Guineenses apreensivos quanto ao desfecho da eleição
Braima Darame (Bissau) | Lusa | cvt | tm
31 de dezembro de 2019
Ambiente de festa nas sedes das candidaturas e divulgação dos resultados por parte de apoiantes nas redes sociais indicam possível cenário de não aceitação dos resultados oficiais na próxima quarta-feira (01.01).
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No mercado de Karacol, em Bissau, os guineenses dividiam-se entre os preparativos para a festa de fim de ano, a expetativa e as especulações sobre os resultados da segunda volta das presidenciais. Mima Costa, de 38 anos, vendedora de gelo no mercado, espera que os dois candidatos respeitem a vontade do povo expressa nas urnas.
"Estou cansada de vender aqui sem gerar lucros que possam melhorar a minha condição de vida. Estou farta. Votamos e nada muda. Sou formada e desempregada", disse à DW África enquanto atendia clientes. Outro cidadão guineense diz como espera que os candidatos reajam àdivulgação dos resultados oficiais pela Comissão Nacional de Eleições.
Aceitar os resultados
Guineenses pedem a candidatos que aceitem resultados
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"Qualquer pessoa democrática deve aceitar os resultados, se realmente verificar que todos os trâmites legais foram cumpridos. Quando essa pessoa, ou instituição, quer realmente negar os resultados, deve ter os seus suportes para percorrer os caminhos democráticos para suportar essa sua não aceitação dos resultados", ponderou.
Muitos depositaram as suas esperanças juntamente com o boletim de voto. "Espero que o derrotado reconheça a sua derrota, e quem vencer cumpra as suas promessas. Todos nós, guineenses, esperamos que o Presidente da República que sair destas eleições faça com que os guineenses fiquem satisfeitos", resumiu um outro cidadão ouvido pela DW África.
"Nota-se alguma tensão política entre os apoiantes. Cada candidatura está a reivindicar a vitória em tom de ameaça à CNE, e de não aceitar outro resultado que seja a vitória", avalia o analista político Bacar Camará.
Nesta terça-feira (31.12), o candidato Umaro Sissoco Embaló (MADEM-G15), que já reivindicou a sua vitória, gravou a sua mensagem de Ano Novo. Antes, o Presidente cessante da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, havia feito o seu o discurso oficial.
Discurso de Jomav
"Convido a todos e sem exceção para que continuemos serenos enquanto aguardamos os resultados definitivos das eleições presidenciais", afirmou José Mário Vaz na sua última mensagem de Ano Novo à Nação enquanto Presidente da Guiné-Bissau.
Na mensagem, em que terminou visivelmente emocionado, José Mário Vaz salientou que o "poder pertence ao povo, fonte de toda a legitimidade e soberania", acrescentando que "só o nosso povo através da urna tem o poder de decidir quem conduzirá os destinos do país nos próximos cinco anos".
O Presidente, que terminou o mandato a 23 de junho, salientou que os guineenses vão "escrever uma nova página na história da democracia" do país no dia da cerimónia de tomada de posse, quando entregar a faixa presidencial ao seu sucessor.
"Novo marco na história"
LGDH pede que se evite "especulatação" sobre resultados
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"Facto inédito na Guiné-Bissau ao fim de 46 anos. Estaremos a fundar os alicerces de um novo marco da nossa história", disse.
José Mário Vaz sublinhou ainda a unidade entre os guineenses para reconstruir o país, e agradeceu o apoio de todos os parceiros internacionais.
"Eu nunca deixarei de acreditar na Guiné-Bissau. Sou soldado desta pátria, estou e estarei sempre ao serviço do nosso país e do povo guineense. Lá onde estiver, em Bissau ou na minha tabanca, no meu escritório ou na minha bolanha, cada cidadão, cada dirigente, cada um que acredita na Guiné-Bissau poderá contar sempre comigo e com a minha solidariedade fraternal", concluiu, sem conter as lágrimas.
A Comissão Nacional das Eleições (CNE) anuncia nesta quarta-feira (01.01), às 11 horas locais em Bissau, o Presidente eleito na segunda volta das presidenciais da Guiné-Bissau, disputada entre Domingos Simões Pereira e Umaro Sissoco Embaló.
Presidenciais: Futuro da Guiné-Bissau adiado para segunda volta
Domingos Simões Pereira e Umaro Sissoco Embaló disputam segunda volta das presidenciais na Guiné-Bissau, a 29 de dezembro. Balanço da primeira volta das eleições feito pela CPLP, CEDEAO e União Africana é positivo.
Foto: DW/B. Darame
Domingos Simões Pereira vs Umaro Sissoco Embaló
Domingos Simões Pereira foi o vencedor das presidenciais na Guiné-Bissau, no entanto, não alcançou a maioria necessária para assumir o poder. O candidato apoiado pelo PAIGC conseguiu 222.870 votos, o que representa 40,13% do eleitorado. Seguiu-se Umaro Sissoco Embaló, do MADEM-G15, com 153.530 votos, ou seja, 27,65%.
Foto: DW/B. Darame
Medalha de bronze para Nabiam
Em terceiro lugar ficou Nuno Nabiam, com 13,16% dos votos. Seguiu-se José Mário Vaz, com 12,41%, Carlos Gomes Júnior, com 2,66%, e Baciro Djá, com 1,28% do eleitorado. Vicente Fernandes conseguiu 0,77% dos votos, Mamadu Iaia Djaló 0,51%, Idriça Djaló 0,46% e Mutaro Intai Djabi 0,43% dos votos. Os candidatos que obtiveram os piores resultados foram Gabriel Fernando Indi e António Afonso Té.
Foto: picture alliance/dpa
PAIGC pede apoio de APU e FREPASNA
Segue-se agora a segunda volta, marcada para 29 de dezembro. Domingos Simões Pereira, do PAIGC, já pediu o apoio aos partidos APU-PDGB e FREPASNA. DSP disse aceitar e respeitar os resultados eleitorais divulgados e deixou um recado a Sissoco Embaló: que na campanha para a segunda volta, não serão tolerados discursos de divisão dos guineenses: "serão atacados judicial e politicamente", disse.
Foto: DW/B. Darame
MADEM-G15 conta com apoiantes de Jomav
Por sua vez, Umaro Sissoco Embaló disse confiar na vitória na segunda e voltou a fazer acusações ao adversário Domingos Simões Pereira. "A Guiné-Bissau era um país laico e de concórdia nacional, Domingos Simões Pereira semeou o ódio e a divisão entre os guineenses". Embaló já havia anunciado, antes da primeira volta, que existia um acordo entre vários partidos contra DSP, em caso de segunda volta.
Foto: Privat
Grande derrotado
O antigo chefe de Estado da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, é já considerado o grande derrotado das presidenciais. Jomav, que concorreu como independente às eleições de 24 de novembro, ficou em quarto lugar na votação, atrás de Domingos Simões Pereira, Umaro Sissoco Embaló e Nuno Nabiam. O ex-Presidente conseguiu apenas 12,41% dos votos.
Foto: DW/B. Darame
Votação ordeira
A votação de 24 de novembro foi acompanhada por 23 observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), 54 da União Africana, 60 da CEDEAO e 47 dos Estados Unidos da América. Todos elogiaram a "calma" e "serenidade" do processo.
Foto: picture-alliance/Xinhua News Agency
Votação "transparente"
Também a CNE deu nota positiva ao processo, dando conta de que não foram registados incidentes que possam comprometer a votação. Nestas eleições, nenhum dos 12 candidatos apresentou contestações ao processo de votação. Já na véspera das eleições presidenciais, Felisberta Moura Vaz, porta-voz da CNE, havia garantido à DW que o sistema eleitoral no país "é tão transparente que não permite fraude".
Foto: DW/B. Darame
Monitorização da sociedade civil
As eleições presidenciais, assim como aconteceu nas legislativas, voltaram a contar com o trabalho da Célula de Monitorização Eleitoral da Sociedade Civil. Após a votação, a plataforma deu nota positiva ao dia eleitoral, salientando que tudo "decorreu conforme o previsto". A rede contou com 422 observadores em todas as regiões da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Doze candidatos
Durante a campanha eleitoral, foram muitas as críticas feitas aos considerados fracos discursos e programas de governação apresentados. Em entrevista à DW, a Rede Nacional das Associações Juvenis considerou que alguns candidatos deixavam muito a desejar e que outros "confundem os poderes do Presidente da República com os do Executivo nas promessas eleitorais que fazem nos comícios".
Foto: DW/B. Darame
Jomav demite governo
A campanha para as presidenciais ficou marcada pela nomeação, por parte de José Mário Vaz, de um novo Governo liderado por Faustino Imbali, que foi recusado pela comunidade internacional, e que acabou por se demitir pouco tempo depois. O próprio Jomav disse-se desautorizado pelas forças de segurança, que não facilitaram a efetivação do decreto presidencial que ditou esta nomeação.