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Guiné-Bissau: Remodelação não garante coesão ao Governo

Lusa
2 de maio de 2021

O analista político guineense Rui Jorge Semedo considerou que a remodelação do Governo da Guiné-Bissau visa dar mais dinâmica à ação governativa, mas indica igualmente algum mal-estar na aliança que o sustenta.

Amtseinführung der Regierung von Guinea-Bissau nach Ministerwechsel
Novos membros do Governo nomeados pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló Foto: Iancuba Dansó/DW

"A priori, todos devemos considerar a remodelação como uma tentativa de imprimir alguma melhoria na dinâmica do Governo ou governação", disse o analista político guineense, Rui Jorge Semedo.

Mas, salientou, é "preciso ter em conta o próprio contexto político que indica algum mal-estar na própria base do Governo formado por três forças políticas".

O Governo da Guiné-Bissau é sustentado numa aliança formada pelo Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15), Partido da Renovação Social (PRS) e pela Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), que apoiaram a candidatura do atual chefe de Estado à Presidência guineense.

Também, segundo Rui Jorge Semedo, é preciso ter em conta as informações que circulam e que dão conta de uma "suposta afirmação entre o PRS e o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC)".

O PAIGC venceu as eleições legislativas de março de 2019 e chegou a formar Governo com base numa coligação com a APU-PDGB, União para a Mudança e Partido da Nova Democracia.

Logo no início da legislatura, o líder da APU-PDGB, Nuno Nabiam, incompatibilizou-se com o PAIGC e aliou-se ao MADEM-G15, segunda força política do país, com 27 deputados, e PRS, que elegeu 21 deputados.

Após ter assumido a Presidência guineense, Umaro Sissoco Embaló demitiu o Governo do PAIGC e nomeou um outro, liderado por Nuno Nabiam - feito com base numa nova aliança entre o MADEM-G15 e o PRS, que só confirmou a sua maioria no parlamento em julho de 2020 com a aprovação do programa de Governo.

Rui Jorge SemedoFoto: privat

Em busca de sustentabilidade

Na semana passada, tanto o PAIGC, como o PRS vieram negar a realização de uma alegada reunião secreta numa aldeia no norte do país, com a presença de militares, na qual estaria a ser negociado um eventual acordo parlamentar.

"Muito rapidamente houve esta resposta [remodelação do Governo], que tudo indica vai no sentido de dificultar a aproximação entre o PAIGC e o PRS", afirmou Rui Jorge Semedo.

Para o analista político, neste momento, todos os três partidos que compõem a aliança no Governo são o fiel da balança, porque qualquer um a pode abandonar, deixando o Executivo sem base sustentável.

"O Presidente da República, na qualidade daquilo que sempre demonstrou e que disse, que a aliança não será dissolvida, decidiu dar uma resposta e o PRS, que era a ameaça, acabou por sair como quem ganhou com um maior número de pastas em relação ao MADEM-G15 e a APU", salientou.

Futuro imprevisível

A remodelaçãoexonerou 10 ministros e quatro secretários de Estado, reforçou a presença do PRS e incluiu o Partido da Nova Democracia, que antes estava na oposição juntamente com o PAIGC e a União para a Mudança.

Após a remodelação proposta pelo primeiro-ministro, Nuno Nabiam, o novo Governo passar a contar com 20 ministros, dos quais quatro de Estado e 11 secretários de Estado.

"Neste momento não dá para fazer uma previsão. Se essa remodelação vai garantir mais coesão na base do apoio ou se pode servir de elemento destruidor, que vai provocar algum desarranjo na própria base", disse.

O analista considerou que poderá não ter havido uma "negociação entre os integrantes da aliança" e que, provavelmente, só se vai ter "mais noção do que vai acontecer daqui para a frente com a reabertura da sessão parlamentar, onde os partidos se vão posicionar e perceber se a aliança tem pernas para andar".

A sessão do Parlamento da Guiné-Bissau deve ser retomada em 25 de maio.

"Estamos nesta nova situação que ficará mais definida com a reabertura do parlamento", concluiu.

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