Guiné-Bissau: Resgatadas 18 crianças vítimas de exploração
Lusa
26 de abril de 2022
As 18 crianças estavam a ser sujeitas a exploração laboral nos arredores de Bissau. Duas pessoas foram detidas, disseram à Lusa fontes da Associação dos Amigos da Criança e da Polícia Judiciária.
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"Foram resgatadas 18 crianças, entre os oito e os 13 anos, que estavam a ser sujeitas a trabalho numa plantação de caju na zona de Prábis", afirmou Laudolino Medina, secretário-executivo da Associação dos Amigos da Criança (AMIC).
Laudolino Medina explicou que o caso foi identificado por um dos colaboradores da AMIC e o caso foi denunciado à Polícia Judiciária.
"As crianças estão no centro de acolhimento da AMIC" e são quase todas guineenses, com exceção de duas, provenientes da Gâmbia e uma da Guiné-Conacri.
Segundo Laudolino Medina, as crianças talibés, estudante do Corão, foram contratadas por um intermediário através do mestre corânico, que recebia o pagamento pelo trabalho dos menores, que chegavam a apanhar mais de 12 baldes de caju por dia.
Muitas famílias na Guiné-Bissau entregam os seus filhos a falsos mestres corânicos, que os obrigam a mendigar nas ruas e os exploram.
"Estavam em condições deploráveis, mal vestidos, descalços e não estavam bem alimentados", sublinhou Laudolino Medina.
A PJ confirmou à Lusa que foram detidas duas pessoas, nomeadamente o proprietário da plantação e o mestre corânico.
Desde o início do ano, a AMIC já resgatou das ruas mais de 30 crianças, mas a falta de recursos financeiros e apoios está a atrasar uma operação para resgatar mais 77 já identificadas a mendigar nas ruas do Senegal.
"Neste momento, ninguém apoia esta iniciativa e é preciso a mobilização de recursos e a resposta está a ser mais lenta", afirmou.
A dor dos talibés
Entregues pelos pais para serem educados por líderes religiosos, os meninos são agredidos por professores e obrigados a mendigar nas ruas. Escolas corânicas no Senegal são ambiente de sofrimento e exploração infantil.
Foto: DW/K. Gomes
Infância perdida
Nas paredes desta escola corânica, no Senegal, rabiscos contornam figuras de bonecos e estrelas. Aqui, as fantasias de criança convivem com uma realidade amarga. Meninos conhecidos como talibés são separados da família para aprender o Corão.
Foto: DW/K. Gomes
Sem portas nem janelas
Afastada do centro da cidade de Rufisque, no oeste do Senegal, fica esta estrutura abandonada, sem portas nem janelas. Esta madrassa, como é chamada a escola corânica, abriga cerca de 20 crianças entre três e 15 anos de idade. A falta de infraestrutura torna a rotina dos talibés ainda mais penosa.
Foto: Karina Gomes
Desprotegidos
Este é um dos quartos onde os talibés dormem. Não há camas, nem cobertores. E também faltam travesseiros. Os meninos deitam-se sobre sacos plásticos, no chão de areia. Nos dias frios, a maioria fica doente e não recebe tratamento médico adequado.
Foto: Karina Gomes
Aulas sobre o Corão
As crianças são entregues pelos pais aos marabus – poderosos líderes religiosos do país – para terem aulas sobre o Corão. Os professores têm uma reputação social elevada e é a eles que muitas famílias pobres do Senegal e da vizinha Guiné-Bissau confiam a educação dos filhos.
Foto: DW/K. Gomes
Entre livros
Tábuas com palavras em árabe e exemplares do livro sagrado estão espalhados pela madrassa. Os talibés acordam diariamente por volta das cinco da manhã para aprender o Corão. Em coro, recitam repetidamente trechos do livro sagrado.
Foto: DW/K. Gomes
Mendigos
Depois das orações, os meninos são obrigados a pedir dinheiro nas ruas e a conseguir algo para comer. Cada professor estipula uma quantia diária. Se os meninos não conseguem cumprir, são espancados. "Tínhamos de levar dinheiro para sustentar o marabu e a sua família, porque ele vivia disso. Eu sofri muito. Uma vez fui espancado porque cheguei atrasado", conta o ex-talibé Soibou Sall.
Foto: DW/K. Gomes
Amigos de rua
Os talibés vestem-se com roupas velhas e rasgadas e a maioria anda descalça. Chegam a mendigar sete horas por dia pelas ruas de Rufisque. Eles também pedem esmolas perto da estrada que liga a cidade à capital, Dakar. Curiosos, estes dois amigos aproximam-se e pedem para ser fotografados. E sorriem, apesar da rotina dolorosa.
Foto: DW/K. Gomes
Hora da refeição
Sentados no chão de areia, os talibés juntam-se para comer o que conseguiram nas ruas. Hoje têm arroz, vegetais e alguns pedaços de frango para dividir. Há restos de comida espalhados pelo plástico preto. "Gosto de viver aqui. Eu tenho paz", diz Aliou, de 8 anos.
Foto: DW/K. Gomes
Condições degradantes
Nesse espaço comum fica uma espécie de casa-de-banho e há muito lixo no chão. Os meninos andam descalços sobre objetos cortantes. Há chinelos e roupas velhas por toda a parte. Os meninos são constantemente vigiados por adolescentes que foram talibés na infância e auxiliam os professores. Agressões são constantes.
Foto: DW/K. Gomes
Exploração
As escolas alcorânicas surgiram nas zonas rurais do Senegal. Os meninos trabalhavam na lavoura e tinham aulas sobre o Alcorão. Com as constantes secas, os marabus foram forçados a aproximar-se das grandes cidades, como Dakar. Com dificuldades financeiras para sustentar todas as crianças, o incentivo à mendicância infantil tornou-se uma atividade rentável.
Foto: DW/K. Gomes
Sem os pais
Por chegarem muito pequenos às daaras, muitos meninos desconhecem o motivo de terem saído da casa dos pais. Bala, de 11 anos, não vê a mãe há sete anos. "A minha mãe está viva e tenho saudades dela. Estou aqui em Rufisque desde muito pequenino. Depois da escola, eu vou pedir dinheiro", diz. "Preferia viver com os meus pais."