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Cabo Delgado: Sul-africanos podem repetir erros do passado?

2 de agosto de 2021

Académico residente na África do Sul acredita no empenho da missão sul-africana em evitar erros cometidos em missões passadas. Por outro lado, avalia que os equipamentos de guerra que chegam a Cabo Delgado são obsoletos.

Soldados moçambicanos em Cabo Delgado (Foto ilustrativa)Foto: Roberto Paquete/DW

Em entrevista à DW África esta segunda-feira (02.08), o académico alemão residente na África do Sul André Thomashausen relata que que as "forças de defesa da África do Sul realmente conduziram uma missão que só se pode considerar fracassada na República Democrática do Congo".

Segundo Thomashausen, naquela missão, "os soldados sul-africanos eram conhecidos pela sua violência sexual contra menores e mulheres, pelo seu hábito de tentar roubar e traficar recursos naturais e muito tragicamente pelo muito elevado nível de infeção com HIV que provocou tanta miséria na região da RDC que as forças sul-africanas praticamente ocuparam durante anos".

"Nunca mais se quiseram retirar, até hoje estão lá", lembra o académico.

Hesitação de Maputo

André Thomashausen entende que este histórico foi determinante para a hesitação de Maputo, durante algum tempo, em convidar soldados sul-africanos em Cabo Delgado. Mas a crescente incapacidade de Moçambique de acabar com o terrorismo não lhe deixou outra opção se não aceitar a presença dos vizinhos, no âmbito de uma missão de prontidão da SADC. É caso para recear uma repetição das atrocidades cometidas pelos militares sul-africanos no norte de Moçambique?

Thomashausen espera que prevaleça a disciplina. "Claro que a África do Sul está consciente de que a sua reputação está um bocado em jogo e vai fazer tudo por tudo para que os destacamentos ajam de forma correta e seguindo as regras do direito internacional de resolução de conflitos armados. Não pode haver abusos contra a população civil, não pode haver sevícias, ataques", ressalta o académico alemão.

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Contudo, um pequeno batalhão de tropas sul-africanas, composto por forças especiais e não relacionado com a força da SADC, terá chegado ao norte de Moçambique a 22 de julho. A missão prestes a chegar, comandada pelo major-general Xolani Mankayi que liderou uma polémica missão militar sul-africana na República Centro-Africana, está, entretanto, envolta em certo secretismo, diz o académico.

"Há muita especulação, muito boato. Serão forças de elite, que tiveram muita formação em antiterrorismo e em intervenções aéreas. Deve ser gente bem escolhida, com currículo estabelecido", afirma.

Equipamentos sul-africanos

E neste fim de semana transitaram da África do Sul para o norte de Moçambique veículos do batalhão. Pelas características dos carros, a especialista sul-africana em contraterrorismo da ACLED, Jasmine Opperman, prevê o tipo de operações que deverá ocorrer no palco de guerra:

"Se olharmos para os vídeos que mostram os veículos a chegar, é bastante claro que os veículos motorizados são para transporte de pessoal, bem como carros hospitalares. Não vemos uma implantação pesada, com brigadas mecanizadas. É claro que eles se estão a preparar para uma guerra de guerrilha, e querem ter mobilidade, não querem ter entraves em ambientes onde é muito difícil movimentarem-se. Querem ter veículos que se movem rapidamente, que lhes permitam desembarcar rapidamente, atacar e regressar ao veículo. Para perceber o que se passa temos apenas os vídeos que nos chegam (...), mas temos de ter cuidado com a palavra 'mecanizada'".

Foto ilustrativa de veículo militar sul-africanoFoto: AFP/P. Bauermeister

De acordo com a especialista, "estamos a olhar para a capacidade motorizada para a brigada 43". "A brigada 43", continua Jasmine Opperman, "tem todas estas capacidades, mas tem poucos recursos. Recebem poucos fundos. O orçamento não é suficiente, e essa é uma preocupação constante. O destacamento de três meses não será suficiente".

Uma leitura corroborada por Thomashausen, que acrescenta ainda: "É do conhecimento público que o material e equipamento têm muitos anos de serviço, todo o material de transporte rodoviário, em média, tem 40 anos de serviço. Sei que a caravana que seguiu para Cabo Delgado não conseguirá fazer a viagem da África do Sul até Cabo Delgado sem avarias. Claro que o pessoal que lá vai não tem experiência de conflito, o último conflito que a África do Sul viveu já foi há mais de 40 anos".

Outro aspeto ainda nebuloso desta missão é relativo à sua natureza. Segundo Thomashausen, não se sabe se é uma missão de manutenção de paz, de proteção de infraestruturas ou ofensiva.

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