Guiné-Bissau: Regala promete continuar a denunciar problemas
Lusa
31 de outubro de 2022
O presidente da União para a Mudança (UM), Agnelo Regala, prometeu continuar a denunciar os "desmandos e as inconstitucionalidades" na Guiné-Bissau, após ter sido reeleito para mais um mandato à frente do partido.
Publicidade
"Vamos continuar a lutar e a denunciar os desmandos e as inconstitucionalidades por um regime ilegítimo e por um Presidente ilegítimo, na medida em que não tomou posse perante a Assembleia Nacional e, portanto, não tem legitimidade, nem sequer para representar a Guiné-Bissau", afirmou Agnelo Regala no final de congresso do partido, que decorreu no domingo (30.10), em Bissau.
Agnelo Regala, cujo partido tem assento na Assembleia Nacional Popular do país, dissolvida em maio pelo Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, foi reeleito para mais um mandato de quatro anos à frente do partido com 261 dos votos dos 272 delegados. "Continuamos a bater nessa tecla porque somos a favor da legalidade democrática", disse.
Afirmando que o partido respeita toda a gente, Agnelo Regala salientou, contudo, que aquilo que a União para a Mudança tiver de denunciar no "interesse da salvaguarda dos valores e dos interesses da Guiné-Bissau" vai continuar a fazer "quaisquer que sejam os riscos".
Ataque pessoal
O deputado sofreu um ataque em maio, quando vários tiros foram disparados contra si junto à sua casa, em Bissau, tendo ficado ferido numa perna.
Em relação às próximas legislativas, que estavam previstas realizar-se em 18 de dezembro, mas que vão ser adiadas, o líder da União para a Mudança disse que a não realização na data prevista "mostra a total incapacidade e incompetência do Governo".
"Aliás, não sei se este regime está interessado em que as eleições aconteçam", afirmou, manifestando preocupação com as dificuldades que o povo está a sentir, o aumento do custo de vida, a ausência de ensino público e as constantes greves no setor da educação e saúde.
Num discurso proferido na abertura do congresso, Agnelo Regala já tinha feito referência ao recente "escândalo da droga apreendida em que surgem acusações sobre o alegado envolvimento em práticas de narcotráfico de altas figuras do Estado guineense".
"Infelizmente, volta a colar o nosso país ao triste e desonroso epíteto de narcoestado", salientou. "Isto é grave e preocupante para qualquer guineense", afirmou Agnelo Regala.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.