Proposta de lei do Governo que visa gerar empregos para os jovens está parada devido à crise política em Bissau. Associações defendem empreendedorismo contra o desemprego juvenil no país.
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A crise política agrava ainda mais a situação económica da Guiné-Bissau. E a juventude é parte da população mais prejudicada. Cerca de 30% dos jovens – quase 600 mil pessoas – estão desempregados, segundo os dados da Organização Internacional do Trabalho, referentes a 2012, citados pelo Governo guineense na proposta de lei da Política Nacional da Juventude.
Esta proposta foi aprovada no início deste ano pelo Governo, em Conselho de Ministros, porém ainda precisa passar pelo Parlamento. Entretanto, devido ao impasse que persiste no país, e à paralisação da Assembleia Nacional, não se sabe quando esta política para a juventude será implementada.
Para o secretário-geral da Rede Nacional das Associações Juvenis guineense, Seco Duarte Nhaga, a aplicação de uma política para a juventude é necessária para combater o desemprego.
"Essa política vai conter as estratégias do Governo para a erradicação do desemprego. Não há um incentivo. Para que haja um desenvolvimento no setor empresarial, no setor do empreendedorismo, há que haver incentivo. O Estado tem que incentivar os particulares nesse sentido. Os jovens têm muitas dificuldades no acesso ao crédito", afirma Nhaga.
Oportunidade
O desemprego também preocupa o jovem Apatche Có. Sem trabalho e dependente dos pais, ele defende uma reforma profunda na administração pública guineense, como forma de dar oportunidade à juventude.
"Enquanto não houver reformas na Guiné-Bissau, é impossível pensar no emprego jovem, porque no nosso sistema as pessoas trabalham até se cansarem e vão buscar o filho para colocar no seu lugar. Com isso, é impossível que haja emprego jovem".
Apatcha Có questiona-se: "Quem não tem um pai que trabalha na função pública, como é que vai trabalhar depois? Não pode. Isso também obriga muitas pessoas a fugirem para as outras áreas, talvez que não tenham domínio".
Outro problema, segundo Uvi Aviqui, estudante de Língua Portuguesa no Instituto Camões de Bissau, é que muitos jovens desempregados tornam-se mais vulneráveis – sobretudo à corrupção:
"Os jovens, porque não têm espaço onde expor aquilo que têm como ferramenta, acabam por criar uma convulsão social e tornam-se facilmente influenciados, muitas vezes pelos nossos políticos, a fim de se tornarem também corruptos no meio social e passam a promover algumas atitudes que não são adequadas, digamos, do ponto de vista social", preocupa-se.
Desemprego jovens Guiné-Bissau - MP3-Mono
O papel das associações
Neste contexto de crise política e agravamento da crise económica, Nadilé Garcia, secretária-geral da Associação de Jovens de Luanda, bairro periférico de Bissau, diz que o papel das associações juvenis é o de promover o empreendedorismo juvenil no país.
"O papel das organizações juvenis, enquanto grupo que procura a emancipação dos jovens, deve ser concorrer para catalisar projetos sustentáveis que vão promover o empreendedorismo. O empreendedorismo deve ser a corrida neste período por parte das associações juvenis e deve ser a saída perante este grande nível de desemprego".
A DW África tentou, sem sucesso, uma entrevista com o Instituto da Juventude e o Ministro da tutela.
Sumos, bolachas e até "bifes" para diversificar rendimento do caju
O caju é a principal fonte de rendimento dos produtores guineenses. A fim de estimular a economia, os produtores de Ingoré uniram-se na cooperativa Buwondena, onde produzem sumo, bolachas e até "bife" de caju.
Foto: Gilberto Fontes
O fruto da economia
Sendo um dos símbolos da Guiné-Bissau, o caju é a principal fonte de receita dos camponeses. A castanha de caju representa cerca de 90% das exportações do país. Este ano, foram exportadas 200 toneladas de castanha de caju, um encaixe de mais de 250 mil euros. A Índia é o principal comprador. O caju poderá trazer ainda mais riqueza ao país, se houver maior aposta no processamento local do produto.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no processamento
Em Ingoré, no norte da Guiné-Bissau, produtores de caju uniram-se na cooperativa Buwondena - juntamos, em dialeto local balanta - para apostar no processamento do caju. Antes, aproveitava-se apenas a castanha, desperdiçando o chamado pedúnculo, que representa cerca de 80% do fruto. Na cooperativa produzem-se agora vários produtos derivados do caju.
Foto: Gilberto Fontes
“Bife” de caju
Depois de devidamente preparado, o pedúnculo, que é a parte mais fibrosa do caju, pode ser cozinhado com cebola, alho e vários temperos. O resultado final é o chamado “bife” de caju.
A partir das fibras, produz-se também chá, mel, geleia, bolacha, entre outros. Ao desenvolverem novos produtos, os produtores diversificam a dieta e aumentam os seus rendimentos.
Foto: Gilberto Fontes
Néctar de caju
Depois de prensadas as fibras do caju, obtém-se um suco que é filtrado várias vezes, a fim de se produzir néctar e sumo. Com 50% desse suco e 50% de água com açúcar diluído, obtem-se o néctar de caju. Este ano, a cooperativa Buwondena produziu quase 400 litros desta bebida.
Foto: Gilberto Fontes
Sumo de caju
O sumo resulta da pasteurização do suco que foi filtrado do fruto, sem qualquer adicionante. Cada garrafa destas de 33cl de sumo de caju custa quase 0.40€. Ou seja, um litro de sumo pode render até 1.20€. O que é bem mais rentável que vinho de caju, produzido vulgarmente na Guiné-Bissau, que custa apenas 0.15€ o litro. Em 2016, foram produzidos na cooperativa quase 600 litros de sumo de caju.
Foto: Gilberto Fontes
Mel de caju
Clode N'dafa é um dos principais especialistas de transformação de fruta da cooperativa. Sabe de cor todas as receitas da cooperativa e só ele faz alguns produtos, como o mel. Mas devido à falta de recipientes, este produziu-se pouco mel de caju. Desde que se começou a dedicar ao processamento de fruta, Clode N'dafa conseguiu aumentar os seus rendimentos e melhorar a vida da sua família.
Foto: Gilberto Fontes
Castanha de caju
Este continua a ser o produto mais vendido pela cooperativa. O processamento passa por várias etapas: seleção das melhores castanhas, que depois vão a cozer, passam à secagem, ao corte e vão à estufa. As castanhas partidas são aproveitadas para a produção de bolacha de caju. Este ano, a cooperativa conseguiu fixar preço da castanha de caju em 1€ o quilo, protegendo os rendimentos dos produtores.
Foto: Gilberto Fontes
Potencial para aumentar produção
A maior parte dos produtos são vendidos localmente, mas alguns são comercializados também em Bissau e exportados para o Senegal. A produção decorre sobretudo entre os meses de março e junho, período da campanha do caju. No pico de produção, chegam a trabalhar cerca de 60 pessoas. Se a cooperativa conseguisse uma arca frigorífica para armazenar o caju, continuaria a produção depois da campanha.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no empreendedorismo
A cooperativa Buwondena aposta na formação a nível de empreendedorismo, para que os produtores possam aumentar o potencial do seu negócio. A cooperativa pretende criar uma caixa de poupança e crédito. O objetivo é que, através de juros, os produtores possam rentabilizar as suas poupanças e apostar noutros negócios.
Foto: Gilberto Fontes
É urgente reordenar as plantações
A plantação de cajueiros é outra das preocupações da cooperativa: uma plantação organizada, com ventilação é fundamental para aumentar a rentabilidade.
Devido ao peso do sector do caju na economia da Guiné-Bissau, todos os anos são destruídos entre 30 e 80 mil hectares de floresta para a plantação de cajueiros. Especialistas defendem uma reordenação urgente das plantações.