Guiné-Bissau: Presidente Sissoco vai dissolver Parlamento
Iancuba Dansó (Bissau) | Lusa
13 de maio de 2022
O presidente da Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau, Cipriano Cassamá, informou que o chefe de Estado vai dissolver o Parlamento. Sissoco está a ouvir os partidos com assento parlamentar.
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A Guiné-Bissau pode estar à beira de mais uma crise política com a iminente dissolução da Assembleia Nacional Popular (ANP) por parte do Presidente Umaro Sissoco Embaló. O líder do Parlamento, Cipriano Cassamá, que esteve reunido com o chefe de Estado, Umaro Sissoco Embaló, esta sexta-feira (13.05), revelou aos jornalistas o teor da conversa.
"Saí de uma audiência com o Presidente da República. Informou-me que vai dissolver o Parlamento. Recebeu uma queixas do poder judicial e também, segundo o que compreendi, parece que há uma crise entre os partidos políticos", afirmou Cassamá.
"Fui consultado, dei a minha opinião. São os poderes que assistem ao Presidente da República nos termos constitucionais. O Parlamento está a fazer o seu trabalho, se o Parlamento vier a ser dissolvido, a comissão permanente assume as suas responsabilidades até à realização de eleições", disse ainda Casamá.
O anúncio acontece um dia depois da exoneração do ministro da Economia, Vítor Mandinga. A decisão serviu para "garantir o regular funcionamento do ministério e por conveniência política", justificou o Presidente.
Encontro com partidos esta sexta-feira
Os encontros com os partidos políticos e presidente do Parlamento acontecem depois críticas públicas à forma como está a ser gerido o envio de uma missão de estabilização da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para a Guiné-Bissau sem informação precisa e sem o Parlamento ser consultado.
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Os chefes de Estado e de Governo da CEDEAO decidiram enviar uma força de estabilização para o país, cujos primeiros elementos já estão no terreno, na sequência do ataque ao Palácio do Governo, a 1 de fevereiro, quando se encontrava a decorrer uma reunião do conselho de ministros com a presença do Presidente guineense e o primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam.
Na quarta-feira, a Assembleia Nacional Popular aprovou a agenda de trabalhos, que inclui a discussão e votação da proposta de revisão da Constituição, proposta pelos deputados, com que Umaro Sissoco Embaló nunca concordou. O debate sobre outro projeto de revisão da lei magna guineense, proposto pelo Presidente, caiu por terra.
Sinal de alerta
À DW África, o professor universitário Miguel Gama, a iniciativa do Presidente da República é um claro sinal de alerta. "Sissoco está a dar passos largos para controlar o país. Já controla o sistema de justiça, temos o caso do congresso do PAIGC que está em banho-maria, temos a interrupção do processo do congresso da UNTG (União Nacional dos Trabalhadores da Guiné), e isso é sinal claro da interferência do poder político sobre o sistema de justiça."
Ao avaliar a eventual decisão do Presidente da República, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, disse que o país está em perigo iminente: "Estamos em vésperas de uma decisão que pode ser trágica para este país. Ele [Umaro Sissoco Embaló], no fim de todas as conversas, tomará a sua decisão, mas penso que ouviu do PAIGC e do seu presidente todas as análises. Nós dissemos muito claramente que nalgumas circunstâncias, esse poder [de dissolver o Parlamento] é tido quase como uma bomba atómica, mas uma bomba atómica não é para ser lançada."
'Não podemos dizer não ao Presidente'
Luís Oliveira Sanca, vice-coordenador nacional do Movimento para Alternância Democrática (MADEM-G15), a segunda maior força política da Guiné-Bissau e um dos partidos que sustentam o atual Governo, diz que não se opõe à dissolução do Parlamento.
"O Presidente da República tem uma visão ampla, mais do que as bancadas [parlamentares] e mais de que os partidos. Pensamos que devemos apoiá-lo para que as coisas corram bem. Não podemos dizer não ao Presidente, podemos, sim, aconselhá-lo, mas não podemos alterar a sua decisão".
As audiências desta sexta-feira são apenas o primeiro passo rumo à dissolução do Parlamento. Na próxima segunda-feira, o Presidente guineense vai reunir o Conselho de Estado, o seu órgão de consulta, depois do qual deverá tomar uma decisão que pode levar à queda da Assembleia Nacional Popular, pela segunda vez na história democrática da Guiné-Bissau, depois do então Presidente Kumba Ialá o ter feito em 2002.
(atualizado às 16.30 horas)
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Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.