Angola: Críticas ao "hino milionário" da independência
17 de agosto de 2020Os mais de 148 milhões de kwanzas (mais de 200 mil euros) do contrato celebrado entre o Estado angolano e a empresa Big Eventos, continua a ser alvo de duras criticas, não só nas redes sociais como também noutros segmentos da vida social. A constituição da comissão dos 45 anos de independência foi criada em dezembro de 2019.
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), por intermédio de Maurílio Luiele, primeiro vice-presidente da bancada parlamentar, junta-se à chuva de críticas.
O maior partido da oposição, considera um "exagero” a alocação destas verbas para o hino da "dipanda”, como é chamada a independência em Angola.
"Continuamos a ter prioridades muito mal definidas e não há dúvidas de que estes 148 milhões para elaborar e realizar o hino dos 45 anos é um exagero”, aponta Maurílio Luiele.
Prioridades mal definidas?
Para o deputado, estes valores poderiam ser aplicados noutros setores da vida social que registam, nos últimos tempos, grandes dificuldades agravadas pela pandemia da Covid-19 e pela queda do preço do petróleo no mercado internacional.
"É uma despesa de muito má qualidade, uma vez que estamos com alta contracção financeira tinham que ser bem definidas as prioridades. Até pela questão da Covid-19, penso que estes recursos deviam ser utilizados para outros fins.”
E um destes fins seriam a sua aplicacão no setor da educação, diz Francisco Teixeira, presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA). Em Angola perto de três mil crianças encontram-se fora do sistema normal de ensino por falta de salas de aula.
"Valor dava para construir três escolas"
"Só este ano, o Estado gastou para construção de uma escola de 12 salas no bairro Bom Pastor, na província do Huambo, perto de 50 milhões de kwanzas. E para construção de uma escola de 14 salas na província do Cuanza-norte perto de 48 milhões de kwanzas. (quase 69 mil euros)”
Feitas as contas, "com estes valores dá para construir três escolas. Logo, nós teríamos perto de seis mil e trezentas crianças a frequentar o ano letivo. Quer dizer, o que é mais importante nesse país?”, questiona Francisco Teixeira.
A imprensa local diz que os valores iniciais acordados entre a empresa contratada e o então Ministério da Cultura eram de mais de 14 milhões de kwanzas. Mas, em declarações à ZAP, uma televisão privada angolana, Big Nelo responsável da Karga Eventos, revelou-se ser alvo de calúnia e reiterou que os valores iniciais foram, de facto, os mais de 148 milhões de kwanzas.
A DW África tentou ouvir as partes envolvidas, sem sucesso.