Guiné-Equatorial: Diálogo Nacional "foi um fracasso"
Lusa
27 de julho de 2018
Oposição considera que 6.ª Mesa de Diálogo Nacional convocada pelo Presidente serviu apenas para "lavar a imagem" de Teodoro Obiang. Amnistia aos presos políticos prometida pelo chefe de Estado ainda não foi cumprida.
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Em declarações à agência Lusa, Raimundo Ela Nsang, secretário-geral da Coligação Restauradora de um Estado Democrático (CORED), criticou a iniciativa e pediu mais pressão política por parte da comunidade internacional sobre Teodoro Obiang Nguema, que governa o país desde a década de 1970 sob várias acusações de violação dos direitos humanos.
"Foi um completo fracasso. Esperamos que a comunidade internacional tome uma ação sobre o que aconteceu, porque Obiang assinou uma lei de amnistia que não respeitou", disse Nsang numa conversa telefónica feita a partir de França, onde está exilado.
O secretário-geral da CORED foi contactado pelo embaixador da Guiné Equatorial em França, a pedido do Governo de Malabo, para discutir a participação da estrutura através de videoconferência.
Nos documentos que acompanham um comunicado divulgado pela CORED, as duas partes confirmaram a presença numa reunião em Paris, mas o embaixador Miguel Oyono Ndong Mifumu acabou por não comparecer, algo que a coligação acredita ter sido por ordem de Malabo.
Amnistia por cumprir
Não havendo acordos para a participação de exilados, a oposição na Mesa de Diálogo Nacional viu-se enfraquecida, devido ao elevado número de presos políticos.
Quando anunciou as negociações com a oposição, Obiang prometeu uma amnistia aos presos políticos no país, uma medida que acabou por não cumprir, tendo apenas libertado, durante o diálogo, um dos detidos a pedido de um partido político.
Raimundo Ela Nsang censurou ainda a detenção de dez funcionários do Ministério da Justiça, entre os quais quatro magistrados, que ficaram detidos durante mais de 72 horas sem nenhuma acusação formal.
Um dos magistrados, José Esono Ndong Bidang, acabou por morrer no dia 21, devido à recusa de assistência médica. "Como se pode tolerar que um senhor que disse querer a normalização política num país tenha estes comportamentos?" - perguntou Nsang.
Iniciativa contra o regime
De acordo com o líder da CORED, a coligação lançou a Iniciativa por um Governo Alternativo e Democrático (IGAD), uma iniciativa que pretende desempenhar um papel na mobilização nacional e internacional contra o regime de Obiang.
"Utilizaremos as novas tecnologias de Internet e aplicações de telemóvel para comunicar de uma maneira claríssima e que não possa ser bloqueada", anunciou.
Raimundo Ela Nsang indicou ainda que está a juntar intelectuais naturais do país, mas que estão na diáspora, não só para pressionar Obiang, mas também para a construção de uma alternativa política.
"Esta é uma iniciativa que queremos que junte políticos, intelectuais, tanto da Guiné Equatorial como do estrangeiro, jornalistas, todos os que possam apoiar a iniciativa para mostrar ao mundo que Obiang já não merece confiança e que se deixarmos o país ir pela direção que está a tomar, se afunda", concluiu.
A Guiné Equatorial, país com cerca de um milhão de habitantes, é dirigida desde agosto de 1979 por Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, que detém o recorde de longevidade no poder em África.
Teodoro Obiang foi reeleito em 2016 com mais de 90% dos votos para um quinto mandato de sete anos.
O Governo da Guiné Equatorial é acusado por várias organizações da sociedade civil de constantes violações dos direitos humanos e perseguição a políticos da oposição.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.