Guiné Equatorial "repulsa" sanções contra vice-presidente
Lusa | tm
24 de julho de 2021
Após Reino Unido impor sanções financeiras ao vice-Presidente da Guiné-Equatorial, Teodoro Mangue, Ministério dos Negócios Estrangeiros do país manifesta "enérgica repulsa". Mas ativistas saúdam a decisão britânica.
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Num comunicado, o diretor executivo da EQ Justice, Tutu Alicante, considera que a decisão tomada por Londres "é bem-vinda para o povo da Guiné Equatorial".
"É um passo na direção certa, que nos lembra que a corrupção não é um crime sem vítimas e que os dias dos cleptocratas que usavam o Ocidente como cofre para os seus bens saqueados estão rapidamente a chegar ao fim", frisou Alicante.
"A flagrante corrupção na Guiné Equatorial, particularmente nas mãos de Teodoro Nguema Obiang, conhecido como Teodorín, privou a maioria dos equato-guineenses de recursos vitais para atender às suas necessidades mais básicas", acrescenta-se no texto.
A decisão do Reino Unido levou as autoridades de Malabo a reagir e, hoje, num "comunicado de repulsa", publicado na rede social Facebook, o Ministério dos Assuntos Exteriores e da Cooperação da Guiné Equatorial rejeitou as sanções financeiras "unilaterais e ilegais" impostas a Teodorín.
"Enérgica repulsa"
No documento, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Guiné Equatorial manifesta "enérgica repulsa" do Governo às sanções "juridicamente infundadas", e exige que sejam levantadas com "a maior brevidade possível", entendendo as sanções - que incluem a proibição de viajar ao país e o congelamento de ativos - como um "gesto inamistoso" por parte do Governo britânico.
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Segundo o documento, Teodoro Mangue "nunca realizou qualquer investimento no Reino Unido", assim como "nunca teve nenhum processo judicial no Reino Unido ou Guiné Equatorial por nenhum motivo, muito menos por má utilização de fundos públicos".
"As sanções sem fundamento impostas pelo Governo britânico têm a sua justificação em manipulações, mentiras e iniciativas malévolas que promovem certas organizações não governamentais contra a boa imagem da Guiné Equatorial e dos seus representantes legítimos, nas quais, infelizmente, se basearam alguns Estados para levar a cabo processos judiciais contra sua excelência 'exmo. sr.' Vice-presidente da República", refere.
Combate à corrupção
A EG Justice tem estado na vanguarda do combate à corrupção no país, tendo dado conta das várias batalhas jurídicas de Teodorín em várias partes do mundo, incluindo a histórica condenação em França, por lavagem de dinheiro e peculato.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos também o condenou, depois de descobrir que Teodorín adquiriu ilegalmente mais de 1,8 milhões de dólares (1,53 milhões de euros) em memorabilia de Michael Jackson, um jato 'Gulfstream G-V', de 38,5 milhões de dólares (32,7 milhões de euros), uma mansão de 30 milhões de dólares (25,5 milhões de euros) em Malibu, Califórnia, e cerca de uma dúzia de carros de luxo.
"O Governo [do Presidente norte-americano, Joe] Biden assumiu compromissos importantes para unir forças com a comunidade internacional e combater a corrupção em casa e no exterior. Portanto, é imperativo que os Estados Unidos, Canadá e União Europeia sigam o exemplo do Reino Unido e sancionem Teodorín e os seus associados pela pilhagem contínua dos recursos do país e pelo envolvimento em graves violações dos direitos humanos. Agora é a hora de dar um passo em frente", acrescentou Alicante.
Teodoro Obiang Mangue, de 53 anos, é punido pelo envolvimento na apropriação indevida de fundos do Estado e desvio para contas bancárias pessoais, realização de contratos corruptos e solicitação de subornos.
"Estilo de vida inconsistente com salário"
Segundo o Governo britânico, o estilo de vida luxuoso de 'Teodorin', como é conhecido, é "inconsistente com o seu salário oficial como ministro do Governo".
Além de uma mansão de 100 milhões de dólares (85 milhões de euros no câmbio atual) em Paris, terá também adquirido dezenas de automóveis de luxo, incluindo Ferraris, Bentleys e Aston Martins e uma coleção de objetos que pertenciam ao cantor Michael Jackson, com destaque para uma luva revestida de cristais usada na digressão do álbum "Bad", avaliada em 275 mil dólares.
Teodoro Obiang Mangue foi condenado em fevereiro de 2020, em segunda instância, a três anos de prisão suspensa e ao pagamento de uma multa efetiva de 30 milhões de euros ao Estado francês por ter adquirido indevidamente património considerável em França com dinheiro desviado dos cofres da Guiné Equatorial.
Segundo a justiça francesa, os juízes estimam um branqueamento de capitais na ordem dos 160 milhões de euros.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.