Guterres: "O mundo está farto" do "pesadelo sem fim" em Gaza
23 de março de 2024O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse este sábado (23.03) no Egito, durante uma visita à fronteira da Faixa de Gaza, que o mundo já viu o suficiente dos horrores da guerra e apelou a um cessar-fogo para permitir a entrada de mais ajuda humanitária no território.
"Os palestinianos em Gaza - crianças, mulheres, homens - continuam presos num pesadelo sem fim", disse Guterres no lado egípcio da passagem de Rafah, onde camiões de ajuda humanitária chegam a Gaza, mas a população é perseguida pela "fome e inanição".
"Sou portador das vozes da grande maioria do mundo que já viu o suficiente", disse Guterres, lamentando "comunidades destruídas, casas demolidas, famílias inteiras e gerações dizimadas".
O chefe da ONU reiterou que "nada justifica os horríveis ataques do Hamas" contra Israel, que desencadearam a guerra a 7 de outubro.
"Punição coletiva"
"Nada justifica a punição coletiva do povo palestiniano", acrescentou o secretário-geral das Nações Unidas.
Guterres, falando em frente aos portões do lado egípcio da cidade fronteiriça de Rafah, através dos quais passam os camiões de ajuda humanitária, disse que o "desgosto e a insensibilidade de tudo isto" eram claros.
"Uma longa fila de camiões de ajuda humanitária bloqueados de um lado dos portões. A longa sombra da fome do outro lado", o que classificou como "um ultraje moral".
Guterres sublinhou que "é mais do que tempo para um cessar-fogo humanitário imediato" e apelou a Israel para "um acesso total e sem restrições aos bens humanitários em toda a Faixa de Gaza".
O chefe da ONU, que realiza anualmente uma "missão de solidariedade" às comunidades muçulmanas em dificuldades durante o mês sagrado de jejum, afirmou que "no espírito de compaixão do Ramadão, é também altura de libertar imediatamente todos os reféns" capturados nos ataques de outubro e ainda detidos por militantes em Gaza.
Reagindo à visita de Guterres, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Israel Katz, disse que as Nações Unidas se tornaram um "órgão anti-israelita" sob a liderança de António Guterres.
"Sob a sua liderança, a ONU tornou-se um organismo antissemita e anti-israelita que abriga e encoraja o terror", criticou Katz no X, antigo Twitter.
Conflito arrasta-se há cinco meses
Os confrontos não abrandaram na Faixa de Gaza, em especial nas imediações do hospital al-Chifa, na Cidade de Gaza (norte), onde o exército israelita iniciou na segunda-feira uma operação com dezenas de veículos blindados, com base em informações segundo as quais o hospital estaria a ser utilizado por "terroristas de alta patente do Hamas".
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque do Hamas em solo israelita em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns, segundo as autoridades de Israel.
Desde então, Israel tem em curso uma ofensiva em Gaza que provocou mais de 32.000 mortos, de acordo com o balanço mais recente do Ministério da Saúde do Hamas.
O grupo islamita palestiniano, que controla Gaza desde 2007, é classificado como uma organização terroristas por Israel, Estados Unidos e União Europeia.