Depois de integrar a mítica banda Super Mama Djombo, o músico guineense lança-se internacionalmente a solo. Em entrevista à DW África, Binhan lamenta o desempenho das autoridades guineenses perante a crise no país.
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Binhan Quimor, uma das grandes vozes da nova geração de músicos da Guiné-Bissau, acaba de fazer em Lisboa o lançamento internacional da reedição do seu primeiro disco a solo. "Lifante Pupa" é a rampa para a projeção internacional de Binhan, que integrou a mítica banda guineense Super Mama Djombo e já foi distinguido como Artista Revelação e melhor cantor de música moderna pela crítica guineense.
O álbum a solo de Binhan destaca-se pela melodia, incluindo canções de amor, mas também de intervenção política e militar e hinos à Guiné-Bissau. Numa altura em que o país está a braços com a instabilidade, o músico exorta a classe política dirigente a respeitar os ideais da independência e a trabalhar para a construção de uma nova Guiné-Bissau.
Nascido em 1977, quatro anos depois da independência, Binhan critica os políticos guineenses por não saberem lidar com as crises que têm contribuído, ao longo de vários anos, para o estado de instabilidade permanente e consequente atraso no desenvolvimento económico e social do país.
20.04.17 Binhan desafia os políticos guineenses - MP3-Mono
Futuro adiado
"Desde a independência, em 1973, até à data presente, nós, guineenses, não conhecemos aquela paz que um ser humano, um povo, precisa de ter", lamenta o músico. "Sempre acontece alguma coisa e isso acaba por criar tensão e adiar a esperança do povo".
Mais de 40 anos após a independência, a instabilidade continua a ter efeitos negativos na vida dos guineenses, lembra Binhan. "Quem sai a perder em tudo isto são os jovens. O futuro dos jovens sempre foi adiado, a esperança morre a cada dia que nasce o sol", sublinha. Por isso, o músico apoia a reivindicação: "Os jovens agora decidiram resolver os seus problemas sem esperar pelos políticos. Os guineenses perderam a esperança nos políticos".
Com a democracia, acrescenta, o país deveria conhecer um novo rumo. Esta mensagem também faz parte do seu primeiro disco a solo: um apelo à paz real na Guiné-Bissau. "Mais vale tarde que nunca. É hora dos guineenses, dos nossos políticos e líderes começarem a pensar na paz, que é indispensável para desenvolver o país".
A riqueza do crioulo
O álbum "Lifante Pupa" (lançado em 2015 na Guiné-Bissau) inclui canções de intervenção política, mas também faixas que retratam o quotidiano social e a beleza do país. Para Binhan, a maior riqueza é a língua crioula, que considera ser um fator de unidade nacional e não um instrumento usado por alguns para dividir os guineenses por etnias. "Nós somos guineenses, nada nos pode separar. Nem a fome, nem a guerra, nem os políticos", garante.
Os políticos, diz Binhan, "ouvem e dançam" a música guineense, mas nem sempre acatam as mensagens em prol de uma nova Guiné-Bissau. "Não fazem nada para melhorar a situação".
Depois do lançamento internacional do álbum, Binhan regressa a Bissau para se preparar para concertos em várias partes do mundo. Alemanha, França, Inglaterra e Cabo Verde fazem parte do roteiro.
O disco foi gravado entre Bissau e Abidjan e conta com a participação especial de Queen Etmen (Camarões), Tshaga, filho de Aicha Koné (Costa do Marfim), e a cantora Monique Seka (Costa do Marfim).
Guiné-Bissau: futebol descalço entre os buracos da rua
Na maioria dos países, pratica-se futebol com condições apreciáveis e perante um calendário supra definido. Na Guiné-Bissau, no caso dos que se dedicam à prática desta profissão, eles enfrentam situações desconfortáveis.
Foto: Braima Darame
Futebol descalço
Na maioria dos países, pratica-se futebol com uma certa regularidade, com condições apreciáveis e perante um calendário supra definido. Na Guiné-Bissau, os atletas que se dedicam à prática da profissão, enfrentam situações desconfortáveis. As estruturas oferecidas pelas entidades desportivas do país desencorajam o investimento dos atletas em se profissionalizarem.
Foto: Braima Darame
Diamantes anónimos
A Guiné-Bissau é uma mina de diamantes anónimos no futebol. Apesar dessa potencialidade ser reconhecida, o desporto rei foi relegado para segundo plano. Num país onde as escolas públicas andam em constante paralisação e com sucessivas greves de professores, as crianças preenchem o seu tempo com partidas de futebol nas estradas e nas ruas esburacadas.
Foto: DW/B. Darame
Campos improvisados
À primeira vista pode assemelhar-se a uma zona pantanosa, reservada a pasto de gado, contudo, é um terreno destinado à prática futebolística, localizado em São Domingos, no extremo norte do país. São terrenos com obras em curso, impróprios para a prática de desporto, mas ainda assim, este espaço é muito disputado pelas equipas.
Foto: Braima Darame
Pequenos autodidatas
Sem escolas de formação e sem orientação de profissionais, cada um aposta nas qualidades que reconhece em si. Para estas crianças, assumir a posição de ataque em campo é muito apetecível pois sabem que os melhores e mais galardoados jogadores do mundo atuam nas zonas mais avançadas do retângulo de jogo.
Foto: Braima Darame
O sonho da alta competição
Maurício Sissé, apelidado de "Messi" graças à sua agilidade em campo, sonha um dia disputar um Campeonato do Mundo pela seleção nacional portuguesa, pois, segundo ele, é improvável que a Guiné-Bissau reúna condições para disputar o Campeonato. Sissé, de 10 anos, é orfão mas nos últimos meses tem estado à guarda de um empresário de futebol que pretende coloca-lo nas academias de formação na Europa.
Foto: Braima Darame
O treino diário
Chama-se Aliu Seidi, tem 8 anos e estuda na 2ª classe. Aliu é ainda criança mas já cresce nele o sonho de se profissionalizar no futebol. E não deixa que as dificuldades económicas dos seus pais travem neste desejo. Todas as manhãs bem cedo, Aliu arruma os seus equipamentos e segue em direção ao campo pelado de São Domingos, norte da Guiné-Bissau, para mais umas horas de treino.
Foto: Braima Darame
Com os pés no chão
Com muita paixão, garra e vontade de vencer, na Guiné-Bissau as crianças ainda jogam futebol de pés descalços, em lugares impróprios - com pedras ou vidros. Apesar de em cada partida estarem sujeito a se magoarem nos terrenos, o sonho de se tornarem estrelas futebolísticas, fala mais alto e as más condições não os afastam da prática desportiva.
Foto: Braima Darame
Seguir as pisadas rumo ao sucesso
O jogo é constantemente interrompido para permitir a passagem aos carros que circulam. Mas isto não os desmotiva. Têm sempre os olhos no percurso dos internacionais guineenses, desejando igual para si. Um exemplo é Bocindji, jogador na primeira liga francesa. Sami, atualmente na primeira liga portuguesa ou ainda Bruma, transferido do Sporting Clube de Portugal para o Galatasaray na Turquia.
Foto: Braima Darame
Uma partida no intervalo da lavoura
Nos últimos anos têm surgido algumas academias de formação no país. Martinho Sá, da academia Fidjus di Bideras em Bissau, joga futebol no intervalo do trabalho nos campos de arroz, que faz acompanhado pelos seus familiares. Sá conta que já teve lesões graves pela falta de condições dos campos improvisados e que não teve à sua disposição medicamentos de primeiros socorros.
Foto: Braima Darame
Uma incubadora falhada de jogadores
A falta de alimentação diversificada e a fraca formação representam os principais problemas que o país enfrenta para aqueles que vêm no desporto uma carreira em potência. Observadores defendem que se estas questões pudessem ser combatidas, a Guiné-Bissau tinha condições de ser uma incubadora de jogadores de topo.
Foto: Braima Darame
O melhor jogador da aldeia
Saído Baldé, tem apenas 7 anos de idade e nasceu na aldeia de Pelundo, no extremo norte do país. Confessa que nunca teve a oportunidade de assistir a um jogo de futebol na televisão, pois na sua aldeia não há corrente elétrica. Conta que nunca tomou o pequeno-almoço antes de se lançar para campo. Tal como Saído, são muitos os jovens no país que apenas fazem uma refeição por dia.
Foto: Braima Darame
Novos e velhos no Campeonato Defeso
A partir do início da última década, o Campeonato Defeso tem ganho muito impacto entre as comunidades e tem animado os bairros e as aldeias da Guiné-Bissau. Este campeonato de futebol amador e improvisado junta centenas de pessoas curiosas em ver o desempenho de atletas familiares, mas também, interessadas em assistir a novos jogadores que se dão a conhecer à comunidade pela primeira vez.
Foto: Braima Darame
Um campo portátil
E quando a vontade de jogar é muita, qualquer material serve para construir um campo improvisado de futebol. No caso desta fotografia, a cana de bambu foi utilizada para erguer uma baliza. Resta esperar que o resto da equipa chegue para começar uma nova partida.