O Conselho Municipal de Gurué, na província moçambicana da Zambézia, é acusado de usurpar terras que o Governo provincial ofereceu aos jovens locais para construírem as suas casas.
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Em 2011, o Governo de Moçambique deu luz verde aos Governos provinciais para a atribuição de terras aos jovens, de forma a minimizar o problema da falta de casa própria entre os jovens. Agora, o Governo provincial da Zambézia diz que está com dificuldades em atribuir terras aos jovens no Gurué, no extremo norte da província, porque a nova administração liderada pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM) está a dificultar o processo, alegadamente, devido aos beneficiários terem sido do partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
Segundo o diretor provincial da Juventude e Desportos, Beato Dias, o local que foi identificado para atribuição de lotes de terreno aos jovens foi entregue pela edilidade de Gurué a outras pessoas que não constavam na lista dos beneficiários anteriormente indicados pelas autoridades da província da Zambézia.
"O município atual ignorou aquilo que tinha sido planificado como talhões para jovens e começou a atribuir a outras pessoas", disse Beato Dias.
O presidente do Conselho Municipal de Gurué, Orlando Janeiro, mostrou-se indisponível para falar com a DW África sobre o assunto. Remeteu-nos para o chefe de gabinete que, por sua vez, indicou o vereador para a área de Urbanização em Gurué, Cotinho Viriato, que tentámos contactar, sem sucesso.
"Jogo do empurra"
Frederico Eusébio é um dos jovens candidatos aos terrenos para habitação. Conta que, muitas vezes, pediu esclarecimento às autoridades governamentais e nunca teve resposta que o esclarecesse.
"Desde 2014 até então, não temos resposta satisfatória. Quando vamos aos serviços distritais, dizem para irmos às infraestruturas. Nas infraestruturas, dizem para irmos à direção da agricultura. Não sabemos onde esse processo para e até agora, não temos acesso a esses talhões", descreve o jovem.
Gurué: MDM acusado de favorecer jovens do próprio partido
Horácio, outro jovem residente na cidade de Gurué, pede que as autoridades se entendam e que deem aos jovens os terrenos para habitação, tal como prometido.
"No programa ou agenda de Governo, considerando que o espaço é restrito e não abrange a todos, peço que seja adotado um critério de seleção transparente, de modo a não ferir a sensibilidade da própria juventude, e que não seja a própria juventude a apontar dedo a quem é inocente. Quando o processo é transparente, não se criam conflitos", diz o jovem.
O diretor provincial da Juventude da Zambézia Beato Dias, quer negociar com o Conselho Municipal de Gurué, atualmente sob gestão administrativa do MDM, para recuperar os talhões a atribuir aos jovens.
"Temos que entrar numa negociação, porque este é um plano governamental. Sendo um plano governamental, há uma necessidade do município responder a este plano. Também isto faz plano dos compromissos que o Governo fez com a juventude", afirma.
Produção de chá em Gurué
As maiores plantações de chá de Moçambique localizam-se em Gurué. Para muitos, apesar da baixa remuneração desta atividade, é a única hipótese de terem um trabalho para sustentar a família.
Foto: DW/M. Mueia
Colheita matutina inicia o processo
A colheita de folhas de chá é feita pela madrugada, entre as 4 e as 7 horas. Depois, as folhas seguem para a fábrica, onde serão colocadas em máquinas para a secagem, antes de serem trituradas e transformadas em cascas de chá - o produto final. Diariamente, os trabalhadores têm a meta de colher quantidades de folhas equivalentes a 50 quilos. Se não conseguirem, o salário será ainda mais “magro”.
Foto: DW/M. Mueia
Clima favorável
Devido à zona montanhosa, as temperaturas ficam abaixo dos 20 graus em Gurué. No período de inverno, entre maio e junho, as plantas de chá produzem menos folhas. Em consequência, há menos mão-de-obra sazonal a produção é menor, segundo os gestores e especialistas desta cultura.
Foto: DW/M. Mueia
Baixa remuneração
A maior parte da mão-de-obra contratada para a colheita de folhas de chá é composta por pessoas mais velhas. Os jovens não abraçam a atividade devido aos salários que não são sustentáveis. Em média, o salário diário varia entre 100 a 120 meticais (cerca de 1,50€), dependendo do esforço individual - quem colher mais quantidade recebe mais.
Foto: DW/M. Mueia
Chazeiras de Moçambique - Gurué
A fábrica tem a capacidade industrial de 50 toneladas de folhas verde de chá, equivalente a 10 toneladas de chá ensacado. Entre principais mercados de exportação estão o Dubai, a Alemanha, a Polónia, os Estados Unidos e Índia. A empresa tem 200 trabalhadores efetivos e 2000 trabalhadores locais sazonais.
Foto: DW/M. Mueia
Segurança no trabalho
A segurança é rigorosa na fábrica, para operários e visitas. As medidas de precaução estão escritas na porta principal da indústria e nas paredes que dão acesso direto às máquinas de processamento do chá.
Foto: DW/M. Mueia
Colher chá: opção de recurso
Baptista Alexandre Ricardo, de 55 anos. Trabalha na colheita de folhas de chá há quinze anos. É o trabalhador sazonal com mais tempo de casa na empresa "Chazeiras de Gurué". Para ele, foi a alternativa possível. Quando era jovem, sonhava com um bom emprego, que nunca conseguiu. Como alternativa, acabou por ir para a fábrica onde se habituou à atividade que exerce há mais de uma década.
Foto: DW/M. Mueia
Várias empresas chazeiras
A Sociedade de Desenvolvimento da Zambézia é uma das companhias produtoras de chá. Localiza-se no Bairro Murece, nome derivado da cadeia montanhosa que está nas imediações. A companhia produz, processa e exporta o chá. Um dos países para onde exporta é o Quénia. A nível nacional, o chá desta companhia é mais consumido na província de Sofala, Manica e na cidade de Quelimane.
Foto: DW/M. Mueia
Sacrifícios pela família
Galhardo Gemusse (esquerda) e Estefânio Janeiro (direita), são dois companheiros incansáveis. Caminham até ao depositário das folhas do chá. Trabalham na colheita do chá há 7 anos, para poderem sustentar as famílias. Desesperado com a vida económica e profissional, Estefânio, de 24 anos, não teve muita escolha. Casou-se cedo e tem uma família para cuidar.
Foto: DW/M. Mueia
Lenha é essencial na secagem das folhas
Além da energia elétrica, a lenha é fundamental para a preparação das folhas verdes de chá. Os troncos das árvores são postos em fogueiras, para secagem das folhas. Nesta área, os trabalhadores, na sua maioria, são jovens. A sua função é carregar manualmente os troncos até à fogueira. Este setor funciona 24 horas por dia, em turnos rotativos.
Foto: DW/M. Mueia
Faltam oportunidades para mulheres em Gurué
Alura Jorge é uma das poucas mulheres sazonais na colheita na companhia Chazeiras de Moçambique. Está há um mês neste trabalho. Segundo explica, a Cidade de Gurué é desprovida de oportunidades de empregos para mulheres solteiras.