Guiné-Bissau: Aristides Gomes será o novo primeiro-ministro
Lusa
15 de abril de 2018
José Mário Vaz vai demitir Artur Silva e nomear o sexto primeiro-ministro do país desde as legislativas de 2014 esta segunda-feira. Chefe de Estado adiantou ainda que legislativas terão lugar em novembro.
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"A fim de evitar mais problemas para o país nos próximos tempos, podemos dizer que o próximo primeiro-ministro será Aristides Gomes", disse o líder guineense. José Mário Vaz falava aos jornalistas no aeroporto de Bissau, à chegada ao país, vindo de Lomé, Togo, onde participou numa cimeira extraordinária da Comunidade Económica de Estados da Africa Ocidental (CEDEAO).
Dez chefes de Estado e de Governo estiveram reunidos em Lomé para encontrar uma solução para a crise política. Durante a cimeira, José Mário Vaz informou os seus homólogos que, após consultas com as forças políticas e sociedade civil, tomou a decisão de nomear Aristides Gomes primeiro-ministro.
Segundo o chefe de Estado, Aristides Gomes vai ser nomeado na segunda-feira e, no mesmo dia, publicará o decreto presidencial para marcar as eleições legislativas para 18 de novembro próximo.
PAIGC de acordo, diz Jomav
O Presidente guineense explicou que o nome de Aristides Gomes foi proposto pelo Partido da Renovação Social (PRS), numa lista com mais duas outras figuras, Martinho Ndafa Cabi, antigo chefe do Governo, e Artur Silva, atual primeiro-ministro, tendo sido retido o de Gomes.
O Presidente guineense frisou que o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), vencedor das últimas eleições legislativas, mas em desavenças com o chefe do Estado há mais de dois anos, concordou com o nome de Aristides Gomes para primeiro-ministro.
José Mário Vaz adiantou que vai assumir as suas responsabilidades e já na segunda-feira demitirá o atual primeiro-ministro, Artur Silva, a quem agradece o trabalho feito, nomeará Aristides Gomes e no mesmo dia anunciará a data das eleições legislativas.
"As pessoas só acreditarão quando começarmos a pôr em prática todos os compromissos assumidos em Lomé", observou o Presidente guineense que pede aos cidadãos para que assumam as diretrizes saídas da cimeira da CEDEAO.
Parlamento reabre na quinta-feira
Apenas faltará que o Parlamento, bloqueado há mais de dois anos devido às divergências entre partidos, seja reaberto, notou José Mário Vaz.
"Não temos outra alternativa, não temos outro caminho. É aceitar, arregaçar as mangas e mãos à obra", vincou o Presidente guineense que acredita ter sido virada hoje uma página na história do país.
Segundo o comunicado final da cimeira, citado pela agência de notícias AFP, o chefe de Estado guineense informou também que os atores políticos decidiram reabrir o Parlamento a 19 de abril para decidir questões relacionadas com a eleição da direção da Comissão Nacional de Eleições e a prorrogação da legislatura.
Os chefes de Estado da CEDEAO "tomaram nota daquelas decisões e datas que farão parte do roteiro" e pediram a "todos os atores para trabalharem para trazer estabilidade ao país".
A Guiné-Bissau vive uma crise política desde a demissão, por José Mário Vaz, em agosto de 2015 do Governo liderado pelo antigo primeiro-ministro Domingos Simões Pereira, do PAIGC, vencedor das legislativas de 2014.
Desde as eleições legislativas de 2014, a Guiné-Bissau já teve seis primeiros-ministros.
O último primeiro-ministro nomeado pelo Presidente foi Artur Silva, um dirigente do PAIGC, que tomou posse a 31 de janeiro, mas que, até ao momento, ainda não tinha apresentado a composição do seu Governo.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.