Guiné-Conacri aceita transição de dois anos - CEDEAO
Lusa
22 de outubro de 2022
Junta militar que dirige a Guiné-Conacri desde o golpe de Estado, no início de setembro, aceita transição de dois anos para devolver o poder a um Governo civil, anunciou a CEDEAO.
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"Num envolvimento dinâmico, os especialistas da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da Guiné desenvolveram em conjunto um cronograma consolidado para a transição de 24 meses", afirma a organização em comunicado, que não especifica a data de início desse período.
O anúncio foi feito depois de terminar, esta sexta-feira, uma visita a Conacri por uma missão técnica do bloco regional, composto por quinze países, para acordar um "cronograma de transição aceitável para a CEDEAO e o Governo de transição para garantir o retorno à ordem constitucional", segundo a nota.
Estas reuniões foram realizadas depois da CEDEAO ter ameaçado numa reunião em setembro passado impor sanções às autoridades golpistas.
A Guiné-Conacri é liderada pela junta militar chefiada pelo coronel Mamadi Doumbouya desde 05 de setembro de 2021.
18 meses de golpes e tentativas de golpe na África Ocidental
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Golpe de Estado
Nesse dia, membros do Grupo de Forças Especiais do Exército deram um golpe de Estado e derrubaram o então presidente, Alpha Condé, que governava desde 2010 após optar por um controverso terceiro mandato em outubro de 2020, não permitido pela Constituição guineense.
O coronel argumentou que o golpe procurava criar as condições para um estado de direito.
O Conselho Nacional de Transição (CNT) - Parlamento Provisório formado por 81 membros de partidos políticos, grupos da sociedade civil, sindicatos, empregadores e forças de segurança, entre outros - anunciou em 11 de maio uma transição de 36 meses.
Esse prazo foi rejeitado pela CEDEAO e pela oposição guineense, que em 01 de julho pediu a esta organização regional que intervenha no diálogo entre a classe política, a sociedade civil e a junta militar para o regresso à ordem constitucional.
A Guiné-Conacri é um dos países mais pobres do mundo, mas tem um potencial significativo de mineração, hidráulicos e agrícolas. As suas reservas de bauxite - matéria-prima para a produção de alumínio - estão entre as mais importantes do mundo.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.