Guiné-Bissau: Novo primeiro-ministro esta terça-feira?
Braima Darame (Bissau)
29 de janeiro de 2018
Tudo indica que o Presidente guineense poderá nomear já esta terça-feira o novo chefe do Governo, o sexto no espaço de três anos. José Mário Vaz vai auscultar os partidos políticos e reunir-se com o Conselho de Estado.
Publicidade
O chefe de Estado guineense vai auscultar esta terça-feira (30.01) os partidos políticos com assento parlamentar, logo nas primeiras horas do dia, e à tarde, pelas 16:00, reúne-se com o Conselho de Estado, avançou à DW África fonte da presidência da República.
A reunião do Conselho de Estado - órgão de consulta do Presidente da República, cujo parecer não é vinculativo - contará com a presença de titulares dos órgãos de soberania, líderes de partidos com assento parlamentar e representantes das bancadas no Parlamento. Têm ainda assento no órgão alguns conselheiros indicados pelo chefe de Estado.
Acabado de regressar da Etiópia, onde participou em reuniões da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Africana (UA), José Mário Vaz prometeu anunciar esta semana o nome do novo chefe de Governo, que terá como missão organizar eleições legislativas dentro do calendário eleitoral.
O Presidente guineense afirmou que terão de ser feitos, nos próximos dias, "esforços tremendos" para que o país possa ter um primeiro-ministro que irá formar o seu governo e depois marcar a data das eleições legislativas.
Guiné-Bissau: Novo primeiro-ministro esta terça-feira?
"Nós temos dois problemas na Guiné-Bissau, infelizmente temos que ultrapassá-los, porque faz parte da soberania da nossa terra. Conseguimos vencer o primeiro que é pagar os salários com os nossos recursos próprios", afirmou José Mário Vaz.
O chefe de Estado disse ainda que recebeu uma missão do Fundo Monétário Internacional (FMI) que o informou que o seu país é considerado, no conselho de administração do FMI, "um caso de sucesso na gestão de finanças públicas", sublinhando que "não é por falta do dinheiro que podia nos impedir de realizar eleições na data prevista".
José Mário Vaz diz que não há entendimento entre os atores políticos sobre a figura que deve ser nomeada primeiro-ministro, no âmbito do Acordo de Conacri. Por isso, como chefe de Estado, vê-se "na obrigação de indicar um nome". Segundo o Presidente, a própria CEDEAO concordou que não existe consenso e pediu aos guineenses que o acompanhem na nomeação que irá fazer.
Congresso do PAIGC
O chefe de Estado reúne-se com os partidos políticos exatamente no dia em que começa o nono congresso do Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
O Tribunal Regional do Norte da Guiné-Bissau já autorizou a realização, a partir desta terça-feira (30.01), do congresso do PAIGC, o principal partido no Parlamento guineense. Ficam, assim, suspensos os efeitos da providência cautelar intentada na semana passada por um grupo de militantes do PAIGC, disseram à agência Lusa fontes judiciais.
À DW África, Domingos Simões Pereira, presidente do partido, já tinha garantido que o congresso teria lugar na terça-feira (30.01). "As nossas estruturas judiciais estão a acompanhar todas as situações, eventualmente pendentes, e estamos tranquilos em fornecer os dados necessários. Portanto, o congresso terá lugar na data prevista", disse Domingos Simões Pereira
Partido em crise
O PAIGC vive momentos de crise interna com militantes e dirigentes divididos - uns apoiam a direção, outros estão alinhados com os 15 deputados expulsos do partido em 2015, acusados de indisciplina partidária.
Os 15 deputados já deixaram claro que não vão participar no Congresso até que todos os militantes suspensos sejam reintegrados no partido. Foi o que disse o coordenador do grupo, Braima Camará, em conferência de imprensa.
Braima Camará explicou que o problema não é dos 15 deputados, mas sim dos dirigentes, quadros e militantes. "A decisão requer um amplo consenso. Estamos disponíveis a reintegrar com todos os camaradas perseguidos e marginalizados pela direção", afirmou o deputado.
O congresso do PAIGC, que tem sido um dos palcos de tensão política no país, decorre até ao próximo domingo (04.02).
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.