Viver na Guiné-Bissau não está a ser fácil para os jovens. A crise política, a falta de oportunidades e as políticas governamentais para a juventude fazem com que os mais jovens vivam num mar de incertezas.
Publicidade
A Guiné-Bissau tem vivido momentos conturbados por causa de divergências entre os atores políticos que duram há mais de dois anos. Esta crise, que para muitos parece não ter fim à vista, está a comprometer as perpetivas dos jovens para o futuro, por estarem constantemente a adiar os seus planos de vida, precisamente devido às incertezas políticas.
Guiné-Bissau: O país "onde não se pode sonhar"
Muitos jovens guineenses têm sido obrigados a abandonar o país, correndo, muitas vezes, enormes riscos, porque não têm alternativas e os seus problemas não constam como prioridade na agenda política.
Para o jovem Lesmes Monteiro, jurista e membro do Movimento dos Cidadãos Conscientes e Inconformados, a Guiné-Bissau é "um país onde não se pode sonhar". Pode-se fazer planos para a vida e para a família, "mas os acontecimentos políticos, por serem constantes, acabam por afetar toda a planificação para o futuro, principalmente, da camada juvenil", explica.
Lesmes Monteiro afirma ainda que a maior parte dos jovens guineenses está sem perspetivas e sublinha que "o pior nisso tudo, é que a própria juventude não está preparada para a mudança, para assumir o papel dos agentes de transformação da sociedade".
Sem "cunha política" não há emprego
Encontrar trabalho para um jovem na Guiné-Bissau não é tarefa fácil, a não ser que tenha uma "cunha politica” e faça parte de um partido político, diz o presidente da Associação de Jovens Unidos para o Desenvolvimento Plubá II. Edvaldo Correia lamenta estar a viver num país onde a juventude não é prioridade dos políticos e onde tudo que é programado por jovens é "defraudado", o que torna a vida dos mais novos cada vez mais difícil.
Edvaldo Correia explica que muitos jovens que acabam a formação estão a andar de um lado para outro sem perspetiva de vida. "Quem não tiver uma cunha política, não se consegue enquadrar", afirma.
O líder juvenil acrescenta que a classe política gueneense não se tem preocupado e investido na juventude, o que impede muitos de darem o seu contributo para o desenvolvimento do país, mesmo estando em condicoes de o fazer. Do seu ponto de vista, os políticos da Guiné-Bissau "simplesmente remetem os jovens ao esquecimento".
Por seu lado, o membro do Movimento dos Cidadãos Conscientes e Inconformados, Lesmes Monteiro, assegura também que a juventude guineense não consta na agenda dos políticos e só ganha importância apenas em épocas eleitorais.
A Guiné-Bissau é um dos países de língua portuguesa com maior número de jovens. Um relatório do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) intitulado "Acedendo ao Estado da População Mundial - 2017", aponta que 41% da população é composta por jovens.
Puxar a vida numa carreta na Guiné-Bissau
Abandonaram os seus países de origem em busca de melhores condições. Pela falta de alternativas que muitas vezes encontram, muitos jovens sujeitam-se a trabalhos pesados e puxam carretas para sustentar as famílias.
Foto: DW/B. Darame
Em busca de um sonho
São carretas como estas que sustentam várias famílias dos guineenses da Guiné-Conacri. Lamine Sissé, um jovem da etnia mandinga de 26 anos, conta que com a sua carrinha "Hummer" - como a apelida - conseguiu poupar dinheiro suficiente para financiar o seu casamento no seu país. Lamine diz que apesar dos guineenses não aceitarem bem esta forma de rendimento, o seu trabalho é digno e rentável.
Foto: DW/B. Darame
Deixar tudo para trás
Abubacar Jáquete nasceu na região de Boke na Guiné-Conacri, próximo da fronteira com a Guiné-Bissau. Tem 27 anos e deixou uma esposa e quatro filhos para trás. Quando emigrou, pretendia encontrar trabalho na construção, mas o objetivo falhou. Decidiu, então, trabalhar como empregado de carreta. Levanta-se muito cedo todos os dias, e carrega sob sol e chuva, todos os tipos de mercadoria.
Foto: DW/B. Darame
A carregar pela rua
Abandonam os seus países de origem em busca de melhores condições que lhes permitam construir um futuro mais sólido. Pela falta de alternativas que muitas vezes encontram, estes jovens sujeitam-se a trabalhos pesados, que exigem muito esforço físico.
Foto: DW/B. Darame
A desordem que dificulta
A maioria das pessoas que se dedicam a este trabalho são originais da Guiné-Conacri, país vizinho da Guiné-Bissau. O preço para transportar a carga varia entre os 5 e os 10 euros, dependendo da distância percorrida e do volume da carga. Contudo, enfrentam grandes dificuldades neste transporte, nomeadamente nas subidas e nas estradas desorganizadas de Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Puxando nas ruas de Bissau
Os citadinos da capital acabam por recorrem ao transporte de cargas através de carretas por falta de alternativas. Fazem-no porque o transporte é barato e também porque estes carros de mão conseguem circular em zonas de difícil acesso.
Foto: DW/B. Darame
Cargas inimagináveis
Muitos destes homens chegam a carregar uma tonelada de mercadoria. Levam consigo quase tudo, desde sacas de arroz, caixas de cerveja, ferros, cimentos, imóveis para casas. Transportam essas cargas pela berma da estrada, por mais de duas dezenas de quilómetros, entre viaturas e pessoas.
Foto: DW/B. Darame
Reabastecer o comércio
Em diferentes recantos da capital estes meios de transporte assumem o caráter de pronto-socorro. Os grandes e os pequenos comerciantes usam-nas para transportarem as mercadorias para o interior das suas lojas.
Foto: DW/B. Darame
Transportadores de água em crises
Em tempos de crise de água em Bissau, os citadinos recorrem aos transportadores de carretas para transporte de bidões de 50 litros de água. Bacar Mané, pai de 7 filhos, chegou a transportar cerca de 100 bidões de 50 litros para mais de quatro bairros periféricos, prefazendo cerca de 20 quilómetros por dia.
Foto: DW/B. Darame
Nem todas as carretas são iguais
Pela diferença de dimensão que as carretas têm, percebe-se que existem dois tipos destes carros de mão em Bissau. Um, o mais comum, é utilizado nos trabalhos de obra e assegura o transporte de pequenos produtos. Outro (na imagem), com uma estrutura mais rigída, tem rodas de viatura ligeira e ferros cruzados, para transporte de cargas mais pesadas e de maior volume.
Foto: DW/B. Darame
A entrega
O último passo do transporte é a respetiva entrega da mercadoria aos seus destinatários. Atualmente, mais de mil jovens dedicam-se a esta atividade no país.
Foto: DW/B. Darame
E tudo recomeça na manhã seguinte
Os jovens aguardam pacientemente pelos fornecedores que irão descarregar os seus produtos nos armazéns, situados na principal avenida de Bissau. Às 7 horas da manhã, inundam paragens de transportes coletivos, portos e mercados informais. Vão cedo para garantirem entregas e trabalho para o dia que se avizinha.