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Guineense diz que a vida na Rússia "corre bem"

4 de outubro de 2022

A vida na Rússia "corre bem", admite Fidel Quadé, um guineense a viver no país. Apesar do aumento dos preços em fevereiro, a situação melhorou e a única dificuldade agora é o envio de dinheiro para o estrangeiro, diz.

Foto: Silas Stein/IMAGO

Enquanto vários países ocidentais pedem aos seus cidadãos para saírem da Rússia, e numa altura em que as ameaças nucleares de Moscovo sobem de tom, o jornalista guineense Fidel Quadé, naturalizado russo e a viver na cidade de Ivanovo há 18 anos, diz-se "tranquilo".

Em entrevista à DW, o jornalista afirma que não teme a mobilização de mais pessoas para a guerra e acrescenta que as sanções do Ocidente quase não se notam no dia a dia na Rússia, mesmo depois de dezenas de empresas multinacionais terem saído do país. A vida na Rússia "corre bem", garante.

Segundo Quadé, os russos já aprenderam a viver com as sanções e a inflação está a baixar. Para ele, o único problema é o envio de dinheiro para o estrangeiro, uma situação que está a perturbar vários cidadãos a residir na Rússia.

DW África: Como estão os guineenses que vivem na Rússia após o início do conflito com a Ucrânia?

Fidel Quadé (FQ): Por enquanto, estamos todos bem. Você disse conflito, mas nós aqui somos obrigados a dizer "operação militar especial". Desde o seu início, no dia 24 de fevereiro, estamos bem, sem qualquer tipo de preocupação com o dia em que seremos chamados para fazer algo. A maioria dos guineenses que se encontram aqui são estudantes. Os estudantes não têm nada a ver com o que está a acontecer.

Fidel Quadé, jornalista guineense a residir em Ivanovo, no oeste da RússiaFoto: privat

DW África: Mas a guerra mudou a rotina dos estudantes?

FQ: Desde o dia 24 de fevereiro até aqui, tudo continua da mesma forma. Quem tem aula presencial, vai à aula presencial. Quem tem aula online, assiste à aula online. Nenhuma instituição do Estado parou, nem os privados.

DW África: Como está o custo de vida? Os preços aumentaram? Sentiram alguma diferença?

FQ: Logo de início, no dia 24 de fevereiro, sim, houve um aumento dos preços e muitos produtos desapareceram das prateleiras das lojas. Fizeram tudo o que foi possível durante as duas primeiras semanas da operação militar, então tudo se restabeleceu. A única coisa que estamos a sentir é que, para quem tem filhos na Guiné-Bissau, por exemplo, estamos a ter dificuldades em enviar dinheiro para pagar os seus estudos, fazer as suas compras e [dar apoio financeiro noutras] coisas que estão a necessitar.

"Os russos são um povo fechado, que não se abre com ninguém. Vocês discutem os assuntos nos comboios, nos transportes públicos, mas aqui não", diz o jornalista guineenseFoto: P. Anft

DW África: Na Alemanha, os preços dispararam. Aí na Rússia, está tudo normal?

FQ: Sim, por enquanto. Aqui tudo está razoável. Como eu disse, nas primeiras duas semanas, houve um aumento galopante. Mas houve esforços para que tudo isso fosse coberto com produtos aqui da terra [Rússia].

DW África: O que acham os russos sobre o que está a acontecer na Ucrânia e sobre estas sanções impostas pela União Europeia à Rússia?

FQ: Nunca encontrei ninguém nos transportes públicos ou privados a falar sobre esse assunto. Como digo sempre, os russos são um povo fechado, que não se abre com ninguém. Vocês discutem os assuntos nos comboios, nos transportes públicos, mas aqui não.

DW África: E com amobilização de centenas de milhares de soldados por parte da Rússia, acha que poderá ser algum dia convocado para apoiar o Exército russo?

FQ: Se me chamarem, vou de braços abertos. Mas não espero isso. Sei que não vou ser chamado, independentemente da profissão que estudei, que é o jornalismo. O país não carece de homens no ativo, sem contar com os reservistas. Não acho que os estrangeiros possam ser chamados. Isso tem requisitos e depende da idade em que a pessoa se naturalizou, porque a lei russa diz que, ao naturalizar-se depois dos 27 anos de idade, não tem de cumprir o serviço militar.

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