Guiné Equatorial: Oposição pede repetição das eleições
Lusa
1 de dezembro de 2022
A oposição da Guiné Equatorial pediu a "anulação e a repetição" das eleições gerais de 20 de novembro, que deram ao Presidente Teodoro Obiang Nguema uma polémica vitória, validada pelo Tribunal Constitucional do país.
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A exigência está contida num comunicado publicado na noite de quarta-feira (30.11) na rede social Twitter pelo secretário-geral do partido Convergência para a Social-Democracia (CPDS, única força política de oposição autorizada), Andrés Esono, rival de Obiang nas eleições presidenciais.
Rejeitado o recurso eleitoral apresentado pelo CPDS - o partido de Obiang Nguema obteve 94,9% dos votos e reelegeu-o para um sexto mandato de sete anos -, a oposição contestou as eleições presidenciais, legislativas e autárquicas considerando-as "fraudulentas, antidemocráticas e injustas" e exigiu a respetiva "anulação e repetição".
["As eleições foram] um verdadeiro golpe eleitoral, dado por um chefe de Estado que chegou ao poder através de um golpe palaciano e que está disposto a permanecer nele contra a vontade popular", sublinhou a formação de Esono.
O CPDS voltou a denunciar as "irregularidades gravíssimas" que diz ter detetado no dia das eleições, como o "voto público -- que deveria ter sido secreto -- em todas as assembleias de voto da periferia", o voto de eleitores "ausentes" ou a presença de ""mesas de voto itinerantes".
A declaração foi emitida depois de a União Europeia (UE) ter afirmado "lamentar" que o ambiente em que se realizaram "não tenha sido propício a eleições democráticas, pluralistas e participativas" e de a administração dos Estados Unidos ter expressado "sérias dúvidas" sobre a credibilidade dos resultados eleitorais.
No domingo (27.11), o CPDS já tinha considerado "incorretos" os resultados anunciados no sábado (26.11), sobretudo porque o número de votos válidos é inferior ao total dos três candidatos que disputavam a Presidência equato-guineense.
Obiang, de 80 anos e o Presidente com mais tempo no poder no mundo, governa desde 1979, recebeu 405.910 dos 411.081 votos válidos como candidato do governamental Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE), que participou nas eleições em coligação com 14 outras formações políticas.
Sempre pela contagem oficial, em segundo lugar ficou Esono, que recebeu 9.684 votos. Na terceira e última posição ficou o líder do Partido da Coligação Social Democrata (PCSD, tradicionalmente ligado ao PDGE), Buenaventura Monsuy Asumu, com 2.855 votos.
Se forem considerados os dados oficiais, o número de votos declarados válidos pela Junta Nacional Eleitoral (411.081) é inferior ao número de votos obtidos pelos três candidatos presidenciais (418.449).
Os guineenses também elegeram os 100 parlamentares da Câmara dos Deputados (Câmara Baixa) e 55 dos 70 membros do Senado (Câmara Alta), bem como os representantes municipais do país.
O PDGE obteve 100 assentos na Câmara dos Deputados e 55 no Senado, além de 588 vereadores, sem que o CPDS e o PCSD obtivessem qualquer representação nessas votações.
"Atribuir 100% dos lugares em todos os cargos do país, tanto no Senado, como na Câmara dos Deputados e Câmaras Municipais, mostra que Obiang é um ditador da pior espécie", enfatizou Esono à EFE no sábado passado.
A Guiné Equatorial só conheceu dois presidentes desde que se tornou independente de Espanha, em 1968: Obiang e o seu tio Francisco Macías, que seria afastado do poder pelo próprio sobrinho num golpe de Estado em 1979.
Com Obiang no comando, a Guiné Equatorial tem feito grandes investimentos em infraestruturas graças à riqueza do petróleo do país, principal fonte de rendimento do Estado.
No entanto, os seus opositores acusam-no de ter beneficiado a si mesmo, bem como à própria família, com a exploração do petróleo bruto, enquanto a maioria da população equato-guineense vive na pobreza.
Várias organizações de defesa e promoção de direitos humanos também acusam o regime de ser um dos mais repressivos e corruptos do mundo.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.