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Guineenses na diáspora criticam situação política do país

18 de abril de 2022

Guineenses na diáspora estão, de um modo geral, descontentes com a situação política na Guiné-Bissau, agravadas depois da alegada tentativa de golpe de Estado. Acusam Umaro Sissoco Embaló de desmandos e violações à lei.

Portugal | guineische Diaspora in Lissabon
Foto: Joao Carlos/DW

Entre o silêncio de alguns e o desconforto da maioria, os guineenses na diáspora estão, de um modo geral, descontentes com a situação política na Guiné-Bissau, agravadas depois da alegada tentativa de golpe de Estado no início de fevereiro.

Sidónio Gomes está em Portugal desde 1985 e continua a seguir as notícias da Guiné-Bissau. É um dos cidadãos guineenses descontentes com a situação política no seu país natal. Acusa o Presidente Umaro Sissoco Embaló de autoritarismo e de cometer ilegalidades.

"Como é que eu posso estar de acordo com ilegalidade? Todas as ilegalidades ninguém quer. Na minha ótica, para construir um país, não é só uma pessoa”, diz.

Sidónio Gomes acusa o Presidente Umaro Sissoco Embaló de autoritarismo e de cometer ilegalidadesFoto: Joao Carlos/DW

Este guineense, ouvido pela DW nas ruas de Lisboa, afirma, por outro lado, que, nos últimos anos, os dirigentes da Guiné-Bissau abandonaram todos os princípios de unidade e de desenvolvimento defendidos por Amílcar Cabral, pai da independência nacional. 

"Na minha ótica, a teoria de Cabral morreu. Ninguém cumpriu. Como se desviaram dos princípios de Amílcar Cabral, estagnaram tudo”, lamenta. 

Carta aberta

A Associação Amílcar Cabral escreveu há poucos dias uma carta aberta onde expressa preocupação sobre a situação política do país depois do ataque ao Palácio do Governo, a 1 de fevereiro, qualificado como tentativa de golpe de Estado. Apela ainda ao Presidente da República e ao Executivo para respeitarem os "direitos do povo guineense", conquistados após a "longa luta pela independência". 

É um pedido que João Conduto subscreve.

"Tem havido da parte da diáspora muita reação face à situação que se vive no país. Nós temos um país que neste momento está completamente capturado por interesses obscuros”, acusa.

Este quadro guineense diz que o país enfraqueceu e ficou mais pobre, porque "certos interesses conseguiram capturar uma certa massa crítica, mas também, as Forças Armadas e uma boa parte dos políticos”.

Associação Amílcar Cabral preocupada com situação política do país depois do ataque ao Palácio do GovernoFoto: AFPTV TEAMS/AFP/Getty Images

"Eu estou absolutamente convencido que muitas pessoas que estão neste momento ao serviço dessa mão invisível não têm noção do quanto estão a prejudicar o seu próprio país. No dia em que tiverem noção [disso] vão ser os primeiros a revoltarem-se contra isso”, complementa.

Regressão nos direitos fundamentais

Igualmente preocupado, Mariano Quadé fala do sentimento de frustração dos guineenses face à forma como tem sido gerido o país, onde estão a regredir os direitos fundamentais. Dá o exemplo de limitações impostas a algumas figuras políticas, impedidas de se deslocarem livremente ao exterior. 

"Por outro lado, também tem havido no país notícias de ataques aos órgãos de comunicação social. Existem várias situações de violência física contra cidadãos e dirigentes partidários. Tudo isso transmite um clima de preocupação profunda”, frisa. 

Quadé sustenta que é premente uma mudança de paradigma, levando as autoridades no poder a compreenderem que "um país é feito de várias opiniões e de várias instituições que precisam de ter voz e expressão”. 

"E o desenvolvimento só pode ser alcançado através de um diálogo entre as instituições, entre as comunidades existentes no país com sensibilidades diferentes, procurando defender o interesse nacional e o interesse comum”.

Mariano Quadé fala em regressão nos direitos fundamentais na Guiné-BissauFoto: Joao Carlos/DW

Papel da CEDEAO e da CPLP

Fernanda, nome fictício, lamenta a negação dos direitos fundamentais e o recurso à violência com raptos, espancamentos e ameaças de morte. Esta guineense radicada em Portugal alerta, por outro lado, para aquilo que chama de "complô sub-regional para 'domar' a Guiné-Bissau”, alegadamente para "tirar proveito dos seus recursos naturais e calar as vozes dissidentes”. 

Por isso, avisa, é preciso questionar o verdadeiro papel na região da Comunidade Económica e de Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e rever a carta da sua fundação. 

"Comparativamente com a sua atuação no Mali, Guiné-Conacri e Burkina Faso, a sua atitude com a Guiné-Bissau tem sido iníqua, arrogante e da maior incompetência”, aponta.

Qualifica de ineficaz a atuação de organizações regionais e internacionais, e aponta o dedo à ausência da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).

Por seu lado, João Conduto pede ao poder instituído para cumprir as leis, pensar no país e no bem-estar das pessoas, numa altura em que "o mundo está numa situação muito complicada com a guerra na Europa do Leste”.  

"Imediatamente depois da Covid-19, é fundamental que o Governo se concentre na condição das pessoas para aliviar o sofrimento humano. Isso significa pensar no país e evitar situações de violência, porque a violência só projeta violência”, conclui. 

Reflexões Africanas: As ameaças à democracia da Guiné-Bissau

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