Bissau-Bissau: Hospital dedicado à tuberculose sem condições
23 de julho de 2020Na segunda-feira (20.07), os funcionários boicotaram o funcionamento do hospital Raoul Follereau, queixando-se de falta de materiais e condições mínimas para o trabalho, sem máscaras de proteção e luvas.
O hospital é o único centro especializado em tratamento da tuberculose na Guiné-Bissau e é administrado pela ONG italiana Ajuda à Saúde e Desenvolvimento (AHEAD), que assumiu garantir consultas, internamentos e tratamentos gratuitos a pacientes com tuberculose, com direito a cinco refeições diárias, tudo de forma gratuita.
Mas os doentes internados no hospital ouvidos pela DW África relatam outra realidade.
"Impediram que a comida saia de casa, mas na sua comida [do hospital] põem um litro de limão e, se a comer, sente dor de estômago e de peito. Logo, de que vale impedir que a comida venha de casa? E impedem-nos de comer aqui dentro", denuncia uma paciente.
"Não é toda a gente que tem mosquiteiro aqui, eu mandei pedi-lo em casa. O que me deram aqui não está bom. Mas o pequeno-almoço que nos preparam está bom e comemos", disse outro doente.
Inspeção confirma denúncias
A situação levou à intervenção da Inspeção-Geral da Saúde. Benjamim Lourenço Dias, inspetor-geral, disse ter confirmado no terreno as denúncias dos doentes:
"Constatámos, de facto, o que eles [doente] disseram. Constatámos que muitas coisas que disseram é verdade, porque estivemos lá, estava a chover e aproveitámos para visitar as enfermarias e vimos baldes em cima das camas para evitar que as espumas molhassem."
Mas a administração garante, em comunicado, que o hospital "tem funcionado plenamente e garante ótimas condições aos seus pacientes". Segundo a gerência do Raoul Follereau, existem "interesses" por detrás das reivindicações dos trabalhadores.
Informações apuradas pela DW África indicam que, com a pandemia da Covid-19, aumentou a "procura" no centro de tratamento de tuberculose, que já chegou a receber casos suspeitos de infeção com o novo coronavírus.
Governo abandona hospitais?
Na Guiné-Bissau, há vários centros especializados no tratamento de diferentes patologias que se encontram sob tutela de ONG ou foram abandonados.
O médico Hedwis Martins pede ao Governo que assuma as suas responsabilidades: "São as ONG que ajudam na sustentabilidade, no funcionamento administrativo e no funcionamento das estruturas hospitalares".
"Governo deve assumir as instituições especializadas e vê-las como fonte de receita”, exorta Martins.
O médico defende ainda que "é só organizar e equipá-las, criar condições para que as análises que vão ser solicitadas sejam feitas no próprio centro hospitalar e os doentes possam ter um internamento condigno".