Guiné-Conacri: Oposição rejeita alterações à Constituição
Lusa | AFP | kg
28 de março de 2020
Mudanças constitucionais foram aprovadas há uma semana com 90% dos votos. A oposição teme que, com as mudanças, o Presidente Alpha Condé permaneça no poder por mais dois mandatos.
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A oposição da Guiné-Conacri rejeitou este sábado (28.03) o resultado das alterações à Constituição, que podem permitir um novo mandato do atual Presidente Alpha Condé.
Com as mudanças, os mandatos presidenciais foram limitados a um máximo de dois períodos de seis anos. No entanto, a oposição e críticos do Presidente, que está no segundo mandato presidencial, temem que a nova versão da Constituição possa oferecer ao chefe de Estado a possibilidade de recomeçar a contagem do número de mandatos presidenciais.
"Estes resultados não dizem respeito à Frente Nacional de Defesa da Constituição (FNDC), nem ao povo da Guiné", disse Ibrahima Diallo, um dos líderes desta coligação que lidera o protesto há meses, alertando para confrontos que fizeram 66 mortos só na cidade de N'Zérékoré, no sul.
As alterações à Constituição da Guiné-Conacri, votadas no domingo passado (22.03), foram aprovadas por mais de 90% dos votos. As condições da votação foram criticadas pelos Estados Unidos, pela França e pela diplomacia europeia, e também pela Rússia.
Violência
A cidade de N'Zérékoré tem sido palco de confrontos, ataques a igrejas e mesquitas e saques. Os manifestantes queimaram pneus e montaram barricadas no centro de Labé, a principal cidade do norte do país, após o anúncio dos resultados.
Há um desencontro de números. Apesar dos 66 mortos relatados pela oposição, o governador da região de N'Zérékoré, Mohamed Ismaël Traoré, afirmou que havia "dez mortos e muitos feridos", sendo que várias fontes médicas, sociedade civil e autoridades locais tinham relatado anteriormente avaliações que variavam entre 15 a 23 mortes.
Mudanças constitucionais
Com as alterações à Constituição, o ensino obrigatório ficou fixado até aos 16 anos e a idade legal para contração de matrimónio até os 18 anos. A mutilação genital e o trabalho escravo e infantil ficaram proibidos e a pena de morte foi abolida. As mudanças garantem a garantia de direitos iguais às mulheres em caso de divórcio e a atribuição às mulheres de, pelo menos, um terço dos lugares parlamentares.
A possibilidade de um terceiro mandato presidencial de Condé tem provocado protestos nas ruas da Guiné-Conacri desde outubro, vitimando dezenas de pessoas.
Alpha Condé chegou ao poder em 21 de dezembro de 2010, colocando um ponto final a um período de transição de dois anos depois de mais de cinco décadas de governos autoritários desde a independência do país da França em 1958.
O Presidente foi reeleito à segunda volta com 52,52% dos votos contra o ainda principal líder da oposição, Cellou Dalein Diallo, um economista que liderou o governo do país entre 2004 e 2006.
O tesouro da Guiné-Conacri: As minas de bauxite
Com as maiores reservas de bauxite do mundo, a Guiné-Conacri continua sem indústria para transformá-la em alumínio. E enquanto a sua exportação enche os cofres do Estado, a maioria da população vive no limiar da pobreza.
Foto: DW/Bob Barry
Uma riqueza explosiva
As explosões acontecem diariamente nas minas de Débélé. Os trabalhadores dinamitam a pedreira por causa da bauxite, a principal matéria-prima para a produção de alumínio. A Guiné-Conacri tem os maiores jazidos de bauxite do mundo.
Foto: DW/Bob Barry
Extração de acordo com métodos tradicionais
Quando o fumo se dissipa, a bauxite é transportada. O procedimento é o mesmo há décadas: as escavadoras carregam os camiões, que transportam as rochas para a fábrica ali perto. É lá que as pedras são esmagadas. Um processo árduo e demorado.
Foto: DW/Bob Barry
Máquinas em vez de trabalhadores
No entanto, existe uma maneira mais fácil: nas minas a céu aberto, as escavadoras realizam várias operações ao mesmo tempo. Recolhem pedras do chão, esmagam-nas e carregam-nas para um camião. Uma escavadora substitui 300 trabalhadores, criticam os sindicatos.
Foto: DW/Bob Barry
Especialistas em tecnologia
As escavadoras foram compradas pelo grupo de mineração russo Rusal a uma empresa alemã. Quando as máquinas por vezes se avariam, o engenheiro-chefe é chamado. Ele e a sua equipa receberam formação na Alemanha para reparar estas escavadoras especiais.
Foto: DW/Bob Barry
Região rica em recursos naturais
As minas a céu aberto estão localizadas em Débélé, na região de Kindia. A bauxite é extraída aqui, no oeste do país, desde 1972. As pessoas vivem com e das minas.
Foto: DW/Bob Barry
Nas mãos dos russos
Os russos já estão no país há mais de 20 anos. Atualmente, o grupo Rusal, de Moscovo, explora as minas de Débélé. Trabalham aqui cerca de 1.200 pessoas. A maioria vive na cidade de Kindia, que fica a cerca de 50 quilómetros de distância.
Foto: DW/Bob Barry
Um pequeno país com grandes reservas
As reservas de bauxite da Guiné-Conacri estão estimadas em dez mil milhões de toneladas. Nenhum país no mundo é tão rico nesta matéria-prima como este pequeno país do oeste africano. O país exporta grandes quantidades de bauxite, enchendo, desta forma, os cofres do Estado.
Foto: DW/Bob Barry
A população continua pobre
Ainda assim, a maioria da população vive com menos de um dólar por dia. Os lucros provenientes do produto final, o alumínio, ficam no estrangeiro. Devido à corrupção, a instabilidade política e a falta de energia elétrica, a Guiné-Conacri nunca conseguiu construir a sua própria indústria, que transforma a matéria-prima bauxite em alumínio.
Foto: DW/Bob Barry
País de destino: Ucrânia
No final do dia, nas minas de Débélé, a bauxite está pronta para exportação. Aqui em Débélé, a Rusal extrai cerca de 3,5 milhões de toneladas da matéria-prima por ano da preciosa terra. A bauxite é depois processada, principalmente na Ucrânia. Aí, numa operação que consome muita energia elétrica, a matéria-prima é transformada em alumínio.
Foto: DW/Bob Barry
Dependentes do mercado mundial
A bauxite é transportada de comboio para o porto de Conacri, de onde sairá de navio. De cinco toneladas de bauxite obtém-se aproximadamente uma tonelada de alumínio, que no mercado mundial vale cerca de 2.000 dólares.