Nova data das legislativas só depois do recenseamento
14 de novembro de 2018
Presidente da Guiné-Bissau reuniu-se esta quarta-feira (14.11) com partidos políticos, sociedade civil e Conselho de Estado, mas não fixou a data das eleições. Nesta quinta-feira, discute a situação do país com a CEDEAO.
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Em Bissau, a nova data para a realização das eleições legislativas é ainda a grande incógnita, apesar das várias reuniões entre os atores políticos da Guiné-Bissau para fixar uma data que reúna consenso e que respeite as leis do país.
Na sequência de mais um impasse interno, o Presidente em exercício da Conferência dos Chefes de Estados da Comunidade Económica de Estados da Africa Ocidental (CEDEAO), Muhammadu Buhari, chefe de Estado da Nigéria, reúne-se com José Mário Vaz, nesta quinta-feira (15.11), em Abuja, na Nigéria.
O prolongamento do recenseamento até dia 20 de novembro, próxima terça-feira, para que cumpra com o prazo de 60 dias previstos na lei eleitoral acaba por adiar as eleições ainda "oficialmente” marcadas para o próximo domingo (18.11).
A nova data do pleito deverá ser fixada por decreto presidencial.
Nova data só após o recenseamento
Após uma maratona de reuniões no Palácio da República, José Mário Vaz deixou a entender aos atores políticos que só irá fixar uma nova data para as legislativas, quando terminar o recenseamento eleitoral, na próxima terça-feira, dia 20 de novembro, disse aos jornalistas à saída do encontro o presidente do PAIGC, Domingos Simões Pereira.
"Tivemos algumas dificuldades em compreender os propósitos desta reunião, mas pareceu-nos que a ideia foi no sentido de dizer-nos que não há condições de marcar eleições até que o processo de recenseamento seja melhor definido. Aceitamos esse princípio. Tentamos encorajar o Presidente da República a compreender que, um Estado só é considerado normal quando cumpre os seus dispositivos constitucionais”, disse o líder do PAIGC.
Para Simões Pereira, antigo primeiro-ministro demitido por José Mário Vaz em 2015, a não realização das eleições ainda este ano poderia pôr em causa a própria soberania do país. O líder do PAIGC lamenta aquilo que considera ser um "permanente esforço no sentido de se encontrar razäoes para pôr em causa os prossupostos básicos de um Estado democrático de direito".
O vice-presidente do Partido da Renovação Social (PRS), Certório Biote, disse que o seu partido está disponível em concordar com a opinião da maioria e congratula-se com a iniciativa do Presidente em ouvir os partidos antes da reunião com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.
Criar bom clima de entendimento
O porta-voz do Conselho de Estado, órgão consultivo do Presidente, Vítor Mandinga, encoraja o chefe de Estado guineense, José Mário Vaz, a prosseguir com as consultas para criar um clima de diálogo entre o Governo e as forças políticas e daí remarcar a data das eleições.
"O Presidente teve, da parte dos conselheiros, o encorajamento para exatamente criar um clima de diálogo entre as forças políticas e o Governo para que se estabeleçam as relações de forma mais aberta, para permitir terminar a muito breve o recenseamento eleitoral e finalmente remarcar as eleições dentro dos prazos legais, com a participação de todas as forças politicas", afirma Mandinga aos jornalistas.
Vítor Mandinga disse que há uma opinião generalizada para que seja uma data próxima e, contudo, não precisou o mês que seria ideal.
O primeiro-ministro, Aristides Gomes, também membro do Conselho de Estado, já havia dito que apresentou ao Presidente quatro cenários possíveis para a realização do escrutínio: 16, 20 e 30 de dezembro deste ano ou 27 de janeiro de 2019.
Puxar a vida numa carreta na Guiné-Bissau
Abandonaram os seus países de origem em busca de melhores condições. Pela falta de alternativas que muitas vezes encontram, muitos jovens sujeitam-se a trabalhos pesados e puxam carretas para sustentar as famílias.
Foto: DW/B. Darame
Em busca de um sonho
São carretas como estas que sustentam várias famílias dos guineenses da Guiné-Conacri. Lamine Sissé, um jovem da etnia mandinga de 26 anos, conta que com a sua carrinha "Hummer" - como a apelida - conseguiu poupar dinheiro suficiente para financiar o seu casamento no seu país. Lamine diz que apesar dos guineenses não aceitarem bem esta forma de rendimento, o seu trabalho é digno e rentável.
Foto: DW/B. Darame
Deixar tudo para trás
Abubacar Jáquete nasceu na região de Boke na Guiné-Conacri, próximo da fronteira com a Guiné-Bissau. Tem 27 anos e deixou uma esposa e quatro filhos para trás. Quando emigrou, pretendia encontrar trabalho na construção, mas o objetivo falhou. Decidiu, então, trabalhar como empregado de carreta. Levanta-se muito cedo todos os dias, e carrega sob sol e chuva, todos os tipos de mercadoria.
Foto: DW/B. Darame
A carregar pela rua
Abandonam os seus países de origem em busca de melhores condições que lhes permitam construir um futuro mais sólido. Pela falta de alternativas que muitas vezes encontram, estes jovens sujeitam-se a trabalhos pesados, que exigem muito esforço físico.
Foto: DW/B. Darame
A desordem que dificulta
A maioria das pessoas que se dedicam a este trabalho são originais da Guiné-Conacri, país vizinho da Guiné-Bissau. O preço para transportar a carga varia entre os 5 e os 10 euros, dependendo da distância percorrida e do volume da carga. Contudo, enfrentam grandes dificuldades neste transporte, nomeadamente nas subidas e nas estradas desorganizadas de Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Puxando nas ruas de Bissau
Os citadinos da capital acabam por recorrem ao transporte de cargas através de carretas por falta de alternativas. Fazem-no porque o transporte é barato e também porque estes carros de mão conseguem circular em zonas de difícil acesso.
Foto: DW/B. Darame
Cargas inimagináveis
Muitos destes homens chegam a carregar uma tonelada de mercadoria. Levam consigo quase tudo, desde sacas de arroz, caixas de cerveja, ferros, cimentos, imóveis para casas. Transportam essas cargas pela berma da estrada, por mais de duas dezenas de quilómetros, entre viaturas e pessoas.
Foto: DW/B. Darame
Reabastecer o comércio
Em diferentes recantos da capital estes meios de transporte assumem o caráter de pronto-socorro. Os grandes e os pequenos comerciantes usam-nas para transportarem as mercadorias para o interior das suas lojas.
Foto: DW/B. Darame
Transportadores de água em crises
Em tempos de crise de água em Bissau, os citadinos recorrem aos transportadores de carretas para transporte de bidões de 50 litros de água. Bacar Mané, pai de 7 filhos, chegou a transportar cerca de 100 bidões de 50 litros para mais de quatro bairros periféricos, prefazendo cerca de 20 quilómetros por dia.
Foto: DW/B. Darame
Nem todas as carretas são iguais
Pela diferença de dimensão que as carretas têm, percebe-se que existem dois tipos destes carros de mão em Bissau. Um, o mais comum, é utilizado nos trabalhos de obra e assegura o transporte de pequenos produtos. Outro (na imagem), com uma estrutura mais rigída, tem rodas de viatura ligeira e ferros cruzados, para transporte de cargas mais pesadas e de maior volume.
Foto: DW/B. Darame
A entrega
O último passo do transporte é a respetiva entrega da mercadoria aos seus destinatários. Atualmente, mais de mil jovens dedicam-se a esta atividade no país.
Foto: DW/B. Darame
E tudo recomeça na manhã seguinte
Os jovens aguardam pacientemente pelos fornecedores que irão descarregar os seus produtos nos armazéns, situados na principal avenida de Bissau. Às 7 horas da manhã, inundam paragens de transportes coletivos, portos e mercados informais. Vão cedo para garantirem entregas e trabalho para o dia que se avizinha.