Guiné Equatorial diz que Brasil violou direitos de Mangue
EFE | Lusa | AFP | tms
19 de setembro de 2018
O Governo equato-guineense classificou a apreensão de dinheiro e joias de Teodoro Nguema Obiang Mangue, num aeroporto brasileiro, de ação hostil e de má-fé das autoridades aduaneiras e pediu a devolução dos bens.
Publicidade
Num comunicado divulgado esta terça-feira (18.09), o Governo da Guiné Equatorial "lamenta e manifesta a sua mais energética condenação por este incidente”, em que "não foi levado em conta os privilégios destinados às altas personalidades e o tratamento respeitoso segundo o costume e as regras conhecidas no Direito Internacional".
Na passada sexta-feira (14.09), a Polícia Federal do Brasil apreendeu cerca de 1,5 milhão de dólares em dinheiro, além de joias, totalizando mais de 16 milhões de dólares, que foram detetados ao momento de uma revista de rotina na alfândega. Mangue e a sua comitiva preparavam-se para deixar o país, embarcando num voo particular no aeroporto de Viracopos, em Campinas, no interior do estado de São Paulo.
O Governo justifica que o filho do Presidente Teodoro Obiang Nguema, e "número dois" do país, levava consigo aquela quantidade de dinheiro e joias para as "despesas da viagem oficial do vice-presidente e da comitiva que o acompanhava". A viagem do filho de Obiang, que governa a Guiné Equatorial desde 1979, "tinha outros destinos", acrescenta a nota.
Ainda de acordo com o comunicado, trata-se de uma "atuação nada amistosa e de má-fé por parte das autoridades do aeroporto de Viracopos, em Campinas", que foram acusadas de "deturpar a quantidade real de dinheiro e o valor das joias confiscadas".
Devolução do dinheiro
O Governo do país africano exigiu ao Brasil que, "tanto o dinheiro, como os objetos pessoais de valor confiscados, sejam devolvidos ao seu proprietário o mais breve possível, por conta das excelentes e frutíferas relações que felizmente existem entre os dois países e povos".
Segundo fontes da Embaixada da Guiné Equatorial no Brasil, Obiang chegou ao país para se submeter a um tratamento médico em um hospital de São Paulo e o dinheiro era para pagar as despesas médicas e a hospedagem, tanto do vice-presidente como de sua comitiva.
Investigação
A Polícia Federal informou no último fim de semana que investigará o incidente, já que o dinheiro e as joias, por conta de seu elevado valor e porque se tratava de uma viagem particular e extraoficial, deveriam ter sido declarados às autoridades alfandegárias, o que não foi feito pela comitiva de Obiang.
Segundo a lei brasileira, a entrada no país de dinheiro em espécie está limitada a 10 mil reais, que correspondem a cerca de 2.400 dólares ou 2.000 euros.
Enquanto isso, dois partidos da oposição da Guiné Equatorial reivindicaram ontem a "dissolução imediata" do governo após estes "fatos lamentáveis". A Convergência para a Democracia Social (CPDS) e União de Centro-Direita (UCD), afirmaram que a detenção do vice-Presidente lhes "dá razão quando denunciam a corrupção e o saque que o país está sofrendo nas mãos de seus governantes".
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.