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Guiné-Bissau: Presidente interino renuncia ao cargo

Lusa | Iancuba Dansó (Bissau) | tms
1 de março de 2020

Cipriano Cassamá alegou que os interesses dos guineenses são superiores aos seus e garantiu que vai retornar ao cargo de presidente do Parlamento. Também denunciou presença militar em mais instituições guineenses.

Foto: DW/B. Darame

O líder do Parlamento, Cipriano Cassamá, que havia sido investido no cargo do Presidente interino, renunciou neste domingo (01.03) ao cargo, alegando estar a receber "fortes e evidentes ameaças" para tomar a decisão e denunciou ainda a invasão dos militares à sede do Parlamento.

Falando a jornalistas na sua residência, Cassamá explicou que depois de ter tomado posse como Presidente interino "tem havido fortes ameaças à integridade física do corpo de segurança" que lhe foi afeto por homens fortemente armados e que também põe em perigo a sua segurança e da sua família.

"Em decorrência destas fortes evidentes ameaças renuncio ao cargo de Presidente interino para que fui investido com todos os efeitos legais em salvaguarda de interesses maiores e voltar ao exercício pleno do cargo de presidente da assembleia", afirmou Cipriano Cassamá na sua residência em Bissau, onde era visível um forte dispositivo de segurança.

Cipriano Cassamá, que garantiu que voltará à presidência do Parlamento, afirmou também que a Guiné-Bissau "não pode estar em confrontações entre as forças vivas e forças militares e para salvaguardar isso e salvar os guineenses das perturbações evidentes, que possam advir, decidi assumir esta responsabilidade para a consolidação da paz e da estabilidade que o povo sempre almejou".

"O povo sofreu muito e continua a sofrer, e o interesse do povo está acima dos meus interesses", salientou Cipriano Cassamá, que pediu também desculpa aos militantes do seu partido, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), liderado por Domingos Simões Pereira que apresentou um recurso de contencioso eleitoral, alegando graves irregularidades eleitorais, e ao povo guineense.

Ameaças dos militares

Em reação à renúncia de Cassamá, o Movimento dos Cidadãos Conscientes e Inconformados (MCCI) condenou as "ameaças" contra o presidente da Assembleia  Nacional Popular e apela ao povo guineense para que em "nenhuma circunstância se deixe intimidar pelo golpista Umaro Sissoco Embaló e o seu grupo, e lutar sempre para colocar os interesses da Guiné-Bissau em primeiro lugar.

Aristides GomesFoto: DW/B. Darame

Por seu turno, Aristides Gomes, que foi demitido do cargo de primeiro-minsitro na sexta-feira (28.02) por Umaro Sissico, afirmou este domingo (01.03) que o país está a assistir a uma "expansão da violência" e que há um "bloqueio total" do país com investidas contra membros do Governo.

"O ponto da situação da Guiné-Bissau é caracterizado por uma expansão da violência. Da violência institucional, da violência contra as instituições, que está a ser concretizada pela ocupação do espaço governamental e do Estado", disse aos jornalistas na sua residência, em Bissau, Aristides Gomes.

Segundo Gomes, o Palácio do Governo está ocupado por militares, bem como vários ministérios localizados no centro da cidade, o Supremo Tribunal, e a Assembleia Nacional Popular.

"Estamos face a uma situação de bloqueio total. Agora há uma segunda fase caracterizada por investidas contra membros do Governo, pessoal, sob pretexto de confiscação de viaturas do Estado", afirmou.

Militares nas ruas de Bissau, na sexta-feira (28.02)Foto: DW/B. Darame

O primeiro-ministro que saiu das legislativas de março do ano passado denunciou também aos jornalistas que elementos do Ministério do Interior estiveram hoje em sua casa a confiscar duas viaturas utilizadas pela sua guarda pessoa.

"Esta manhã apareceram cá indivíduos que disseram que vinham com ordens do Ministério do Interior para levarem as duas viaturas que os meus guardas nacionais utilizam, depois disso estão a ameaçar prender e neutralizar os meus guardas nacionais, pelo que sei, aconteceu a mesma coisa com o presidente da Assembleia Nacional", afirmou.

Incerteza guineense

A situação continua numa indefinição política na Guiné-Bissau. Os cidadãos, que, apesar de tudo, levam uma vida normal nas ruas, estão apreensivos do que poderá acontecer, numa altura em que não há ainda uma posição clara da comunidade internacional sobre os acontecimentos que estão a marcar a Guiné-Bissau desde sexta-feira, depois de Umaro Sissoco ter demitido Aristides Gomes e nomeado Nuno Nabian, que tomou posse no sábado (29.02).

Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor da segunda volta das presidenciais da Guiné-Bissau pela Comissão Nacional de Eleições, tomou posse simbolicamente como Presidente guineense na quinta-feira, numa altura em que o Supremo Tribunal de Justiça ainda analisa um recurso de contencioso eleitoral interposto pela candidatura de Domingos Simões Pereira.

Após estas decisões, registaram-se movimentações militares, com os militares a ocuparem várias instituições de Estado, incluindo a rádio e a televisão públicas, de onde os funcionários foram retirados e cujas emissões foram suspensas. E Cipriano Cassamá tinha tomado posse na sexta-feira como Presidente interino, com base no artigo da Constituição que prevê que a segunda figura do Estado tome posse em caso de vacatura na chefia do Estado.

Artigo atualizado às 15h58 (UTC) deste domingo (01.03) com as reações de Cipriano Cassamá, Aristides Gomes e do MCCI.

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