Guterres: É preciso reconhecer "potencial" africano
Lusa | tms
25 de maio de 2017
Secretário-geral da ONU, António Guterres, celebra o Dia de África em comunicado. Ele elogia o continente como maior contribuinte para forças de paz.
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, destacou esta quinta-feira (25.05) a importância dos Estados africanos no fornecimento de forças de paz que operam em todo o mundo e defendeu uma mudança de narrativa sobre o continente, no dia em que a organização assinala o Dia de África.
Segundo a informação disponibilizada no portal da Organização das Nações Unidas (ONU) na Internet, o continente africano fornece 56,4 mil tropas, polícias e peritos militares, o equivalente a 58% do contingente total da organização, com António Guterres a considerar que a relação entre as Nações Unidas e África é de "um profundo sentimento de gratidão".
Além disso, as nações africanas são também das que mais acolhem refugiados, "demonstrando a maior generosidade", disse António Guterres, citado na página da organização, no Dia de África, que comemora a fundação, em 1963, da União Africana e serve o propósito de anualmente destacar as realizações de África e avaliar os problemas que ainda estão por resolver.
Mudança de narrativa
Sobre os conflitos que há em África, o secretário-geral destacou o seu caráter interno, "desencadeados por luta pelo poder e pelos recursos, desigualdade, marginalização, desprezo pelos direitos humanos e divisões sectárias", e muitas vezes "exacerbados ou alimentados pelo extremismo violento", considerando que apesar das crises e conflitos o continente africano tem feito progressos, além de que nele existem "algumas das economias cujo crescimento é o mais rápido do mundo".
Guterres manifestou ainda vontade de que, tanto a Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável, como a Agenda 2063 para África estejam alinhadas nos seus objetivos para que os povos "beneficiem plenamente dos dois esforços importantes".
"Neste dia de Africa, reafirmo o meu compromisso como parceiro, amigo e defensor para mudar a narrativa deste diverso e vital continente. As crises representam apenas uma visão parcial. A partir de uma plataforma, podemos ter uma visão geral, que reconhece o enorme potencial e as incríveis histórias do continente africano", concluiu o secretário-geral da ONU.
O secretário-geral destacou ainda os jovens, considerando que é importante investir "no ensino, na formação, no trabalho decente" para os envolver na "definição do seu futuro".
Missões de paz da ONU em África
Os capacetes azuis da Organização das Nações Unidas têm intervido em vários países africanos. A MONUSCO, missão de paz da ONU na República Democrática do Congo, é a maior e mais cara de todas. Mas há várias.
Foto: picture-alliance/AA/S. Mohamed
RD Congo: a maior missão da ONU
Desde 1999, que a Organização das Nações Unidas (ONU) tenta pacificar a região oriental da República Democrática do Congo (RDC). A missão conhecida como MONUSCO conta com cerca de 20 mil soldados e um orçamento anual de 1,4 mil milhões de euros. Ainda que esta seja a maior e mais cara missão da ONU, a violência no país persiste.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Darfur: impotente contra a violência
A UNAMID é uma missão conjunta da União Africana e da ONU na região de Darfur, no Sudão, considerada por alguns observadores um fracasso. “O Conselho de Segurança da ONU deve trabalhar mais arduamente para encontrar soluções políticas, em vez de gastar dinheiro no desdobramento militar a longo prazo”, afirmou o especialista em segurança, Thierry Vircoulon.
Foto: picture-alliance/dpa/A. G. Farran
Sul do Sudão: fechar os olhos ao conflito?
A guerra civil no Sul do Sudão já fez com que, desde 2013, mais de quatro milhões de pessoas abandonassem as suas casas. Alguns estão abrigadas em campos de ajuda da ONU. Mas, quando os confrontos entre as forças do Governo e os rebeldes começaram na capital Juba, em julho de 2016, os capacetes azuis não foram bem sucedidos na intervenção.
Foto: Getty Images/A.G.Farran
Mali: mais perigosa missão da ONU no mundo
As forças de paz da ONU no Mali têm estado a monitorizar o cumprimento do acordo de paz realizado entre o Governo e a aliança dos rebeldes liderada pelos tuaregues. No entanto, grupos terroristas como o AQMI continuam a levar a cabo ataques terroristas que fazem com que a Missão da ONU no Mali (MINUSA) seja uma das mais perigosas do mundo. A Alemanha cedeu mais de 700 militares e helicópteros.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
RCA: abusos sexuais fazem manchetes
A missão da ONU na República Centro-Africana (MINUSCA) não ajudou a melhorar a imagem das Nações Unidas no continente africano. As tropas francesas foram acusadas de abusar sexualmente de crianças pela campanha Código Azul. Três anos depois, as vitimas não têm ajuda da ONU. Desde 2014, 10 mill soldados e 1800 polícias foram destacados para o país. A violência diminuiu, mas a tensão mantém-se.
Foto: Sia Kambou/AFP/Getty Images
Saara Ocidental: Esperança numa paz duradoura
A missão da ONU no Saara Ocidental, conhecida por MINURSO, está ativa desde 1991. Cabe à MINURSO controlar o conflito existente entre Marrocos e a Frente Polisário que defende a independência do Saara Ocidental. Em 2016, Marrocos, que ocupa este território desde 1976, dispensou 84 funcionários da MINURSO após um discurso do secretário-geral da ONU que o país não aprovou.
Foto: Getty Images/AFP/A. Senna
Costa do Marfim: um final pacífico
A missão da ONU na Costa do Marfim cumpriu o seu objetivo a 30 de junho de 2016, após 14 anos. As tropas têm vindo a ser retiradas, gradualmente, o que, para o ex secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, significa “um ponto de viragem das Nações Unidas na Costa do Marfim”. No entanto, apenas depois da retirada total das forças e a longo prazo é que se saberá se a missão foi ou não bem sucedida.
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo
Libéria: missão cumprida
A intervenção da ONU na Libéria chegou ao fim. Desde o fim da guerra civil, que durou 14 anos, que a Missão da ONU na Libéria (UNMIL) tem assegurado a estabilidade na Libéria e ajudado a construir um Estado funcional. O Governo do país quer agora garantir a segurança da Libéria. O país ainda está a lutar com as consequências de uma devastadora epidemia do Ébola que o assolou.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Sudão: Etiópia é promotora da paz?
Os soldados da Força de Segurança Interina da ONU para Abyei (UNISFA) patrulham esta região, rica em petróleo, e que, tanto o Sudão, como o Sudão do Sul, consideram ser sua. Mais de quatro mil capacetes azuis da Etiópia estão no terreno. A Etiópia é o segundo maior contribuinte para a manutenção da paz no mundo. No entanto, o seu exército é acusado de violações de direitos humanos no seu país.
Foto: Getty Images/AFP/A. G. Farran
Somália: Modelo futuro da União Africana?
As forças de paz da ONU na Somália estão a lutar sob a liderança da União Africana numa missão conhecida como AMISOM. Os soldados estão no país africano para combater os islamitas al-Shabaab e trazer estabilidade ao país devastado pela guerra. Etiópia, Burundi, Djibouti, Quénia, Uganda, Serra Leoa, Gana e Nigéria contribuem com as com suas tropas para a AMISOM.