Guiné-Conacri: Eleições locais pela primeira vez desde 2005
AFP | mjp
4 de fevereiro de 2018
As eleições municipais, inicialmente previstas para 2010, têm sido repetidamente adiadas devido à falta de fundos e crises políticas e à epidemia do ébola.
Publicidade
Após 8 anos de adiamentos, os guineenses começaram a votar na manhã deste domingo (04.02) para as primeiras eleições locais desde o fim do período de ditadura militar no país. Mais de 5,9 milhões de guineenses foram chamados às urnas.
Escolas sem condições, desemprego, falhas na eletricidade e alegações de corrupção são temas que marcam as eleições municipais na Guiné-Conacri.
"Foi a primeira vez em que votei num presidente da câmara. Espero que o meu candidato vença e que ponha em curso o seu programa para limpar o nosso distrito, criar emprego e tornar a nossa cidade segura”, diz o taxista Simbaya Aboulaye Soumah, na capital, Conacri.
No entanto, alguns eleitores decidiram ficar em casa. "É apenas barulho”, considera Salimatou Sow, uma vendedora ouvido pela agência de notícias France Presse. "Assim que são eleitos, esquecem todas as promessas, enriquecem às custas do povo e esquecem a recolha do lixo, a limpeza das ruas e a criação de emprego”, acrescenta.
Condé passa a escolha para o povo
A Guiné-Conacri tornou-se independente de França sob a liderança do "pai da independência” que se tornou ditador, Ahmed Sekou Touré, que governou até à sua morte, em 1984. O General Lansane Conté tomou o poder e após a sua morte, em 2008, os militares controlaram o país até à transição para o poder civil, quando o Presidente Alpha Condé foi eleito, em 2010.
As últimas eleições locais remontam a 2005, durante o regime do General Conté, nas quais o partido no poder venceu com 80% dos votos e com a maioria em 31 das 38 comunidades urbanas e 241 das 303 comunidades rurais do país.
Devido à ausência de eleições, os líderes dos executivos municipais têm sido substituídos por figuras nomeadas por Alpha Condé, o que tem causado controvérsia. O chefe de Estado enfrenta o escrutínio da democracia guineense pela primeira vez.
Em 2016, um acordo entre o Governo, a oposição, a sociedade civil e os parceiros internacionais abriu caminho para a realização de eleições em fevereiro de 2017. Mas apesar dos protestos em massa da oposição exigindo que o Presidente respeitasse o acordo, o processo eleitoral foi sendo repetidamente adiado.
Educação e emprego são prioridades
60% da população da Guiné-Conacri tem menos de 25 anos, pelo que as memórias de Conté e da ditadura militar já são esbatidas ou inexistentes.
As prioridades dos eleitores incluem melhorias no sistema de educação da Guiné-Conacri e a criação de empregos, especialmente para a juventude.
Os guineenses vão eleger vereadores para 342 "comunidades” entre 1.300 listas partidárias com quase 30 mil candidatos, incluindo 7 mil mulheres.
Ibrahima Camara, diretor de campanha da União das Forças Republicanas, do antigo primeiro-ministro Sidya Torué, considera que as eleições podem ser uma "rampa de lançamento” para Touré, na sua terceira tentativa para chegar à Presidência, em 2020.
Os principais campos de batalha para o partido no poder, o Movimento do Povo Guineense, são a região ocidental de Kindia e a cidade de N'Zerekore, no sul, que foram particularmente afetadas pela epidemia do ébola.
O tesouro da Guiné-Conacri: As minas de bauxite
Com as maiores reservas de bauxite do mundo, a Guiné-Conacri continua sem indústria para transformá-la em alumínio. E enquanto a sua exportação enche os cofres do Estado, a maioria da população vive no limiar da pobreza.
Foto: DW/Bob Barry
Uma riqueza explosiva
As explosões acontecem diariamente nas minas de Débélé. Os trabalhadores dinamitam a pedreira por causa da bauxite, a principal matéria-prima para a produção de alumínio. A Guiné-Conacri tem os maiores jazidos de bauxite do mundo.
Foto: DW/Bob Barry
Extração de acordo com métodos tradicionais
Quando o fumo se dissipa, a bauxite é transportada. O procedimento é o mesmo há décadas: as escavadoras carregam os camiões, que transportam as rochas para a fábrica ali perto. É lá que as pedras são esmagadas. Um processo árduo e demorado.
Foto: DW/Bob Barry
Máquinas em vez de trabalhadores
No entanto, existe uma maneira mais fácil: nas minas a céu aberto, as escavadoras realizam várias operações ao mesmo tempo. Recolhem pedras do chão, esmagam-nas e carregam-nas para um camião. Uma escavadora substitui 300 trabalhadores, criticam os sindicatos.
Foto: DW/Bob Barry
Especialistas em tecnologia
As escavadoras foram compradas pelo grupo de mineração russo Rusal a uma empresa alemã. Quando as máquinas por vezes se avariam, o engenheiro-chefe é chamado. Ele e a sua equipa receberam formação na Alemanha para reparar estas escavadoras especiais.
Foto: DW/Bob Barry
Região rica em recursos naturais
As minas a céu aberto estão localizadas em Débélé, na região de Kindia. A bauxite é extraída aqui, no oeste do país, desde 1972. As pessoas vivem com e das minas.
Foto: DW/Bob Barry
Nas mãos dos russos
Os russos já estão no país há mais de 20 anos. Atualmente, o grupo Rusal, de Moscovo, explora as minas de Débélé. Trabalham aqui cerca de 1.200 pessoas. A maioria vive na cidade de Kindia, que fica a cerca de 50 quilómetros de distância.
Foto: DW/Bob Barry
Um pequeno país com grandes reservas
As reservas de bauxite da Guiné-Conacri estão estimadas em dez mil milhões de toneladas. Nenhum país no mundo é tão rico nesta matéria-prima como este pequeno país do oeste africano. O país exporta grandes quantidades de bauxite, enchendo, desta forma, os cofres do Estado.
Foto: DW/Bob Barry
A população continua pobre
Ainda assim, a maioria da população vive com menos de um dólar por dia. Os lucros provenientes do produto final, o alumínio, ficam no estrangeiro. Devido à corrupção, a instabilidade política e a falta de energia elétrica, a Guiné-Conacri nunca conseguiu construir a sua própria indústria, que transforma a matéria-prima bauxite em alumínio.
Foto: DW/Bob Barry
País de destino: Ucrânia
No final do dia, nas minas de Débélé, a bauxite está pronta para exportação. Aqui em Débélé, a Rusal extrai cerca de 3,5 milhões de toneladas da matéria-prima por ano da preciosa terra. A bauxite é depois processada, principalmente na Ucrânia. Aí, numa operação que consome muita energia elétrica, a matéria-prima é transformada em alumínio.
Foto: DW/Bob Barry
Dependentes do mercado mundial
A bauxite é transportada de comboio para o porto de Conacri, de onde sairá de navio. De cinco toneladas de bauxite obtém-se aproximadamente uma tonelada de alumínio, que no mercado mundial vale cerca de 2.000 dólares.