Para o ministro das Finanças, Economia e Planeamento da Guiné Equatorial, existe "um problema de narrativa com a Guiné Equatorial e contra África em geral". E César Mba Abogo culpa a imprensa.
Publicidade
"Há um problema de narrativa com a Guiné Equatorial, em particular, e com África em geral, e os meios de comunicação social têm de fazer um esforço mais sério, mais rigoroso, para contrastar essa narrativa apenas negativa", disse o ministro, em entrevista à agência de notícias Lusa este sábado (15.06) em Malabo, à margem dos Encontros Anuais do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que decorreram até sexta-feira.
"O problema da Guiné Equatorial é o clima de negócios, não é fácil fazer negócios no país", admitiu o governante, usando como referência o ranking Doing Business, do Banco Mundial: "Temos uma parte de responsabilidade, mas estamos a solucionar isso", afirmou, exemplificando que enquanto há um ano os empresários demoravam dois ou três meses para abrir uma empresa e precisavam de um parceiro local, hoje a abertura de uma empresa demora uma semana e não implica um sócio nacional.
Questionado sobre a razão de existir essa narrativa, o ministro respondeu: "As pessoas não querem informar bem, não se dão ao trabalho de confirmar os factos", reforçou, dizendo que tem quatro pessoas para trabalhar a comunicação, enquanto "os da narrativa têm milhões a trabalhar para eles e milhões a citá-los".
Questionado sobre o que estas pessoas terão contra a Guiné Equatorial, o ministro retorquiu, assumindo que "não é contra" aquele Estado, um dos integrantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP): "É contra os países que querem desenvolver-se, a história está configurada assim; temos desafios, sim, como tem Portugal, como tem Espanha, onde estudei, como têm todos os países", disse.
Convidado a deixar uma mensagem para os investidores que contradiga essa "narrativa negativa", o governante disse que não são os investidores que precisam de uma mensagem, mas sim os jornalistas: "A mensagem não é para as empresas, essas investem onde acham que vão fazer dinheiro, a mensagem é para os 'media', que são os que influenciam as decisões das empresas; os investidores não decidem bem porque a mensagem está distorcida, por isso a mensagem é para os meios de comunicação, que não informem mal e que não perpetuem estereótipos que vêm de há séculos atrás".
Crescimento económico
A Guiné Equatorial deve aplicar um conjunto de reformas nos próximos anos que lhe permita sair da recessão económica em que está mergulhada desde 2016, relançando o crescimento, e para isso realizou este ano a terceira conferência económica nacional para atualizar as principais linhas de atuação do país, com "objetivos até 2035 para consolidar a equidade social e a diversificação económica, e que estão alinhadas com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, com a Agenda para o Desenvolvimento 2063 e com as cinco prioridades estratégicas do Banco Africano de Desenvolvimento”, afirmou o governante.
"Sempre procurámos um crescimento económico sustentado e inclusivo, isso está sustentado na segunda conferência económica de 2007, na qual decidimos que as receitas petrolíferas iriam ser canalizadas para quatro grandes áreas de atuação: dotar o país de infraestruturas que permitam melhorar as condições de vida das populações e a produtividade da economia, investir nas pessoas para aumentar a capacidade e as condições de vida, investir no setor produtivo e investir na boa governação", elencou.
"Estes quatro eixos de atuação têm no centro o indivíduo, que tem de viver num país em que há água, luz e em que se possa mover facilmente, com ligações à Internet, boa educação, saúde e leis, e sobretudo uma economia capaz de criar emprego", concluiu o governante.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.