Guiné-Bissau: PM pede provas do tráfico de droga no país
Lusa
29 de julho de 2018
Confrontado com recentes declarações do líder do Parlamento sobre o tráfico de droga, Aristides Gomes pede a Cipriano Cassamá que apresente mais dados e estratégias de combate.
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O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, desafiou o líder do Parlamento, Cipriano Cassamá, a apresentar provas e estratégias de combate ao tráfico de droga que disse estar a aumentar no país.
"Nós gostaríamos que essa pessoa que citou [Cipriano Cassamá] ponha à disposição das autoridades nacionais e estrangeiros os dados de que dispõe para que se possa colaborar na resolução do problema", afirmou Aristides Gomes, em declarações aos jornalistas no aeroporto de Bissau, este sábado (28.07), à chegada de uma visita de dois dias à Guiné-Conacri.
Ao discursar numa sessão parlamentar na passada quarta-feira, Cipriano Cassamá, que não citou nomes, disse que o tráfico de droga voltou ao país e pediu que se parasse com o que considera de anarquia na Guiné-Bissau.
"As pessoas devem parar com o negócio de droga. As pessoas têm que parar com anarquia neste país", afirmou Cassamá, que se expressava em crioulo, numa sessão extraordinária no Parlamento, perante deputados.
Sem citar casos concretos e num tom visivelmente irritado, o líder do Parlamento exortou os guineenses a procurarem "outras alternativas para melhor gerir o país", nomeadamente a criação de impostos, ao invés da venda de droga, observou.
Cipriano Cassamá questionou "a quantidade de aviões que chegam ao país", para assinalar a "venda de droga" que, notou, acontece nos últimos tempos.
Tema recorrente
Confrontado com estas declarações, o primeiro-ministro guineense admitiu que "há dificuldades nessa matéria", mas pediu a quem tiver provas que colabore com as autoridades.
"Que eu saiba fui a primeira autoridade da Guiné-Bissau a denunciar, a fazer uma análise e apresentar propostas concretas sobre essa matéria", assinalou Aristides Gomes, sem nunca referir a palavra droga.
O narcotráfico é um tema recorrente na Guiné-Bissau. Em fevereiro do ano passado, numa entrevista exclusiva à DW, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, acusou o Governo guineense de fechar os olhos à entrada de droga no país e apontou o dedo ao Presidente da República, José Mário Vaz, acusando-o "de estar ligado ao negócio do narcotráfico".
Portugal destaca-se no combate à droga
País europeu conseguiu reduzir o consumo de estupefacientes e tem-se tornado uma referência sem declarar guerra contra as drogas, mas adotando medidas como a descriminalização e o envolvimento de grupos de ajuda.
Foto: DW/J. Carlos
De "berço da droga" para a mudança
Há cerca de 15 anos, o bairro do Intendente, em Lisboa, era uma espécie de "berço da droga", depois do desmantelamento do mal afamado Casal Ventoso, em Campolide. A requalificação das ruas e das praças parece ter dado mais garantia de segurança aos que circulam pelo bairro da freguesia de Arroios.
Foto: DW/J. Carlos
Praças renovadas e humanizadas
Quem circula pela Rua do Benformoso ou atravessa a Praça do Intendente, já não sente o clima tão tenso e de insegurança de outrora, em que o uso indiscriminado de droga ao ar livre partilhava espaço com a prostituição, predominantemente praticada por mulheres africanas. Este era um dos becos onde se acomodavam os toxicodependentes.
Foto: DW/J. Carlos
Arte no lugar da droga
Por iniciativa da autarquia local, a pequena Praça Benformoso, na freguesia de Santa Maria Maior, está mais alegre. A arte urbana vai ocupando alguns destes espaços, conferindo-lhes dignidade como lugar de lazer e de encontros. Com a requalificação, passou a designar-se "Bem Formosa Praça".
Foto: DW/J. Carlos
Luta ainda por vencer
Apesar de não ser uma luta vencida, Portugal é referenciado por ter conseguido reduzir o número de mortes por overdose, sendo um dos níveis mais baixos do mundo. O país é apontado como um exemplo também pelo facto de, ao mesmo tempo, baixar o número de toxicodependentes sem que este combate se transformasse numa guerra, a exemplo do que acontece noutras partes do mundo.
Foto: DW/J. Carlos
Realidade despercebida entre turistas
Alguns moradores e proprietários, entre comerciantes, aplaudem as obras feitas pela Câmara Municipal de Lisboa, bem como as medidas para controlar ou sanear o uso de droga a céu aberto. Apesar de mais segurança e de mais policiamento, o problema ainda persiste, embora de forma menos intensa e visível. De certo modo, a realidade passa despercebida entre os turistas.
Foto: DW/J. Carlos
Assistência médica imediata
No entanto, na Rua dos Anjos, que confina com o Largo do Intendente, ainda são visíveis vestígios da toxicodependência. A DW viu uma cidadã a preparar uma dose de produto para se injetar. Mais ao fundo da rua, uma ambulância prestava assistência a uma das vítimas de overdose, prontamente socorrida pelos serviços de emergência médica.
Foto: DW/J. Carlos
Casal Ventoso reconvertido
Muitos consumidores de droga no Intendente eram originários do antigo Casal Ventoso, onde também subsistem casos de consumo, mas mais controlados pelas instituições competentes. Considerado um dos bairros mais problemáticos de Lisboa, o reconvertido Casal Ventoso ainda é hoje alvo de intervenções sistemáticas visando reduzir o estigma e o impacto do consumo de droga nos grupos de risco.
Foto: CRESCER
Intervenção comunitária
A CRESCER, associação não-governamental de intervenção comunitária, não tem mãos a medir. Abraça várias valências no que toca à assistência social. Todas as semanas, as respetivas equipas, constituídas por jovens voluntários, estão no terreno para prestar assistência aos casos mais graves. Apoiam pessoas que usam substâncias legais e ilegais ou que se encontram em situação de vulnerabilidade.
Foto: CRESCER
Criar novas respostas
Apesar dos esforços, que ajudaram a regredir o recurso a substâncias psico-ativas e fazer face à disseminação do HIV/SIDA, "nos últimos anos não se tem criado novas respostas para a problemática da droga", conta o diretor executivo da CRESCER. Américo Nave defende a criação de salas de consumo assistido, como está previsto na lei de 2001, para evitar o consumo a céu aberto.
Foto: DW/J. Carlos
Visibilidade internacional
Desde 2000, as políticas e medidas na área do combate à droga ganharam uma enorme visibilidade no plano internacional. A decisão de descriminalizar o consumo de droga para tratar os toxicodependentes despertou o interesse do Papa Francisco. Tem particular importância o surgimento do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).
Foto: DW/J. Carlos
Impacto da descriminalização
"As pessoas praticavam furtos para sustentar a sua dependência", afirma João Goulão, diretor geral do SICAD, que destaca o impacto que teve a lei sobre a descriminalização do consumo. Além do drama do HIV/SIDA, Portugal tinha cerca de 100 mil utilizadores problemáticos de cocaína, o equivalente a 1% da população portuguesa.
Foto: DW/J. Carlos
Observatório adverte
Contrariando o otimismo das autoridades, o último relatório do Observatório Europeu sobre a Droga e a Toxicodependêcia (OEDT), com sede em Lisboa, diz que Portugal não merece referência especial pelos resultados alcançados, mas adverte que voltou a aumentar o número de mortes por overdose. De acordo com o relatório, diminuiu o número de infetados por HIV/SIDA.