Guiné-Bissau: Novo representante da ONU começa funções
Braima Darame (Bissau)
31 de maio de 2018
Novo representante do secretário-geral das Nações Unidas na Guiné-Bissau, José Viegas Filho, quer eleições em clima de democracia e de tranquilidade. Legislativas em novembro ainda são incertas.
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Naquela que foi a sua primeira audiência de trabalho com o Presidente guineense, José Mário Vaz, o diplomata brasileiro e novo representante do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), José Viegas Filho, disse ter ficado impressionado com aquilo que ouviu do chefe de Estado guineense.
"Acabo de ter um encontro com o Presidente da Guiné-Bissau. Fiquei muito bem impressionado com as observações que me fez. Ele também apreciou este contacto com as Nações Unidas, que deve ser visto pela imprensa como um contacto de aproximação, de buscas de meios de cooperação e de confiança no futuro. Este é o resumo que faço do meu encontro com o Presidente", declarou.
Guiné-Bissau: Novo representante da ONU começa funções
Questionado sobre os assuntos que falou com José Mário Vaz, José Viegas Filho disse que discutiram assuntos políticos, económicos, relações internacionais e a realização de eleições.
Sobre as eleições, José Viegas Filho disse que é um "cenário suave, sem nenhuma interrupção, com confirmações das ideias que foram apresentadas até aqui e que é o cenário da tranquilidade, da democracia, das eleições".
Legislativas em novembro?
Nos últimos dias, instalou-se uma acesa discussão sobre a possibilidade dos cartões dos eleitores serem impressos fora da Guiné-Bissau. Algo que, segundo os peritos internacionais, servirá para poupar tempo, dinheiro e garantir eleições a 18 de novembro.
Entretanto, o porta-voz do partido da Renovação Social (PRS), a segunda maior força política, que tem estado a questionar a fiabilidade da proposta para o registo dos eleitores, já veio a público denunciar o que chama de tentativas de fraude antecipada.
Por sua vez, o porta-voz do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), João Bernardo Vieira, disse que o seu partido escolheu o único cenário que permitirá realizar pleito na data fixada pelo Presidente da Guiné-Bissau.
As eleições legislativas estão marcadas para 18 de novembro, mas ainda sem apoio dos parceiros internacionais e sem que se inicie os trabalhos prévios no terreno.
Entretanto, o primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, está em viagem pelos países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), para solicitar intervenção junto à comunidade internacional com o intuito de obter fundos para financiar o processo eleitoral. Segundo comunicado oficial, Aristides Gomes deslocou-se à Guiné-Conacri, Senegal, Costa do Marfim, Nigéria, Gana e Togo.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.