O secretário-geral das Nações Unidas apelou a mais cooperação internacional para evitar tragédias. "Queria ver a mesma cooperação para o tráfico de pessoas como a que vejo contra o tráfico de drogas", afirmou.
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O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu este domingo (03.11) mais cooperação internacional para evitar tragédias como a dos 39 emigrantes, possivelmente vietnamitas, que foram encontrados mortos na semana passada num camião em Inglaterra.
Durante a cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), Guterres destacou a necessidade de organizar a migração para que seja legal e deixar assim sem "negócio" as redes de tráfico de pessoas. "Gostaria de ver a mesma cooperação internacional para o tráfico de pessoas como a que vejo contra o tráfico de drogas, porque o tráfico de pessoas humanas é um crime mais abjeto que o de drogas", disse.
Guterres também apontou que o Governo da Birmânia (Myanmar) é responsável por alcançar a "reconciliação" no estado Rakáin, no oeste do país, e a repatriação de forma segura e com dignidade dos refugiados rohingya do Bangladesh.
Os rohingya, uma etnia não reconhecida pela Brimânia, iniciaram em agosto de 2017 um êxodo massivo para o vizinho Bangladesh após uma campanha militar qualificada por investigadores da ONU de "limpeza étnica" com indícios de "genocídio".
Mudanças climáticas
O secretário-geral das Nações Unidas também defendeu o multilateralismo nas relações internacionais e instou os Governos a lutar contra a crise climática, que classificou como um problema "chave" para a segurança.
A esse propósito, referiu-se ao recente relatório que indica a perda de grandes zonas costeiras em 2050 devido ao aumento do nível médio do mal que afetará 300 milhões de pessoas, dos quais 70 por cento na Ásia.
"É absolutamente essencial evitar que isto ocorra", afirmou Guterres, que instou os países a usar energias renováveis, que qualificou de mais baratas e eficientes, e a deixar de construir centrais de carvão a partir do próximo ano.
A ASEAN é formada por Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Tailândia e Vietnã. O encontro será encerrado esta segunda-feira (04.11).
As batalhas de Kofi Annan
Nascido no Gana, Kofi Annan tornou-se no primeiro líder africano e negro da ONU e num dos grandes nomes da diplomacia mundial. Bateu-se pela paz, mas a luta nem sempre correu bem.
Foto: Getty Images/AFP/H. Zaourar
Estrela em ascenção da Organização das Nações Unidas (ONU)
Kofi Anan nasceu no seio de uma conhecida família no Gana em 1938. Estudou na Suíça e nos Estados Unidos. Começou a trabalhar na ONU com 24 anos. Em 1993, tornou-se chefe das operações de manutenção da paz. Um dos primeiros desafios foi a crise na Somália, quando confrontos entre forças norte-americanas apoiadas pela ONU e milícias da Somália causaram a morte a 18 soldados americanos.
Foto: Getty Images/AFP/H. Zaourar
Derrotas na Bósnia e no Ruanda
As forças de manutenção da paz da ONU não conseguiram travar os genocídios no Ruanda e na Bósnia na década de 90. As missões malogradas levaram Annan a “criar uma nova compreensão de legitimidade e necessidade, de intervenção frente a graves violações dos direitos humanos”, escreveu na sua auto-biografia de 2012.
Foto: Getty Images/AFP/A. Joe
Apoio norte-americano
Em 1996, os EUA queriam substituir o então secretário-geral da ONU Boutros Boutros-Ghali, que, por repetidas vezes, ia contra os interesses de Whashington. Annan, por seu lado, enquanto substituto de Boutros-Ghali, autorizou a intervenção na Bósnia liderada pelos norte-americanos. Mais tarde, o veto dos EUA ao segundo mandato de Boutros-Ghali abriu caminho para Annan chegar ao posto em 1997.
Foto: Reuters/R. Wilking
Prémio Nobel da Paz
Em 2001, o Comité do Prémio Nobel da Paz atribuiu o galardão à ONU e ao seu líder, Kofi Annan, elogiando Annan por revitalizar a ONU e lutar pelos direitos humanos. “Não estou aqui sozinho”, disse Annan no discurso de aceitação. Annan agradeceu ao Comité em nome dos seus colegas da ONU “que dedicaram a vida e, em muitos casos, arriscaram ou perderam a vida pela paz.”
Foto: picture-alliance/dpa/H. Junge
Annan vs Whashington
Os Estados Unidos invadiram o Iraque em 2003, ignorando o Conselho de Segurança da ONU e irritando muitos dos seus aliados mais próximos. Annan opôs-se abertamente à invasão a que chamou de “ilegal”. As declarações causaram revolta entre os que anteriormente o apoiaram em Washington.
Foto: picture-alliance/ dpa/Y. Logghe
Sob investigação
Em 2004, Annan viu-se envolvido num escândalo de corrupção devido ao programa no Iraque “Petróleo por Alimentos”, pois o seu filho Kojo recebia honorários de uma empresa envolvida no programa. Annan acabou por ser ilibado de má conduta, mas ficou por esclarecer o seu papel na obtenção do negócio pelo filho. Alguns analistas acreditam que o escândalo foi orquestrado por diplomatas norte-americanos.
Foto: Getty Images/A.Burton
Depois da ONU
Kofi Annan terminou o segundo mandato de cinco anos em 2006 e foi sucedido por Ban Ki-moon. Mas o diplomata ganês permaneceu ativo na luta pela paz. Ao lado de Nelson Mandela, Desmond Tutu e outros diplamatas e ativistas reconhecidos, Annan fundou a organisação não governamental “The Elders”, que luta pela pez e pelos direitos humanos.
Foto: Getty Images
Tentativa falhada na Síria
Annan voltou aos holofotes como o enviado da ONU à Síria, em 2012, durante a fase inicial do conflito que viria a transformar-se na infindável e sangrenta guerra civil. No entanto, abandonou o posto cinco meses depois, frustrado com a falha em honrar compromissos por parte dos grandes poderes. “Perdi as minhas tropas a caminho de Damasco”, disse.
Foto: Reuters/Sana
Myanmar: a última missão
Em 2016, Annan viajou para o Myanmar para liderar uma comissão consultiva no conflito com os Rohingya, gerando muitos protestos entre a maioria budista no país. A comissão pediu ao Governo que terminasse com a pobreza entre o povo Rohingya e garantisse os seus direitos. Em outubro de 2017, Annan pediu à ONU que pressionasse Myanmar para receber de volta os Rohingya exilados.