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ConflitosIsrael

Hezbollah em silêncio após ataque israelita ao Irão

DW (Deutsche Welle)
18 de junho de 2025

Após o ataque de Israel ao Irão, o Hezbollah — uma milícia xiita no Líbano apoiada pelo Irão — manteve-se estranhamente em silêncio. Especialistas consideram que o grupo está enfraquecido.

Irã Teerã 2025 | Manifestação de solidariedade ao governo
Que papel político e militar o Hezbollah ainda desempenha no conflito Israel-Irã?Foto: Atta Kenare/AFP

O ataque israelita ao Irão aumentou drasticamente a tensão no Médio Oriente. No entanto, o Hezbollah — outrora a maior e mais bem equipada milícia apoiada pelo Irão na região — limitou-se até agora a condenar o ataque. Na sua declaração, expressou condolências ao regime em Teerão pelas vítimas, mas não se prontificou a participar em eventuais ações de retaliação por parte do Irão — apesar de o Líbano fazer fronteira direta com Israel.

"Antes, a regra era que, se o Irão fosse atacado no seu território, responderia a partir do próprio território", explicou Heiko Wimmen, do think tank International Crisis Group, à DW. "Mas essa regra pode ter mudado. Por isso, é possível que o Hezbollah esteja à espera de uma ordem clara do Irão."

Ronnie Chatah, analista político residente em Beirute e apresentador do podcast The Beirut Banyan, aponta outra explicação: "Devido às pesadas perdas sofridas pelo Hezbollah na guerra com Israel no ano passado, o Irão pode não ter capacidade neste momento para retaliar a partir do Líbano", disse à DW. O antigo "joia da coroa” do Irão pode já não estar em condições de cumprir o seu papel de "linha de defesa avançada de Teerão no exterior”.

Ainda assim, os sinais apontam para que o Hezbollah continue a fazer parte do cálculo estratégico iraniano — mesmo enfraquecido.

Hezbollah: demasiado fraco ou ocupado demais?

"Talvez o silêncio do Hezbollah se deva ao facto de estar a passar por uma reestruturação interna", afirma Wimmen. O grupo pode estar atualmente ocupado a nomear uma nova liderança e a reforçar a produção local de armas, para se tornar menos dependente dos fornecimentos iranianos. "Além disso, ninguém sabe exatamente o que aconteceu aos mísseis estratégicos que supostamente o Hezbollah possuía, mas que nunca foram usados contra Israel durante a guerra do ano passado."

Após o ataque israelita, o regime de Teerão cancelou a próxima ronda de negociações nucleares com os EUA.Foto: Vahid Salemi/AP/dpa/picture alliance

Em novembro de 2024, um cessar-fogo pôs fim a mais de onze meses de confrontos e a uma guerra de dois meses desencadeada pelo Hezbollah, na qual Israel acabou por eliminar grande parte da sua liderança. Israel também destruiu grandes partes da infraestrutura construída pela milícia, o sul do Líbano e vastas zonas de Beirute. Cerca de 4.000 pessoas morreram.

Apesar do cessar-fogo, Israel continua a atacar locais alegadamente ligados ao Hezbollah. Na semana passada, o exército israelita atacou um subúrbio controlado pela milícia nos arredores de Beirute, alegando ter atingido fábricas subterrâneas de drones. O Hezbollah, cujo braço armado é classificado como organização terrorista pelos EUA, Alemanha e vários países árabes, negou a existência de tais instalações.

Contudo, não se pode excluir a hipótese de que a milícia esteja a tentar rearmar-se.

"Depois dos recentes reveses dificultarem a capacidade do Hezbollah de obter armas iranianas e contrabandeá-las para o Líbano, o grupo pode estar a tentar priorizar a produção doméstica de drones", refere um relatório recente do think tank Institute for the Study of War. Se for verdade, isso corresponderia à antiga imagem do Hezbollah como grupo altamente equipado, cujo arsenal militar superava o do próprio exército nacional libanês. No entanto, tal esforço contraria as exigências internacionais de desarmamento. Também dentro do Líbano, a pressão sobre a milícia xiita radical está a crescer.

Em maio, o exército israelense atacou um dos subúrbios ao sul de Beirute, onde o Hezbollah operava uma unidade subterrânea de produção de drones, disse um porta-voz do exército.Foto: AFP/Getty Images

Mesmo assim, o Hezbollah parece não querer ceder a essa pressão. Os seus representantes têm repetidamente afirmado que o grupo não entregará as suas armas enquanto Israel não cessar os ataques aéreos e se retirar de cinco posições militares. Israel, por seu lado, declarou que continuará a atacar o Hezbollah enquanto este representar uma ameaça.

Pressão crescente sobre o Hezbollah

Entretanto, o governo libanês tem reforçado os esforços para conter o grupo. No início do mês, o primeiro-ministro Nawaf Salam declarou numa mensagem televisiva — por ocasião dos primeiros cem dias de governo — que o exército libanês desmantelou mais de 500 posições militares e depósitos de armas do Hezbollah no sul do país. "O Estado prossegue as suas ações para restaurar a autoridade em todo o território nacional e recuperar o monopólio do uso da força", afirmou Salam.

De facto, o contexto mudou para o Hezbollah. "O debate atual é muito diferente daquele do último conflito nos anos 2000. Nessa altura, o Hezbollah emergiu como um actor-chave que liderava a reconstrução e ajudava a população, conquistando assim apoio político", explica Kelly Petillo, especialista em Médio Oriente do European Council on Foreign Relations, à DW. Segundo ela, atualmente, o foco a nível nacional é o desarmamento do Hezbollah. "A nível local, a questão é: quem vai tirar o país da miséria e dos efeitos de uma guerra devastadora?"

Entretanto, a memória de Hassan Nasrallah — líder do Hezbollah morto num ataque israelita ao quartel-general do grupo em Beirute, em setembro do ano passado — continua viva. A cidade ainda exibe bandeiras e cartazes com Nasrallah e outros líderes do grupo, segundo Petillo. "Mas isso já só se vê nos edifícios destruídos e nas ruas degradadas."

É certo que o Hezbollah está enfraquecido, reconhece. As bandeiras estão cobertas de poeira e destroços. "Mas ainda estão lá, a esvoaçar. E isso mostra que o Hezbollah não desaparecerá tão cedo."

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