A Missão Integrada da ONU para a Consolidação da Paz e Segurança na Guiné-Bissau foi prolongada até fevereiro de 2020, mas vai ser reduzida após a conclusão do ciclo eleitoral, devendo encerrar até final do próximo ano.
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A decisão consta de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que esteve na quinta-feira (28.02) a analisar a situação na Guiné-Bissau, depois de uma visita realizada ao país entre 15 e 16 de fevereiro.
Na resolução, o Conselho de Segurança decide prolongar a missão por um período de 12 meses até fevereiro de 2020 e reconfigurar a missão, com vista ao seu encerramento no final do próximo ano.
A reconfiguração da Missão Integrada da ONU para a Consolidação da Paz e Segurança na Guiné-Bissau (UNIOGBIS) será feita em três fases, nomeadamente a fase eleitoral, em que se manterá com a atual configuração; a fase posterior às eleições, durante a qual vai começar a ser implementada a agenda de reforma e o plano de transição, e a fase de transição, que prevê a transferência gradual das competências e equipas para o Gabinete da ONU para a África Ocidental.
A terceira fase deverá ser concluída até 31 de dezembro de 2020.
"É tempo de reformatar"
A missão política da ONU na Guiné-Bissau teve início em 1999, após o conflito político-militar, e já teve nove representantes do secretário-geral das Nações Unidas.
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"É tempo, de facto, de reformatar esta missão na Guiné-Bissau. Hoje parece-me evidente que, depois de 20 anos, é preciso refocalizar a missão das Nações Unidas no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável", afirmou Delfim da Silva, embaixador da Guiné-Bissau junto da organização, em entrevista aos serviços de imprensa da ONU.
Segundo o diplomata, depois das eleições, a Guiné-Bissau só precisa de "um grande esforço interno e externo do ponto de vista de mobilização de parcerias internacionais para o desenvolvimento sustentável".
"Este é o foco, quanto a mim, que deve enformar este período de reflexão sobre a nova configuração que vai tomar a missão das Nações Unidas na Guiné-Bissau", disse.
Nações Unidas pedem contenção
Entretanto, o Conselho de Segurança das Nações Unidas exortou os guineenses a absterem-se de ações e afirmações que possam aumentar as tensões e incitar a violência.
Na resolução, o Conselho de Segurança "insta todos os agentes políticos da Guiné-Bissau a esforçarem-se para preservar as frágeis conquistas conseguidas no caminho para a estabilidade do país e reafirma a importância de que o país realize eleições legislativas a 10 de março, assim como eleições presidenciais, que sejam genuinamente justas e livres".
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O Conselho de Segurança exorta "as autoridades da Guiné-Bissau e todas as partes interessadas, nomeadamente Forças Armadas, partidos políticos e sociedade civil, a que estabeleçam um diálogo inclusivo e genuíno e colaborem entre si para consolidar os progressos realizados" e "abordem as causas profundas da instabilidade com especial atenção à dinâmica político-militar, processo de revisão constitucional, ineficácia das instituições de Estado, impunidade, pobreza e falta de acesso a serviços básicos".
A resolução destaca também a "importância da luta contra o tráfico de droga" e pede aos doadores contribuições financeiras para fortalecer o escritório da missão da ONU no país.
O Conselho de Segurança admite também adotar medidas adicionais para responder a "um agravamento da situação na Guiné-Bissau".
A Comunidade dos Económica dos Países da África Ocidental (CEDEAO), que tem mediado a crise política na Guiné-Bissau, admitiu em dezembro, depois de uma reunião de chefe de Estado e de Governo, impor sanções a quem tentar criar obstáculos à realização de eleições no país.
A Guiné-Bissau realiza eleições legislativas a 10 de março e ainda deverá organizar presidenciais até ao final do ano.
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Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.