José Mário Vaz, Domingos Simões Pereira e Umaro Sissoco Embaló dirigiram-se à comunidade guineense na capital portuguesa em busca de votos. O Presidente da Guiné-Bissau assinalou que os golpes de Estado no país acabaram.
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A comunidade guineense radicada em Portugal, sobretudo na área da Grande Lisboa, dividiu-se em três grupos de apoiantes esta segunda-feira (14.10) para marcar presença quase na mesma hora na ação de campanha de três dos principais candidatos às eleições presidenciais de 24 de novembro na Guiné-Bissau.
José Mário Vaz e Domingos Simões Pereira partilharam salas diferentes na Universidade de Lisboa, enquanto que Umaro Sissoco Embaló reuniu-se com os guineenses na Amadora, um dos concelhos com maior concentração de cidadãos africanos, entre os quais oriundos da Guiné-Bissau.
Jomav desafiou os guineenses na diáspora a regressarem ao país natal e contribuírem com o seu trabalho, saber e experiência para o esforço do desenvolvimento nacional. Abordado antes pelos jornalistas, o candidato, que ainda acumula o cargo de Presidente da República, recusou-se a falar para a imprensa estrangeira, preferindo comunicar primeiro com a comunidade, à qual se dirigiu em crioulo.
"Vim cá para desafiar a nossa comunidade e pedir-vos para nos ajudarem a compor a terra. Ninguém é mais que ninguém naquela terra. Nós todos somos filhos da Guiné-Bissau. Não temos guineenses de primeira nem temos guineenses de segunda", afirmou.
"Mãos limpas"Numa sala quase repleta da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, José Mário Vaz tratou de desmentir aqueles que diziam que o Presidente não tem apoiantes em Portugal. "Dizem que Portugal está completamente dominado e que José Mário Vaz não tem ninguém cá. Levantem-se e mostrem que afinal tenho cá apoiantes. Nós contamos convosco", acrescentou.
Guiné-Bissau: Presidenciáveis fazem campanha em Lisboa
O candidato, que esteve antes em Espanha, disse que durante cinco anos exerceu uma magistratura de influência. Apresentou-se perante à comunidade como um homem de paz, de mãos limpas e sem sangue, "porque não mandou espancar nem matar ninguém". É um homem, insistiu, que não está envolvido no tráfico de droga nem em atos de corrupção lesivos aos cofres de Estado da Guiné-Bissau.
Jomav fez questão de dizer que nenhum país vai desenvolver-se se não tiver paz, tranquilidade, estabilidade e liberdade, que são os lemas da sua campanha. O Presidente guineense lembrou que entra para a corrida, porque não se sente confortável em estar à frente dos destinos de um país em que os valores da dignidade humana não têm nenhum significado.
É neste ambiente que desvendou ter havido gente que não quis que ele saísse de Bissau, receando um golpe de Estado. "Havia gente preocupada dizendo que eu não devia sair do país, porque está previsto um golpe de Estado na Guiné-Bissau. Nunca! Nós acabamos com golpes de Estado na Guiné-Bissau", sublinhou.
"Virar a página"Na mesma tarde, Domingos Simões Pereira se reunia na Universidade de Lisboa com outro grosso de guineenses, numa sala pequena para o número de apoiantes. O candidato, líder do Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC) disse antes à imprensa que chegou a hora de os guineenses virarem a página.
"Muita coisa mudará. Primeiro, o respeito escrupuloso pelo Estado de direito democrático. A lei tem que estar por cima de nós todos. Depois, o Presidente da República tem que ser o símbolo da unidade nacional e não pode ter comportamentos que se associam a grupos, etnias e religiões", disse.
"O Presidente da República tem que congregar esta moldura e convocar os guineenses para a manifestação e celebração daquilo que nos une, não daquilo que nos desune e nos separa", declarou Domingos Simões Pereira.
Nova esperança
Umaro Sissoco Embaló, que esteve antes na Inglaterra, também explanou sobre o papel do Presidente da República e sublinhou que é preciso dar uma nova esperança aos guineenses. O candidato apoiado pelo Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15) quer refundar o Estado.
"Enquanto primeiro-ministro, viram o que eu fiz. Enquanto Presidente da República, [defendo] o refundamento do Estado, a dignidade do Estado, encorajar o homem guineense para fazer fé à Guiné-Bissau. É isso que eu vim transmitir aqui aos meus irmãos da Guiné-Bissau", afirmou.
O ex-primeiro-ministro sustentou que, se for eleito, vai respeitar e fazer respeitar a Constituição. Essa mensagem foi passada à comunidade guineense em Lisboa, no meio de um forte calor humano, e será enfatizada quando lançar a sua candidatura em Bissau.
Umaro Sissoco Embaló reconheceu, por outro lado, que a diáspora deve participar no processo de desenvolvimento da Guiné-Bissau, com o impulso do Presidente da República.
Farpas e elogios: Frases das eleições na Guiné-Bissau
Principais partidos políticos, sociedade civil e comunidade internacional acompanham de perto contagem de votos na Guiné-Bissau. CNE só divulga resultados na quarta-feira (13.03), mas PAIGC já canta vitória.
Foto: Getty Images/AFP/SEYLLOU
PAIGC
O PAIGC declarou-se, na segunda-feira (11.03), vencedor das eleições legislativas de 10 de março na Guiné-Bissau. O porta-voz do partido João Bernardo Vieira garantiu que o povo conferiu ao PAIGC os destinos do país. No domingo, após votar, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, disse que estas eleições representam "um momento de viragem" para que, na Guiné-Bissau, "o império da lei vingue".
Foto: DW/F. Tchumá
MADEM-G15
Após o anúncio do PAIGC, o Movimento para a Alternância Democrática frisou que ninguém ganhou as eleições com maioria absoluta e que também fará parte do próximo Governo do país. As declarações de Braima Camará no domingo, dia das eleições, foram das mais críticas, pois o líder do MADEM-G15 acusou o primeiro-ministro de "usar dinheiro público para corromper líderes de opinião no dia de reflexão".
Foto: DW/J. Carlos
PRS
O Partido da Renovação Social disse, esta terça-feira, que "é falsa a informação da maioria folgada que o PAIGC sustenta para semear a confusão"."Nenhuma das forças políticas atingiu sequer a barra dos 40 deputados", disse Vítor Pereira. No domingo, depois de votar, Alberto Nambeia, líder do PRS, disse que esta votação constitui um "balão de oxigénio" para o povo, que quer mudanças no país.
Foto: DW/B. Darame
FREPASNA
Baciro Djá considera que era o candidato com mais experiência nestas eleições e, por isso, o justo vencedor. No entanto, esta segunda-feira, o líder do partido Frente Patriótica para a Salvação Nacional (FREPASNA) foi o primeiro a reconhecer a derrota no pleito. "Consideramos que o nosso resultado foi péssimo e a responsabilidade máxima é minha, enquanto presidente do partido", disse.
Foto: Presidency of Guinea-Bissau
Comissão Nacional de Eleições (CNE)
Pouco depois do arranque do pleito, no domingo, José Pedro Sambú, presidente da CNE, disse aos jornalistas que o processo estava a decorrer num "clima de transparência e sem sobressaltos". O mesmo cenário foi reportado pela porta-voz da comissão, ao final do dia. Felizberta Vaz garantiu ainda que os "pequenos problemas" que surgiram foram resolvidos. A CNE divulga os resultados esta quarta-feira.
Foto: CNE
Presidente da República
Em declarações aos jornalistas, depois de votar, no domingo, José Mário Vaz garantiu que os observadores estavam "surpresos" pela positiva com a Guiné-Bissau. O Presidente guineense pediu à imprensa para que passasse lá para fora essa "grande imagem" da Guiné-Bissau como um país onde "não há problemas". "Considero a Guiné-Bissau hoje campeã da liberdade", disse.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
Primeiro-ministro guineense
Também no domingo, o primeiro-ministro guineense disse estar emocionado com a concretização de um processo eleitoral "difícil e intenso", no qual foi "necessária a intervenção da comunidade internacional". Aristides Gomes acrescentou ainda que, apesar das dificuldades, este foi um processo cheio de "pedagogia".
Foto: Präsidentschaft von Guinea-Bissau
Organização das Nações Unidas
David McLachlan-Karr, enviado das Nações Unidas à Guiné-Bissau, tem estado a reportar, com frequência, o ambiente vivido no país nestas eleições, nas redes sociais. Esta segunda-feira, o representante da ONU deu os parabéns à população guineense que, "em todo o país, saiu [às ruas] para votar pacificamente e com muito orgulho cívico".
Foto: DW/B. Darame
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Também a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na pessoa de Luiz Villarinho Pedroso, acompanhou de perto a votação. No domingo, dia da eleição, o chefe da missão da CPLP disse que estas eleições foram um "exercício cívico exemplar", que decorreu com a "maior tranquilidade e normalidade". O balanço preliminar do escrutínio será feito ao longo desta terça-feira (12.03).
Foto: DW/N. dos Santos
CEDEAO
À semelhança da ONU e da CPLP, também a CEDEAO deu nota positiva às eleições guineenses. Numa conferência de imprensa, esta segunda-feira (11.03), Kadré Désiré Ouedraogo, chefe da Missão de Observação da CEDEAO, disse que as legislativas no país decorreram "de forma pacífica e transparente". Acrescentou ainda que espera que "todos [os partidos] aceitem os resultados".
Foto: DW/B. Darame
União Africana
Após o encerramento das urnas na Guiné-Bissau, Rafael Branco, chefe da Missão de Observação Eleitoral da União Africana destacou a forma tranquila com que decorreu o processo e salientou a "participação cívica notável".
Foto: DW/Nélio dos Santos
Liga Guineense dos Direitos Humanos
Também as organizações locais fizeram chegar elogios. À semelhança do que foi dito pela CNE, Augusto Mário da Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, disse ter havido registo de "algumas falhas", mas "que foram imediatamente supridas". Tirando os atrasos na abertura das urnas em algumas mesas e trocas de cadernos eleitorais, "o processo decorreu de forma regular", disse.
Foto: DW/B. Darame
Sociedade Civil
Por último, a Célula de Monitorização do Processo Eleitoral salientou, esta segunda-feira, que "os eleitores compareceram em massa para exercer o seu direito de voto". Este grupo de monitorização das eleições, composto por 420 pessoas, espalhadas por todo o país, saudou também "a boa presença das forças de segurança nos centros de votação observados".