Guiné-Conacri: Junta Militar nomeia novo primeiro-ministro
AFP | Reuters | tms
28 de fevereiro de 2024
Os militares no poder em Conacri nomearam uma antiga figura da oposição para o cargo de primeiro-ministro, oito dias após a dissolução do Governo. País enfrenta greves devido à situação política e social.
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A Junta Militar no poder na Guiné-Conacri nomeou, esta terça-feira (27.02), um novo primeiro-ministro. A medida surge oito dias depois da dissolução do Governo, e numa altura em que a capital Conacri está paralisada com uma greve geral.
Os manifestantes exigem a libertação de um dirigente sindical detido, bem como a redução dos preços dos alimentos, o fim da censura dos meios de comunicação social e a melhoria das condições de vida dos funcionários públicos.
A greve foi convocada num clima de crescente tensão social e na ausência do Governo de transição, depois de a Junta Militar ter anunciado a sua dissolução na semana passada, sem apresentar razões.
Novo primeiro-ministro
Num discurso transmitido pela televisão na noite de terça-feira, um porta-voz do líder da junta, o general Mamady Doumbouya, afirmou que "Amadou Oury Bah, um economista, foi nomeado primeiro-ministro e chefe do Governo".
Bah é uma figura proeminente na cena política guineense desde o início dos anos noventa. Foi ministro da Reconciliação de um Governo de consenso na sequência de uma crise política desencadeada pela morte de pelo menos 130 pessoas em manifestações sindicais em 2007.
18 meses de golpes e tentativas de golpe na África Ocidental
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O fundador e vice-presidente do partido UFDG passou depois quatro anos no exílio em França, período durante o qual foi condenado à revelia por uma tentativa de assassinato de Alpha Condé em 2011. Regressou à Guiné em 2016, na sequência de um perdão presidencial, mas foi posteriormente afastado da UFDG. Nos últimos anos, tem sido criticado pelo seu apoio à junta.
O porta-voz da Junta Militar disse que a principal tarefa de Oury Bah seria acalmar as tensões com os 13 sindicatos que convocaram a greve iniciada na segunda-feira, que viu duas pessoas mortas a tiro durante confrontos esporádicos nos subúrbios de Conacri.
O porta-voz do sindicato, Amadou Diallo, disse à agência de notícias AFP que estava à espera do "cumprimento total e completo de todas as exigências" antes de terminar a greve, acrescentando que não estava prevista qualquer reunião com as autoridades.
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Libertação de sindicalista
Os sindicatos colocaram a libertação de Sekou Jamal Pendessa, secretário-geral do Sindicato dos Profissionais da Imprensa da Guiné (SPPG), como condição prévia para qualquer negociação com a junta no poder.
"Não haverá caça às bruxas", promete coronel Doumbouya
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Pendessa foi detido no final de janeiro por "participação numa manifestação não autorizada" e foi condenado na sexta-feira passada (23.02) a seis meses de prisão, três dos quais suspensos.
O grupo de advogados que o defende afirmou num comunicado que tinha sido informado na segunda-feira que o seu recurso seria ouvido esta quarta-feira.
Os protestos tornaram-se raros sob a liderança da junta Doumbouya, que tomou o poder num golpe de Estado em setembro de 2021, e foram proibidos em 2022.
Os militares prenderam vários líderes da oposição, membros da sociedade civil e representantes da imprensa, enquanto os canais de televisão foram removidos e as frequências de rádio interrompidas.
Sob pressão internacional, a junta prometeu devolver as rédeas do Governo a civis eleitos até ao final de 2024, mas a oposição acusou-a de deriva autoritária.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.