O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, recomendou o aumento de mais 2.000 capacetes azuis da força de manutenção da paz no Mali para melhor proteger o centro do país.
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Num relatório apresentado ao Conselho de Segurança, a que a AFP teve hoje acesso, o secretário-geral da ONU, António Guterres, exige um destacamento adicional de 1.730 militares e 339 polícias ara melhor proteger o centro do Mali.
"Esta proposta visa alargar, de forma integrada, o âmbito e a mobilidade das operações da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA), tendo especialmente em conta a segurança do pessoal, a capacidade de absorção da missão e a necessidade de somar mais efetivos militares e polícias com vista a uma estratégia de estabilização no centro", transmitiu, no documento, o secretário-geral da ONU.
O pedido foi feito em meados de julho, numa resolução aprovada pelo Conselho de Segurança em 29 de junho, que renovou por um ano o mandato da missão da ONU na República Centro-Africana (MINUSTAH).
Segundo António Guterres, o reforço da MINUSMA deve incluir uma dúzia de helicópteros.
Em junho, o embaixador francês na ONU, Nicolas de Rivière, tinha lamentado que estejam apenas 2.000 capacetes azuis destacados no centro do país com "três helicópteros colocados à disposição de duas em duas semanas".
França, que tinha anunciado pouco antes da adoção da resolução o fim da operação Barkhane com uma configuração da sua presença militar, esperava poder integrar o contingente da MINUSMA, mas a aprovação necessária do Congresso dos EUA para um acréscimo das despesas em operações de paz não pôde ser obtida no imediato.
Numa carta que acompanha o relatório, Guterres sublinhou que o custo com o reforço da missão para a manutenção da paz no Mali está estimado em 182,9 milhões de dólares (cerca de 154 milhões de euros) anuais.
Ainda não se sabe quando é que o Conselho de Segurança decidirá sobre o pedido de aumento do número de soldados da paz.
A MINUSMA, que é uma das mais dispendiosas e perigosas missões de manutenção da paz da ONU, foi autorizada a enviar até 13.289 tropas e 1.920 polícias para o Mali.
Conflito no Mali: Dogon refugiam-se em terra ancestral
Com a escalada do conflito no centro do Mali, o povo Dogon fugiu da região de Mopti, que foi a sua casa durante cerca de 700 anos, para "Mande", a sua terra ancestral.
Foto: Udo Lucio Borga
Uma nova vida na terra ancestral
Tal como milhares de outros Dogon, Isaie Dignau deixou a região de Bandiagara, no centro do Mali, por causa da insegurança. Ele e a família refugiaram-se em Nana Kenieba, uma aldeia a cerca de 150 quilómetros a sudeste da capital Bamako. De acordo com Isaie, os contadores de histórias Dogon previram esta migração para terras outrora chamadas "Mande" há centenas de anos.
Foto: Udo Lucio Borga
A profecia do regresso a casa cumpriu-se
Segundo a lenda, os Dogon são originalmente de "Mande", a região do povo Malinke. Entre os séculos XI e XIII, foram forçados a partir face à islamização da África Ocidental. Após uma longa migração, instalaram-se em torno da famosa falésia de Bandiagara, no que é hoje a região de Mopti. Agora, devido à ameaça jihadista, estão a regressar a casa.
Foto: Udo Lucio Borga
Mali, um conflito sem fim
Os caçadores de Dan Na Ambassagou são a principal milícia Dogon em Mopti. O conflito no Mali começou em 2012 e em 2016 alastrou-se para o centro do país. À medida que as tensões entre grupos étnicos aumentavam, formaram-se milícias de autodefesa. A violência é causada pela falta de terras férteis e de água numa área afetada pelo jihadismo.
Foto: Ugo Lucio Borga
As consequências do conflito
O Mali está a enfrentar uma grave crise humanitária em regiões já subdesenvolvidas. A insegurança alimentar afeta 1,3 milhões de pessoas. Cerca de 347.000 pessoas foram forçadas a fugir das suas terras. Muitas procuraram refúgio em países vizinhos, mas a maioria está deslocada internamente e refugiada no sul do Mali e em campos de refugiados próximos de áreas urbanas.
Foto: Ugo Lucio Borga
Os Dogon no conflito do Mali
Muitos Dogon estão diretamente envolvidos no conflito. Seidu Doungo lutou contra os Dan Na Ambassagou na região de Koro. Em 2020, abandonou as armas. A sua família foi ameaçada por jihadistas e ele já não conseguia uma fonte de rendimento. Quando Seidu ouviu falar de Nana Kenieba, decidiu deixar Koro para encontrar a paz em "Mande".
Foto: Ugo Lucio Borga
A hospitalidade local
Os Malinke são o grupo étnico maioritário em Nana Kenieba. Segou Keita é o chefe da aldeia e acolheu os Dogon que regressaram de acordo com a antiga profecia. A comunidade apoia-os financeiramente e inclui-os na tomada de decisões.
Foto: Udo Lucio Borga
Distribuição justa da terra
No alojamento principal de Nana Kenieba, Isaie Dignau mostra a alguns habitantes um mapa das parcelas de terreno. Desde 2016, cerca de 400 famílias Dogon, principalmente de Mopti, instalaram-se aqui. Cada família recebeu dois hectares de terra e alimentos.
Foto: Udo Lucio Borga
Uma comunidade secular
Os Dogon são uma comunidade secular, onde as pessoas são livres de professar o islamismo, o cristianismo ou crenças ancestrais. A aldeia tem duas mesquitas e duas igrejas, com correspondentes escolas corânicas e aulas de catecismo, sinal de um novo tempo de abertura.
Foto: Udo Lucio Borga
O medo ainda existe
O ambiente pacífico de "Mande" parece muito longe do conflito no Mali. Mas a comunidade vive com medo de que os jihadistas possam chegar e iniciar um conflito. Em Nana Kenieba, os habitantes organizaram patrulhas que mantêm os bandidos afastados por agora.