Têm surgido denúncias sobre a alegada existência de extremismo religioso trazido por estrangeiros. O investigador guineense Hamadou Boiro diz que o país é campo fértil para organizações radicais islâmicas.
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O padre Domingos da Fonseca afirma que, tendo em conta as vulnerabilidades da Guiné-Bissau, já alertou as autoridades para este fenómeno do extremismo religioso. De acordo com Domingos da Fonseca, o facto da Guiné-Bissau ser um "país laico" abre portas a "qualquer confissão religiosa, desde que não se torne foco de tensão e de conflito". "Estamos a ser invadidos por muitas confissões religiosas que entram com muito dinheiro. Com que finalidade? Não sabemos", responde.
Para o também presidente da Comissão Organizadora da Conferência Nacional Caminhos para a Consolidação da Paz e Desenvolvimento, é importante que se faça o levamento das confissões religiosas no país, procurando "conhecer a filosofia de cada uma delas". "Os políticos devem estar muito atentos à diversidade religiosa, porque isso pode constituir uma riqueza para o país, como também pode constituir perigo", alerta.
Sociedade suscetível de ser "instrumentalizada”
Hamadou Boiro, investigador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), reconhece que a comunidade islâmica guineense é suscetível de instrumentalização, visto que dispõe de poucos conhecimentos sobre o islão.
Uma realidade que, de acordo com este investigador, faz da Guiné-Bissau um campo fértil para as organizações radicais islâmicas. Os extremistas "vão para uma sociedade, um país, onde há pouco conhecimento sobre o islão", vão "dividir para melhor reinar". No caso específico da Guiné-Bissau, os extremistas "vão ver as divergências entre mandingas e fulas. As duas comunidades são muçulmanas, mas com alguns problemas ligados à história. Eles aproveitam-se desses problemas para os seus fins", explica Hamadou Boiro.
Guiné-Bissau: denúncias sobre extremismo religioso preocupam
Perante estas ameaças, também o antropólogo guineense defende um estudo aprofundado sobre as atividades de seitas islâmicas no país, destacando os ramos xiita e sunita da religião. Paro Hamadou Boir, a não realização deste estudo fará com que o país continue "a navegar nas águas turvas, o que é muito grave".
Atualmente, há pessoas das "etnias muçulmanas, tanto fulas como mandingas e beafadas, que vão estudar o alcorão na Arábia Saudita, Irão ou na Turquia. Se há extremistas que financiam os estudos destas pessoas - tendo em conta que o árabe não é a nossa língua oficial -, qual é o objetivo deste financiamento? Nós temos que saber", afirma Hamadou Boir. O investigador do INEP questiona ainda a proveniência dos fundos que suportam as atividades religiosas no país.
A inquietação sobre o radicalismo religioso na Guiné-Bissau surge depois do alerta de Bubacar Djaló, presidente da União Nacional dos Imãs da Guiné-Bissau. Numa entrevista à agencia de notícias Lusa, Bubacar Djaló afirmou que o radicalismo no país está a ser conduzido por cidadãos estrangeiros provenientes do norte da África e Médio Oriente. Segundo o líder dos imãs guineenses, estes extremistas "aproveitam-se da pobreza e da falta de formação de muitos guineenses" para lhes incutir o radicalismo.
A dor dos talibés
Entregues pelos pais para serem educados por líderes religiosos, os meninos são agredidos por professores e obrigados a mendigar nas ruas. Escolas corânicas no Senegal são ambiente de sofrimento e exploração infantil.
Foto: DW/K. Gomes
Infância perdida
Nas paredes desta escola corânica, no Senegal, rabiscos contornam figuras de bonecos e estrelas. Aqui, as fantasias de criança convivem com uma realidade amarga. Meninos conhecidos como talibés são separados da família para aprender o Corão.
Foto: DW/K. Gomes
Sem portas nem janelas
Afastada do centro da cidade de Rufisque, no oeste do Senegal, fica esta estrutura abandonada, sem portas nem janelas. Esta madrassa, como é chamada a escola corânica, abriga cerca de 20 crianças entre três e 15 anos de idade. A falta de infraestrutura torna a rotina dos talibés ainda mais penosa.
Foto: Karina Gomes
Desprotegidos
Este é um dos quartos onde os talibés dormem. Não há camas, nem cobertores. E também faltam travesseiros. Os meninos deitam-se sobre sacos plásticos, no chão de areia. Nos dias frios, a maioria fica doente e não recebe tratamento médico adequado.
Foto: Karina Gomes
Aulas sobre o Corão
As crianças são entregues pelos pais aos marabus – poderosos líderes religiosos do país – para terem aulas sobre o Corão. Os professores têm uma reputação social elevada e é a eles que muitas famílias pobres do Senegal e da vizinha Guiné-Bissau confiam a educação dos filhos.
Foto: DW/K. Gomes
Entre livros
Tábuas com palavras em árabe e exemplares do livro sagrado estão espalhados pela madrassa. Os talibés acordam diariamente por volta das cinco da manhã para aprender o Corão. Em coro, recitam repetidamente trechos do livro sagrado.
Foto: DW/K. Gomes
Mendigos
Depois das orações, os meninos são obrigados a pedir dinheiro nas ruas e a conseguir algo para comer. Cada professor estipula uma quantia diária. Se os meninos não conseguem cumprir, são espancados. "Tínhamos de levar dinheiro para sustentar o marabu e a sua família, porque ele vivia disso. Eu sofri muito. Uma vez fui espancado porque cheguei atrasado", conta o ex-talibé Soibou Sall.
Foto: DW/K. Gomes
Amigos de rua
Os talibés vestem-se com roupas velhas e rasgadas e a maioria anda descalça. Chegam a mendigar sete horas por dia pelas ruas de Rufisque. Eles também pedem esmolas perto da estrada que liga a cidade à capital, Dakar. Curiosos, estes dois amigos aproximam-se e pedem para ser fotografados. E sorriem, apesar da rotina dolorosa.
Foto: DW/K. Gomes
Hora da refeição
Sentados no chão de areia, os talibés juntam-se para comer o que conseguiram nas ruas. Hoje têm arroz, vegetais e alguns pedaços de frango para dividir. Há restos de comida espalhados pelo plástico preto. "Gosto de viver aqui. Eu tenho paz", diz Aliou, de 8 anos.
Foto: DW/K. Gomes
Condições degradantes
Nesse espaço comum fica uma espécie de casa-de-banho e há muito lixo no chão. Os meninos andam descalços sobre objetos cortantes. Há chinelos e roupas velhas por toda a parte. Os meninos são constantemente vigiados por adolescentes que foram talibés na infância e auxiliam os professores. Agressões são constantes.
Foto: DW/K. Gomes
Exploração
As escolas alcorânicas surgiram nas zonas rurais do Senegal. Os meninos trabalhavam na lavoura e tinham aulas sobre o Alcorão. Com as constantes secas, os marabus foram forçados a aproximar-se das grandes cidades, como Dakar. Com dificuldades financeiras para sustentar todas as crianças, o incentivo à mendicância infantil tornou-se uma atividade rentável.
Foto: DW/K. Gomes
Sem os pais
Por chegarem muito pequenos às daaras, muitos meninos desconhecem o motivo de terem saído da casa dos pais. Bala, de 11 anos, não vê a mãe há sete anos. "A minha mãe está viva e tenho saudades dela. Estou aqui em Rufisque desde muito pequenino. Depois da escola, eu vou pedir dinheiro", diz. "Preferia viver com os meus pais."