Guiné-Bissau: Organizações preocupadas com tráfico de droga
Iancuba Dansó (Bissau)
6 de setembro de 2019
Operação da PJ voltou a levantar questões sobre a situação de segurança na Guiné-Bissau. Oposição culpa Governo pela falta de controlo no combate às drogas. Mas Governo nega e entende acusação como oportunismo.
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Foi a maior apreensão de cocaína da história da Guiné-Bissau. No âmbito da operação "Navarra", a Polícia Judiciária (PJ) guineense apreendeu na segunda-feira (02.09), nos setores de Canchungo e Caió, no norte do país, quase duas toneladas de cocaína. Em março, a PJ já tinha apreendido 800 quilos de droga numa outra operação.
A "nova onda” de tráfico de droga no país está a preocupar a sociedade civil. Abílio Aleluia Lopes, secretário-executivo do Observatório Guineense da Droga e Toxicodependência, alerta que, quanto mais aumenta o tráfico, mais aumenta o consumo, principalmente entre os jovens.
"Maior apreensão de sempre" de cocaína na Guiné-Bissau
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"De 2016 a esta parte, na Guiné-Bissau, os jovens entraram na dinâmica de consumo de drogas injetáveis. Isso é uma preocupação, porque o sistema de saúde guineense carece de condições para responder a essa nova dinâmica e evolução de consumo de drogas”, explica.
Oposição acusa Governo
A oposição, por sua vez, aponta o dedo ao partido no poder. Djibril Baldé, porta-voz do Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15), maior partido na oposição, responsabiliza o Governo do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) pela falta de controlo no combate às drogas.
"Responsabilizamos o Governo pela deterioração das condições de controlo do território nacional e da ausência da vontade e determinação política em combater o tráfico de drogas e o crime organizado transnacional, que constitui uma ameaça à segurança nacional”.
Guiné-Bissau: Organizações preocupadas com tráfico de droga
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"Acusação infundada"
Em comunicado, o PAIGC lamentou "profundamente a perigosa e infundada acusação, por um determinado partido, numa clara tentativa de aproveitamento político”.
O partido no poder encoraja o Governo e a Polícia a continuarem com os esforços que vão de encontro aos apelos do Conselho de Segurança das Nações Unidas, preocupado com a questão do narcotráfico e do crime organizado, transnacional na Guiné-Bissau.
O Partido de Renovação Social (PRS) acusou, entretanto, o primeiro-ministro, Aristides Gomes, de ser responsável pela introdução de cocaína no país e pediu às instâncias judiciais para lhe instaurarem um processo-crime.
Em outubro de 2018, o Governo guineense deu posse a uma comissão técnica com a missão de elaborar um plano nacional de combate ao tráfico de drogas. Contudo, o fenómeno continua a ser uma ameaça à estabilidade do país, segundo Baite Badjana, secretário-executivo do Fórum Nacional da Juventude e População.
Nas vésperas das eleições presidenciais, preocupado com a origem dos fundos das formações políticas, Badjana pede transparência aos partidos políticos e aos candidatos presidenciais guineenses: "Que não enveredem por financiamentos duvidosos, porque isso acarretará transtornos, do ponto de vista da estabilidade do país. O país, por si só, é débil e, quando abrimos brechas às situações que não ajudem o processo de estabilização, não é bom", advertiu.
Sumos, bolachas e até "bifes" para diversificar rendimento do caju
O caju é a principal fonte de rendimento dos produtores guineenses. A fim de estimular a economia, os produtores de Ingoré uniram-se na cooperativa Buwondena, onde produzem sumo, bolachas e até "bife" de caju.
Foto: Gilberto Fontes
O fruto da economia
Sendo um dos símbolos da Guiné-Bissau, o caju é a principal fonte de receita dos camponeses. A castanha de caju representa cerca de 90% das exportações do país. Este ano, foram exportadas 200 toneladas de castanha de caju, um encaixe de mais de 250 mil euros. A Índia é o principal comprador. O caju poderá trazer ainda mais riqueza ao país, se houver maior aposta no processamento local do produto.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no processamento
Em Ingoré, no norte da Guiné-Bissau, produtores de caju uniram-se na cooperativa Buwondena - juntamos, em dialeto local balanta - para apostar no processamento do caju. Antes, aproveitava-se apenas a castanha, desperdiçando o chamado pedúnculo, que representa cerca de 80% do fruto. Na cooperativa produzem-se agora vários produtos derivados do caju.
Foto: Gilberto Fontes
“Bife” de caju
Depois de devidamente preparado, o pedúnculo, que é a parte mais fibrosa do caju, pode ser cozinhado com cebola, alho e vários temperos. O resultado final é o chamado “bife” de caju.
A partir das fibras, produz-se também chá, mel, geleia, bolacha, entre outros. Ao desenvolverem novos produtos, os produtores diversificam a dieta e aumentam os seus rendimentos.
Foto: Gilberto Fontes
Néctar de caju
Depois de prensadas as fibras do caju, obtém-se um suco que é filtrado várias vezes, a fim de se produzir néctar e sumo. Com 50% desse suco e 50% de água com açúcar diluído, obtem-se o néctar de caju. Este ano, a cooperativa Buwondena produziu quase 400 litros desta bebida.
Foto: Gilberto Fontes
Sumo de caju
O sumo resulta da pasteurização do suco que foi filtrado do fruto, sem qualquer adicionante. Cada garrafa destas de 33cl de sumo de caju custa quase 0.40€. Ou seja, um litro de sumo pode render até 1.20€. O que é bem mais rentável que vinho de caju, produzido vulgarmente na Guiné-Bissau, que custa apenas 0.15€ o litro. Em 2016, foram produzidos na cooperativa quase 600 litros de sumo de caju.
Foto: Gilberto Fontes
Mel de caju
Clode N'dafa é um dos principais especialistas de transformação de fruta da cooperativa. Sabe de cor todas as receitas da cooperativa e só ele faz alguns produtos, como o mel. Mas devido à falta de recipientes, este produziu-se pouco mel de caju. Desde que se começou a dedicar ao processamento de fruta, Clode N'dafa conseguiu aumentar os seus rendimentos e melhorar a vida da sua família.
Foto: Gilberto Fontes
Castanha de caju
Este continua a ser o produto mais vendido pela cooperativa. O processamento passa por várias etapas: seleção das melhores castanhas, que depois vão a cozer, passam à secagem, ao corte e vão à estufa. As castanhas partidas são aproveitadas para a produção de bolacha de caju. Este ano, a cooperativa conseguiu fixar preço da castanha de caju em 1€ o quilo, protegendo os rendimentos dos produtores.
Foto: Gilberto Fontes
Potencial para aumentar produção
A maior parte dos produtos são vendidos localmente, mas alguns são comercializados também em Bissau e exportados para o Senegal. A produção decorre sobretudo entre os meses de março e junho, período da campanha do caju. No pico de produção, chegam a trabalhar cerca de 60 pessoas. Se a cooperativa conseguisse uma arca frigorífica para armazenar o caju, continuaria a produção depois da campanha.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no empreendedorismo
A cooperativa Buwondena aposta na formação a nível de empreendedorismo, para que os produtores possam aumentar o potencial do seu negócio. A cooperativa pretende criar uma caixa de poupança e crédito. O objetivo é que, através de juros, os produtores possam rentabilizar as suas poupanças e apostar noutros negócios.
Foto: Gilberto Fontes
É urgente reordenar as plantações
A plantação de cajueiros é outra das preocupações da cooperativa: uma plantação organizada, com ventilação é fundamental para aumentar a rentabilidade.
Devido ao peso do sector do caju na economia da Guiné-Bissau, todos os anos são destruídos entre 30 e 80 mil hectares de floresta para a plantação de cajueiros. Especialistas defendem uma reordenação urgente das plantações.