 da União Africana, 60 da CEDEAO e 47 dos Estados Unidos da América. Todos elogiaram a "calma" e "serenidade" do processo.
Foto: picture-alliance/Xinhua News Agency
Votação "transparente"
Também a CNE deu nota positiva ao processo, dando conta de que não foram registados incidentes que possam comprometer a votação. Nestas eleições, nenhum dos 12 candidatos apresentou contestações ao processo de votação. Já na véspera das eleições presidenciais, Felisberta Moura Vaz, porta-voz da CNE, havia garantido à DW que o sistema eleitoral no país "é tão transparente que não permite fraude".
Foto: DW/B. Darame
Monitorização da sociedade civil
As eleições presidenciais, assim como aconteceu nas legislativas, voltaram a contar com o trabalho da Célula de Monitorização Eleitoral da Sociedade Civil. Após a votação, a plataforma deu nota positiva ao dia eleitoral, salientando que tudo "decorreu conforme o previsto". A rede contou com 422 observadores em todas as regiões da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Doze candidatos
Durante a campanha eleitoral, foram muitas as críticas feitas aos considerados fracos discursos e programas de governação apresentados. Em entrevista à DW, a Rede Nacional das Associações Juvenis considerou que alguns candidatos deixavam muito a desejar e que outros "confundem os poderes do Presidente da República com os do Executivo nas promessas eleitorais que fazem nos comícios".
Foto: DW/B. Darame
Jomav demite governo
A campanha para as presidenciais ficou marcada pela nomeação, por parte de José Mário Vaz, de um novo Governo liderado por Faustino Imbali, que foi recusado pela comunidade internacional, e que acabou por se demitir pouco tempo depois. O próprio Jomav disse-se desautorizado pelas forças de segurança, que não facilitaram a efetivação do decreto presidencial que ditou esta nomeação.