Guiné-Bissau: Presidente pede "mais rigor" ao Governo
Lusa
13 de janeiro de 2021
Umaro Sissoco Embaló quer "mais eficácia" do Executivo "na gestão da coisa pública", num ano que anuncia como de concórdia nacional e combate à corrupção.
Publicidade
Falando na sessão de apresentação de cumprimentos de novo ano por parte de representantes de vários setores da sociedade guineense, o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, pediu esta quarta-feira (13.01) "mais eficácia na gestão da coisa pública", dirigindo-se aos membros do Governo e às chefias militares. Para o Presidente guineense, "o mundo está de olhos" nos atuais governantes do país, e exortou as Forças Armadas para se manterem, "como republicanas que são" dentro do espírito de rigor, disciplina com as mãos limpas e sem meter medo à população, disse.
Aos elementos do poder judicial, Umaro Sissoco Embalé destacou ser preciso que aquele setor se reconcilie com a sociedade guineense em 2021, e afirmou que não guarda rancor aos juízes do Supremo Tribunal de Justiça, a quem chegou a chamar de bandidos. "Não tenho nada contra os juízes [do STJ], mas houve uma altura em que senti que me queriam proibir aquilo que o povo me deu", disse o chefe de Estado, referindo-se ao posicionamento do Supremo na sequência das disputas judiciais depois das eleições presidenciais de 2019.
O presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Paulo Sanhá, que falou antes de Sissoco Embaló, exortou o poder político a criar condições para que os tribunais possam ter meios de funcionamento para que possam realizar justiça.
O primeiro-ministro, Nuno Nabiam, aproveitou a ocasião para enumerar "alguns ganhos de governação" e disse ainda ser possível fazer mais, mudar a Guiné-Bissau desde que se mantenha o clima de estabilidade no país, frisou.
Publicidade
Subsídios polémicos
Guiné-Bissau: Que lições tirar das últimas presidenciais?
00:20
Fodé Sanhá, presidente do Movimento da Sociedade Civil, falou em nome das organizações da sociedade civil e confissões religiosas, para pedir ao Presidente guineense que tenha em atenção às propostas do Governo apresentadas no Orçamento Geral do Estado para o ano em curso, ainda à espera de serem promulgadas por Sissoco Embaló. Sanhá pediu ao Presidente "que analise bem" as propostas de cinco novos impostos e ainda os subsídios a serem auferidos por titulares de órgãos de soberania,iniciativa que tem sido fortemente criticada no país.
"Ainda não promulguei nada, em termos de leis que aqui foram trazidas", sublinhou Umaro Sissoco Embaló, lembrando que a proposta de subsídios para titulares de órgãos de soberania foi feita em 2018, quando ainda não era chefe de Estado.
"A atribuição de subsídios aos titulares de órgãos de soberania foi feita em 2018, Umaro Sissoco Embalo foi eleito em dezembro de 2019 e entrou em funções em fevereiro de 2020. Tenho as minhas mãos limpas", notou o Presidente guineense. "Até hoje ando com os meus carros, pago a minha internet, vivo na minha casa, o Governo ainda não tem condições para instalar o Presidente da República no palácio, pois aqui não há condições", observou Umaro Sissoco Embaló.
O chefe de Estado disse ainda que não irá dececionar nenhum filho da Guiné-Bissau, que é pela concórdia nacional, pela tolerância religiosa, mas também alguém que se pauta pelas realizações concretas. Aos jovens, Sissoco Embaló pediu que valorizem a cultura e que pratiquem desporto. Dirigindo-se ao presidente da Federação de Futebol, Carlos Teixeira, Embalo prometeu usar a sua influência, junto da Turquia, para dotar o país de, pelo menos, 10 campos com relva sintética.
15 momentos que marcaram o "annus horribilis" de 2020
2020 ficará para sempre conhecido como o ano da pandemia de Covid-19. Entretanto, foi também marcado por momentos-chave a vários níveis - desde a morte de George Floyd, nos EUA, às manifestações em Angola.
Foto: Jacob King/REUTERS
Isabel dos Santos e o caso "Luanda Leaks"
Em janeiro, a empresária angolana foi constituída arguida por alegado desvio de fundos na petrolífera estatal Sonangol. Ao longo do ano, teve arrestadas as suas contas bancárias e participações da NOS em Portugal, testemunhou a nacionalização da sua parte na Efacec e, ainda, viu o hacker português Rui Pinto - fonte dos documentos que levaram ao "Luanda Leaks" - aguardar o julgamento em liberdade.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Metzel
Sissoco Embaló: Tomada de posse "simbólica"
Em fevereiro, Umaro Sissoco Embaló tomou posse como Presidente da Guiné-Bissau à revelia do Supremo Tribunal de Justiça. Estava ainda em curso um contencioso eleitoral interposto pelo opositor Domingos Simões Pereira, que apelidou a tomada de posse de "golpe de Estado". O novo Presidente demitiu o Governo liderado por Aristides Gomes, nomeando o novo Executivo do primeiro-ministro Nuno Nabiam.
Foto: DW/I. Dansó
OMS declara pandemia de Covid-19
Todos os PALOP entraram em estado de emergência depois da declaração da Organização Mundial da Saúde, em março. A pandemia levou ao adiamento de vários eventos mundiais, como os Jogos Olímpicos e o Campeonato Africano das Nações (CAN). Em abril, mais da metade da população mundial estava confinada em casa.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Gonchar
"I can't breathe": A morte de George Floyd
O afro-americano morreu em maio nos EUA, sufocado por um polícia que colocou o joelho sobre o seu pescoço durante durante 8 minutos e 46 segundos. A frase "I can't breathe" ("Não consigo respirar"), proferida por Floyd antes de morrer, tornou-se viral. A morte motivou protestos antirracismo em todo o mundo, levou à vandalização de estátuas coloniais e impulsionou o movimento Black Lives Matter.
Foto: Getty Images/S. Maturen
"Perseguição política" na Guiné-Bissau
Em maio, o deputado Marciano Indi foi sequestrado após ter expressado opiniões que terão desagradado ao Presidente guineense. O ano ficou também marcado pelo rapto e sequestro de vários ativistas, alegadamente por seguranças de Sissoco Embaló. A agitação política levou o ex-primeiro-ministro Aristides Gomes (na foto) a refugiar-se na sede da ONU em Bissau. Gomes fala em "perseguição política".
Foto: DW/B. Darame
Cabo Verde processado por violação dos direitos humanos
O empresário Alex Saab foi detido na ilha do Sal, em junho, mediante mandado de captura dos EUA, que o consideram um testa-de-ferro do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Saab denunciou ter sido torturado na prisão a mando dos EUA. Pela primeira vez, Cabo Verde foi processado por violar direitos humanos no seu território. Em dezembro, a CEDEAO ordenou a prisão domiciliária do colombiano.
Foto: Governo de Cabo Verde
Moção de censura contra Governo de STP
Em julho, o principal partido da oposição são-tomense, a Ação Democrática Independente (ADI), apresentou uma moção de censura contra o Governo do primeiro-ministro Jorge Bom Jesus. A gestão dos fundos contra a Covid-19 foi um dos motivos apresentados pela ADI, que acusou ainda o Executivo de agir com "práticas sistemáticas de ilegalidades". A moção foi rejeitada pelo Parlamento são-tomense.
Foto: DW/R. Graça
Tragédia em Beirute
Em agosto, uma explosão no porto de Beirute, provocada por 2,7 toneladas de nitrato de amónio, devastou grande parte da capital libanesa, provocando mais de 200 mortos e 6.500 feridos. A carga de amónio era uma encomenda da Fábrica de Explosivos de Moçambique e tinha como destino o porto da Beira. Contudo, o navio ficou retido em Beirute por ordem das autoridades locais e a carga foi substituída.
Foto: Getty Images/AFP/STR
"Zenu" condenado no caso "500 milhões"
O filho dos ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, José Filomeno 'Zenu' dos Santos, foi condenado em agosto a cinco anos de prisão por crimes de burla e defraudação, peculato e tráfico de influências. Em causa está uma transferência irregular de 500 milhões de dólares do banco central angolano para a conta de uma empresa privada estrangeira sediada em Londres.
Foto: Grayling
Luta contra a corrupção continua em Angola
Ainda este ano, o empresário Carlos São Vicente ficou em prisão preventiva e o ex-ministro da Comunicação Social Manuel Rabelais (na foto) começou a ser julgado. Ambos são acusados de peculato e branqueamento de capitais. Por outro lado, Edeltrudes Costa, diretor de Gabinete do Presidente João Lourenço, não é alvo de qualquer processo, apesar de alegado envolvimento em escândalos de corrupção.
Foto: Imago/Xinhua
Incêndio na redação do Canal de Moçambique
O editor-executivo do semanário classificou o incêndio ocorrido em agosto nos escritórios do Canal de Moçambique como "atentado terrorista contra liberdade de expressão e de imprensa", acrescentando que "uns são raptados e outros são intimidados". Matias Guente refere-se, por exemplo, ao caso do jornalista Ibrahimo Mbaruco, desaparecido desde abril na província nortenha de Cabo Delgado.
Foto: Adriano Nuvunga/CDD
EI diz ter tomado porto de Mocímboa da Praia
A 11 de agosto, um grupo de homens armados anunciou a tomada do porto da vila de Mocímboa da Praia. O grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ataque. O número de deslocados da província nortenha de Cabo Delgado escalou exponenciamente. Em dezembro, o Governo moçambicano anunciou que pelo menos 560 mil cidadãos tiveram de fugir do conflito.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Biden vence eleições norte-americanas
Novembro foi o mês em que Donald Trump sofreu a derrota nas presidenciais dos EUA. Mas o republicano queixou-se sucessivamente de fraude eleitoral, sem apresentar provas. A Casa Branca terá novos ocupantes: Joe Biden e Kamala Harris, a primeira mulher eleita vice-Presidente dos EUA. Filha de pai jamaicano e de mãe indiana, Harris será também a primeira mulher negra a ocupar o posto.
Foto: Andrew Harnik/Getty Images
Dia da Independência em Angola marcado por manifestações
O dia 11 de novembro foi o mais intenso das manifestações por melhores condições de vida e pela realização das primeiras eleições autárquicas em Angola. A polícia reprimiu o protesto violentamente. A morte do jovem manifestante Inocêncio Matos gerou indignação. Várias pessoas ficaram feridas, incluindo o ativista Nito Alves. Luaty Beirão e outros ativistas foram detidos.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Covid-19: A corrida da vacina
O Reino Unido foi o primeiro país a aprovar a vacina da Pfizer/BioNTech, aplicada pela primeira vez em dezembro. A primeira pessoa a receber a vacina contra a Covid-19 foi uma mulher britânica de 90 anos (na foto). O dia do arranque do programa de imunização foi apelidado de Dia-V, numa clara alusão ao Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial.