A medida é contra a livre circulação de pessoas e bens na região aprovada, em 2017, pelos seis países membros da África Central, da qual também fazem parte os Camarões e a Guiné Equatorial, dizem fontes locais.
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A Guiné Equatorial está a planear construir um muro na fronteira com os Camarões. O alerta foi dado pelo exército camaronês que garante que militares do país vizinho invadiram a cidade de Kyé Ossi, na fronteira, e colocaram marcos em várias terras, estendendo assim o seu território para além da fronteira estipulada atualmente.
Segundo a imprensa camaronesa, o chefe do exército do país visitou, recentemente, o local para se inteirar do sucedido e garantiu, na altura, que os Camarões "não vão tolerar qualquer intrusão ilegal no seu território".
"Os camaroneses estão muito irritados porque eles olham para a Guiné Equatorial como um possível destino de negócios”,dizem fontes locais.
Destino preferencial dos camaroneses
A Guiné Equatorial é para juventude camaronesa o destino preferencial para arranjar emprego, por isso "há muitos camaroneses que acham que lá poderão ter emprego”, notam os analistas.
Guiné Equatorial projeta erguer um muro na fronteira com Camarões
Uma jovem camaronesa ouvida pela DW África destaca o facto do país vizinho estar a registar um bom crescimento económico, e prevê que a construção do muro pode retardar a economia dos dois países.
"Há muitos camaroneses que fazem negócios na Guiné Equatorial. E [com esta medida] tornar-se-ia difícil para a importação de mercadorias”.
Várias fontes dão conta de que a Guiné Equatorial acusa os Camarões de deixarem entrar ilegalmente no seu território cidadãos da África Ocidental e que pode ser este o motivo por detrás da construção deste muro. O Governo de Yaoundé ainda não respondeu as acusações das autoridades de Malabo.
"Mancha" diplomática entre os dois países
Analistas não têm dúvidas que a medida "afetará as relações diplomáticas entre os dois países” e lembram que, para além disso, vai contra a livre circulação de pessoas e bens na região aprovada, em 2017, pelos seis países membros da África Central, da qual também fazem parte os Camarões e a Guiné Equatorial.
"É uma mancha no acordo, porque este acordo visa a melhoria das economias da região, sendo uma das medidas para tal a livre circulação de pessoas e bens. E se a Guiné Equatorial recusar [essa live circulação], não vai ser fácil. Vai afetar o comércio”, dizem analistas.
Confrontado pela agência AFP acerca dos seus planos, o governo de Malabo não quis pronunciar-se. No entanto, alguns moradores das cidades equato-guineenses localizadas na fronteira confirmaram a AFP que foram informados sobre a construção do muro.
A Guiné Equatorial, governada por Teodoro Obiang desde 1979, tem estado particularmente vigilante nesta fronteira, pois foi aqui que cerca de 30 homens armados foram presos e acusados de tentativa de golpe de Estado contra o regime de Malabo no final de dezembro de 2017. Um incidente que levou a Guiné Equatorial a encerrar a sua fronteira com os Camarões durante seis meses.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.