Nigéria pede à Guiné-Bissau que aceite "via constitucional"
Lusa | mjp
16 de dezembro de 2017
Presidente Muhammadu Buhari espera que o chefe de Estado guineense aceite resolver a crise política através da via constitucional, pois a Nigéria necessita que as suas tropas presentes na ECOMIB regressem a casa.
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Segundo o jornal nigeriano Vanguard, a intenção foi manifestada por Muhammadu Buhari ao presidente da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Marcel de Souza, durante um encontro entre os dois, realizado na Vila Presidencial, em Abuja, esta sexta-feira (15.12).
Segundo um porta-voz da Presidência nigeriana, Buhari explicou a Souza que aguarda apenas um relatório formal sobre a crise política na Guiné-Bissau na 52.ª Sessão Ordinária da Conferência de chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, que se realiza este sábado em Abuja, para tomar uma decisão.
"Precisamos que as nossas tropas regressem ao país e espero que o Presidente desse país [José Mário Vaz] aceite a via constitucional para resolver a situação", disse Buhari, segundo o porta-voz presidencial, garantindo, porém, que a Nigéria vai continuar a apoiar os esforços de paz no continente africano.
No entanto, o chefe de Estado nigeriano não explicou a razão por que necessita que os militares que integram a ECOMIB regressem ao país.
A ECOMIB está na Guiné-Bissau desde 2012, na sequência do golpe de Estado que destituiu o Presidente interino guineense Raimundo Pereira e o Governo do então primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior.
Inicialmente, a força de manutenção de paz era composta por 800 militares do Senegal, Nigéria, Togo e Burkina Faso, mas atualmente conta com cerca de quinhentos soldados.
Líderes da CEDEAO convocaram para Abuja os principais atores da crise política na Guiné-Bissau, dos quais pretendem ouvir quais os motivos para o impasse que dura há mais de dois anos.
PR rejeita solução externa
Antes de partir para a Nigéria, o Presidente José Mário Vaz afirmou que não permitirá quaisquer soluções externas para a resolução da crise guineense. De partida para a conferência de líderes da CEDEAO, José Mário Vaz disse aos jornalistas que viajava com "ideias claras" sobre o que iria transmitir aos seus homólogos.
"Vamos participar nesta conferência de chefes de Estado da CEDEAO com a nossa posição clara: Tudo o que possamos dizer lá fora é de que a solução aos nossos problemas tem que partir dos próprios guineenses e cá dentro", observou José Mário Vaz.
Expressando-se em crioulo, para passar melhor a mensagem, como o próprio admitiu, o líder guineense afirmou que não vai "permitir a internacionalização das soluções aos problemas" da Guiné-Bissau.
O analista defende que ´”a melhor solução para o país é ir diretamente para as eleições”, sublinhando a necessidade de haver mediação "por uma componente externa”.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.