O maior partido opositor da Guiné Equatorial relatou à DW África a situação dos seus militantes, acusados pelo Governo de "tentativa de golpe de Estado". E disse que só uma intervenção internacional conseguirá o diálogo.
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Na Guiné Equatorial, o partido Cidadãos para a Inovação (CI), única força da oposição com representação parlamentar, está à espera que organizações dos direitos humanos intervenham na situação política do país. O coordenador do CI, Mariano Ona, diz que nenhuma organização dos direitos humanos, até agora, tentou intervir.
"Temos estado a tentar contactar os direitos humanos, todas as entidades internacionais e nacionais, mas ninguém interviu", relata o militante em entrevista à DW África.
Entretanto, segundo Ona, "graças ao corpo diplomático, as forças de segurança não atacaram a nossa sede. Os embaixadores dos Estados Unidos, de Espanha, Portugal e França estão a intervir para que não ataquem a nossa sede".
Guiné Equatorial: Oposição espera intervenção internacional
Oposição sitiada
Desde o dia 28 de dezembro, Mariano Ona e outros membros da oposição encontram-se sitiados na sede do partido em Malabo, capital política do país.
Outros militantes, incluindo três dirigentes da oposição, estão detidos. Eles são acusados pelo Governo de tentar um golpe de Estado que seria executado por um grupo de "mercenários estrangeiros" fortemente armado. Este grupo de aproximadamente 30 pessoas foi preso na semana passada pela polícia dos Camarões, quando tentavam entrar na Guiné Equatorial.
Mariano Ona descreve como "catótica” a situação dos opositores após esses acontecimentos. "Agora mesmo estamos há mais de uma semana sitiados na nossa sede. Temos atualmente 147 membros do nosso partido presos, sendo torturados todos os dias. Estamos aqui sem água e comida. E não deixam ninguém sair ou entrar", denuncia o opositor.
O coordenador da oposição nega as acusações do Governo e diz que as prisões dos membros do seu partido são arbitrárias.
"A situação é tão complicada que até agora não nos disseram porque estamos sitiados ou porque detiveram nossos militantes. Até agora não temos nenhum pronunciamento oficial do Governo. O Governo fez um comunicado na televisão que não menciona sequer o nosso partido".
De acordo com Mariano Ona, a imprensa nacional até agora não informou os cidadãos do estado de sítio em que vivem os opositores do regime do Presidente Teodoro Obiang. Além disso, várias redes sociais e canais de acesso à internet estão bloqueados no país.
Intervenção internacional
Para o coodenador do CI, apenas uma intervenção internacional poderá estabelecer diálogo com o Governo.
"Quero que venha uma intervenção internacional para mediar a situação. Quando houver uma intervenção internacional, creio que o que deve ser firmado é o diálogo", diz Ona, reforçando que "somos um partido da oposição e quando o Governo está a maltratar a população, aí é preciso haver exigências".
A ONU condena 'todas as tentativas de tomar o poder inconstitucionalmente" e informou na noite desta quinta-feira (04.01) que vai enviar na próxima semana uma missão à Guiné Equatorial, mas não avançou detalhes sobre as conversações.
A DW África entrou em contato com a assessoria de comunicação da ONU para saber mais detalhes dessa visita, no entanto, sem sucesso.
"Mercenários infiltrados"
Na passada terça-feira, parte do grupo de supostos mercenários detido na fronteira dos Camarões foi apresentada pelas autoridades de Malabo, que também apreenderam uma grande quantidade de armas. O embaixador equato-guineense no Chade, Enrique Nsue, também foi preso, segundo a agência de notícias AFP.
De acordo com o Ministério da Segurança Nacional, "alguns destes mercenários estão ainda infiltrados no território nacional”.
No fim de semana, o Presidente Teodoro Obiang disse que a tentativa de golpe estava a ser preparada por causa da sua permanência no poder. Na liderança do país desde 1979, o partido de Obiang venceu com 92% as eleições gerais de 12 de novembro. A votação, marcada por uma série de denúncias da oposição, foi classificada como uma "peça de teatro" pela ONG Transparência Internacional.
A Guiné Equatorial desde 2014 é um Estado membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). A DW África também tentou alguma obter alguma reação da organização, mas não teve a sua solicitação respondida.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.