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Guiné-Bissau: Regime pretende "silenciar vozes críticas"

11 de maio de 2022

Guineenses alegadamente vítimas do Governo do Presidente Sissoco Embaló repudiam, alguns pelo silêncio, ataque contra deputado Agnelo Regala. Para o jornalista Aly Silva, não se anteveem "dias melhores" na Guiné-Bissau.

Cidadão escuta rádio nas ruas de Bissau (Foto ilustrativa)Foto: Andre Kosters/dpa/picture alliance

No dia 12 de março de 2021, cinco homens armados agrediram e tentaram raptar Adão Ramalho, repórter da Rádio Capital FM. Naquele dia, o jornalista guineense cobria o regresso ao país do líder da oposição, Domingos Simões Pereira, então exilado em Portugal. Fontes locais em Bissau asseguraram que os homens que espancaram Ramalho estão ligados à segurança da Presidência da República, na sequência de ameaças anónimas devido ao seu programa matinal "Primeira Hora".

"Nem dava para perceber que havia mesmo pessoas com intenções maléficas, pessoas armadas à paisana e mesmo encapuçadas. Essas pessoas tinham armas militares. Estavam mascaradas. Havia uma pessoa que retirou a máscara. [É] um dos agentes que me agrediu", diz Adão Ramalho.

Com a intervenção da multidão – recorda o jornalista–, os referidos agentes retiraram-se do local e puseram-se em fuga, tendo seguido em direção ao Palácio da República.

O jornalista, neste momento em Portugal, viria a receber assistência médica especializada em Espanha. No entanto, neste seu testemunho à DW, prefere não comentar em particular o caso "Agnelo Regala".

Aly Silva, jornalista guineenseFoto: João Carlos/DW

"Essa situação de raptos, espancamentos de políticos, de adversários, de ativistas de direitos humanos e os próprios jornalistas [e pessoas] de diferentes classes da sociedade guineense deu-se com a assunção ao poder deste regime com um único propósito", frisa, completando: "O de silenciar vozes críticas ou vozes que desvendam situações que comprometam a sua permanência no poder", adverte.

Muitos guineenses "optaram por sair"

Outro jornalista, António Aly Silva, que também em março de 2021 foi sequestrado e espancado em Bissau, diz que a tentativa de assassinato do deputado "não deixa antever dias melhores para o povo da Guiné-Bissau". 

"Dezenas de casos de raptos, de espancamentos, de violação da privacidade dos cidadãos e de humilhação, enfim. Todos os adjetivos hoje são poucos para classificar a situação atual dos guineenses no seu próprio país", frisa. 

"Muitos guineenses optaram por sair da Guiné-Bissau. Uns porque se cansaram e outros por desconfiarem que dias piores estão por chegar", afirma.

Segundo Aly Silva, "os Estados Unidos da América, através da sua delegação na Guiné-Bissau, chamaram já atenção que não estão a gostar do que estão a ver. E nós sabemos por experiência de outros países que quando os Estados Unidos chamam a atenção é melhor ter-se atenção".

A DW tentou ouvir também as reações de Maimuna Bari, uma das vítimas do mais recente ataque armado à rádio Capital FM, e de Sana Canté, ativista guineense raptado e torturado também em março deste ano por homens armados, mas ambos não quiseram para já fazer qualquer declaração pública por uma questão de prudência. Todas estas vítimas tiveram que sair de Bissau em busca de tratamento fora do país, nomeadamente em Portugal e Espanha.

Ana Gomes, ex-eurodeputada portuguesaFoto: João Carlos/DW

Portugal condena violência

Esta semana, o Governo português, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, emitiu uma curta nota a condenar o ato de violência contra o deputado Agnelo Regala, referindo que "o livre exercício da democracia deve ser garantido por um ambiente de segurança e liberdade".

A ex-eurodeputada Ana Gomes, que reagiu a este ataque na sua página no Twitter, diz que "este não é um caso isolado". Afirma que este ato insere-se numa sucessão de atentados aos direitos humanos e às liberdades fundamentais que se tem registado na Guiné-Bissau, particularmente durante o exercício do autoproclamado Presidente Umaro Sissoco Embaló, contra o qual ganhou recentemente um processo judicial interposto em Lisboa pelo chefe de Estado guineense.

"Parece-me particularmente grave que ele tenha sido respaldado pela União Europeia (UE) valendo-se, de resto, da opinião de Portugal. Portugal não deveria ter respaldado – e já o fez repetidas vezes até com a visitas do Presidente da República e do primeiro-ministro à Guiné-Bissau – um indivíduo que, em violação da Constituição, se autoproclamou Presidente da República", critica a socialista.

Ana Gomes adianta, em declarações à DW, que "não basta" a condenação do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal.

"Porque, como digo, este incidente não acontece desgarrado de uma sucessão de graves atentados aos direitos humanos e às liberdades fundamentais na Guiné-Bissau a que vimos assistindo neste período em que Umaro Sissoco Embaló se autoproclamou Presidente da República", lamenta.

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