Guiné-Bissau: PM condena agressões a jornalistas guineenses
Lusa
15 de março de 2021
Nuno Nabiam garante que as autoridades guineenses não têm nada a ver com as agressões a dois jornalistas, ocorridas na semana passada, em Bissau. E diz que o Governo trabalha para "a liberdade do jornalismo" no país.
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"Nós condenamos [este ato] e achamos que a imprensa tem de ser livre, as pessoas têm de se expressar livremente. Portanto, não compactuamos com este tipo de atitudes", disse o chefe do Governo, esta segunda-feira (15.03), em declarações aos jornalistas à margem de uma visita ao concelho de Águeda, no distrito de Aveiro, Portugal.
Em causa estão as agressões ao jornalista Adão Ramalho, da rádio Capital, e ao jornalista e bloguista Aly Silva.
Apesar de não dispor de "informações profundas" sobre estes dois casos, o primeiro-ministro guineense garantiu que "não é o Governo, não são as autoridades oficiais da Guiné-Bissau, que estão por detrás disso".
Pandemia tornou-se justificação para atacar jornalistas
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"Foi manifestado pelo Governo e foi manifestado pela Presidência da República de que se deve fazer investigações para apurar as responsabilidades das pessoas que estão a praticar este tipo de atos", referiu.
Nuno Nabiam reafirmou ainda que o Governo "está a trabalhar no sentido de criar condições para que haja um exercício total de liberdade do jornalismo".
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ONG denuncia violência
Na sexta-feira, a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) denunciou uma "agressão brutal" alegadamente feita por agentes das forças de segurança ao jornalista Adão Ramalho, da rádio Capital, em "pleno exercício de funções".
"Segundo informações recolhidas pelos monitores da LGDH, a vítima estava a ser seguida por um grupo de agentes de segurança desde o aeroporto Internacional Osvaldo Vieira até à sede nacional do PAIGC, onde foi agredida", refere, em comunicado divulgado à imprensa.
Esta agressão ocorreu três dias depois de o jornalista e bloguista guineense Aly Silva ter sido sequestrado e espancado, no centro de Bissau, tendo depois sido abandonado nos arredores da cidade, um caso também denunciado pela LGDH.
Em entrevista na quarta-feira (10.03) à agência de notícias Lusa, Aly Silva denunciou que foi agredido a mando de "pessoas ligadas ao poder", associando-as diretamente ao Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, que já recusou qualquer responsabilidade.
"Novo caminho"
Entretanto, o primeiro-ministro Nuno Gomes Nabiam disse esta segunda-feira (15.03) que o país está num "novo caminho", afirmando que o Governo está a trabalhar para "consolidar a paz e a democracia", criando condições de estabilidade para atrair investimento estrangeiro.
"A Guiné-Bissau é conhecida no mundo por algumas perturbações cíclicas políticas, mas quero aqui garantir que este Governo tudo fará para criar condições necessárias para que o investimento estrangeiro seja garantido e assegurado no nosso país", disse o primeiro-ministro guineense, que está de visita ao concelho de Águeda, no distrito de Aveiro.
Questionado pelos jornalistas sobre as notícias que dão conta do regresso da instabilidade política ao país, Nuno Nabiam garantiu que a situação "está tranquila" e "as coisas estão a funcionar normalmente", afirmando que as divergências existentes "devem ser resolvidas na base do diálogo".
"As pessoas que estão na oposição tentam expor aquilo que por vezes não é a realidade. Quero aqui garantir aos jornalistas que a Guiné-Bissau está num novo caminho. Estamos a trabalhar para consolidar a paz e a democracia e é normal, em qualquer Estado do mundo, que haja situações que têm que ser resolvidas à base do diálogo e a Guiné-Bissau não foge a essa regra", disse o chefe do Governo.
Casamança: Um conflito (quase) esquecido
A região de Casamança, no sul do Senegal, é um foco de conflito há 30 anos - embora oficialmente prevaleça a paz. Com uma nova operação militar, o Exército tem tomado medidas contra os refúgios dos grupos rebeldes.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Nova ofensiva do Exército
No início de fevereiro de 2021, soldados do Governo senegalês participaram numa operação para encontrar rebeldes em Casamança. A região no sudoeste do Senegal é palco de um conflito em ebulição desde os anos 80. Embora ultimamente a situação se mantenha relativamente calma, em janeiro deste ano o Governo lançou uma nova ofensiva contra os refúgios dos rebeldes.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Rebelião sangrenta
O círculo vicioso de violência começou em 1982, quando os líderes do Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MFDC), que até então lutavam pacificamente pela independência da região, foram presos. Nos anos seguintes, o grupo radicalizou-se e, a partir de 1990, recebeu apoio militar vindo de território guineense. Também a vizinha Gâmbia é cada vez mais arrastada para o conflito.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Negociações falhadas
Houve várias tentativas de um cessar-fogo nos anos 90, que não duraram muito tempo, em parte porque o braço armado do MFDC continuou a fragmentar-se. Apesar de várias tentativas do fundador do MFDC, Augustin Diamacoune Senghore, para alcançar um acordo com o Governo do Senegal, só entre 1997 e 2001 centenas de pessoas foram mortas e milhares tiveram de fugir.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Momento histórico
Em abril de 2001, o então Presidente senegalês Abdoulaye Wade (à direita) viajou para Ziguinchor, em Casamança, um ano após a sua tomada de posse. O novo chefe de Estado queria negociar um caminho para a paz com o líder separatista Augustin Diamacoune Senghore (à esquerda), mas como o acordo contornava a questão da autonomia, volta a ser rejeitado pelos rebeldes.
Foto: Seyllou Diallo/AFP
Violência apesar do acordo de paz
Em 2004, o líder rebelde Augustin Diamacoune Senghore (à direita) e o ministro do Interior Ousmane Ngom (à esquerda) assinaram um tratado de paz duradouro. Embora o conflito político estivesse resolvido, alguns grupos de dissidentes do MFDC continuaram a lutar. E a violência em Casamança intensifica-se.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
A paz torna-se uma questão eleitoral
Em 2012, o concorrente Macky Sall venceu as eleições presidenciais contra Abdoulaye Wade. Uma das suas promessas era trazer finalmente a paz a Casamança. Durante a campanha, Macky Sall enviou o popular músico senegalês Youssou Ndour a Casamança.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
Violência latente
Apesar de todos os esforços de paz, a violência continuou nos anos seguintes. Mais recentemente, em 2018, 13 jovens foram mortos e vários ficaram feridos num massacre perto da capital regional de Ziguinchor. Até agora, muitas pessoas deslocadas não regressaram às suas casas por terem medo.
Foto: Seyllou/AFP/Getty Images
Quotidiano em Casamança
Apesar dos recorrentes surtos de violência, os habitantes de Ziguinchor, a principal cidade da região de Casamança, prosseguem a sua vida quotidiana. Com mais de 200.000 habitantes, Ziguinchor é o principal centro comercial de Casamança e uma base importante para o Exército senegalês.
Foto: John Wessels/AFP/Getty Images
Atrás dos rebeldes
Segundo informações oficiais, soldados do Exército já capturaram várias bases rebeldes, incluindo um bunker subterrâneo, durante a última operação militar que arrancou no início de fevereiro de 2021. Desta forma, o Governo espera acabar também com as atividades criminosas através das quais os grupos rebeldes se financiam.