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ConflitosSudão

Há risco de uma guerra civil no Sudão?

tm | Kersten Knipp | Andreas Noll | com agências
18 de abril de 2023

Os confrontos entre o exército e os paramilitares no Sudão não dão trégua. Desde sábado, mais de 185 pessoas morreram e 1.800 ficaram feridas, segundo a ONU. Uma comitiva diplomática dos EUA foi atacada na segunda-feira.

Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance

Uma comitiva diplomática dos Estados Unidos no Sudão foi atacada na segunda-feira (17.04), mas ninguém ficou ferido, disse o secretário de Estado Anthony Blinken. "Todo o nosso pessoal encontra-se são e salvo", mas este é um "ato irresponsável", acrescentou.

Na noite passada, o embaixador da União Europeia (UE) também foi atacado na sua residência. A informação foi avançada através da rede social Twitter pelo chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, sem avaçcar detalhes.

Nos últimos três dias, as batalhas alastraram-se a várias regiões sudanesas há relatos de ataques aéreos na capital, Cartum. Segundo os mais recentes números da ONU, mais de 185 pessoas morreram e 1.800 estão feridas.

A crescente violência eclodiu após semanas de uma luta pelo poder entre o exército comandado pelo governante do Sudão, o general Abdel-Fattah al-Burhan, e as Forças de Apoio Rápido (RSF), lideradas pelo general Mohammed Hamdan Dagalo, também conhecido como "Hemeti".

Haverá indícios de que se está perante a eclosa uma guerra civil no país? "Isto não é, de forma alguma, uma guerra civil", responde Marina Peter, presidente do Fórum alemão do Sudão e do Sudão do Sul.

"A sociedade civil sempre tentou pressionar por reformas democráticas e tem continuado com os seus protestos. Disseram desde o início que enquanto os militares ou as Forças de Apoio Rápido estiverem no poder, nunca haveria paz ou democracia. Agora os movimentos civis estão no meio desta luta", explica.

Mohamed Hamdan Dagalo, chefe adjunto do conselho militar e chefe das forças paramilitares RSFFoto: Umit Bektas/REUTERS

"A chave da Rússia para África"

Após um golpe militar em 2021, o Sudão foi governado pelo chamado Conselho Soberano Transitório sob a liderança de Burhan, tendo Hemeti como presidente adjunto. Embora alguns analistas considerem que a aliança entre os dois homens nunca tenha sido estável, Burhan e Hemeti continuam ligados pelo medo de serem responsabilizados pelas suas ações, considera a analista.

"Ambos têm antecedentes militares. Embora de formas diferentes, ambos são protegidos do [antigo governante] Omar al-Bashir, deposto [em 2019 após três décadas no poder]", recorda Marina Peter.

Além disso, é provável que os rivais estejam preocupados com o controlo dos ricos recursos naturais do país.

Em 2017, o então ditador al-Bashir, durante uma reunião com o Presidente russo, Vladimir Putin, prometeu que "o Sudão poderia se tornar a chave da Rússia para África”.

Naquela altura, a empresa russa M-Invest recebeu direitos mineiros para explorar minas sudanesas. Mas segundo o Departamento do Tesouro dos EUA, esta é uma empresa de fachada do Grupo Wagner. Agora, as minas estão a ser exploradas pelas forças paramilitares em conjunto com a russa M-Invest.

Continuam os combates em Cartum entre o exército e os paramilitares Foto: INSTAGRAM @LOSTSHMI via REUTERS

Egito não interfere no conflito

Outros países também têm interesses no Sudão. O governo egípcio, por exemplo, prefere um Governo autocrático sob a liderança de Burhan e por isso apoia-o, de acordo com a analista Marina Peter. Ao mesmo tempo, o Egito também fornece apoio humanitário ao Sudão, como aconteceu, por exemplo, durante as cheias devastadoras do verão passado.

Na segunda-feira (17.04), o Presidente Abdel Fattah el-Sissi disse que as tropas egípcias no Sudão estão lá apenas para conduzir exercícios com os seus homólogos sudaneses e não para apoiar qualquer uma das partes em conflito. O chefe de Estado disse também que o Egito estava em contacto regular com o exército sudanês e a RSF para os encorajar a chegar a um cessar-fogo.

O rival de Burhan, Hemeti, por outro lado, tem boas relações com a Eritreia e a Etiópia, além do Iémen, onde partes da sua milícia estão ativas. Devido à exploração conjunta das minas de ouro,  também tem contactos estreitos com Moscovo.

"Tudo isto explica a ferocidade dos combates", diz Christine Roehrs, chefe da fundação alemã Friedrich-Ebert-Stiftung em Cartum. "Em última análise, ambos os adversários no Sudão estão preocupados com o poder e a influência", diz.

"Também não é claro quem disparou o primeiro tiro e quem provocou quem. O que é claro é que ambas as partes sabem que milhões de sudaneses votaram a favor da democracia e contra o domínio militar na revolução de 2018. Ambos agora ignoram isto, uma vez que se armaram até aos dentes e estão a atacar-se uns aos outros", conclui Roehrs.

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