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Histórias de Fuga em Cabo Delgado: "As mudanças em Pemba"

5 de janeiro de 2023

O terrorismo em Cabo Delgado transformou a capital da província moçambicana, Pemba. No 4.º episódio de "Histórias de Fuga em Cabo Delgado" falamos das mudanças ocorridas nesta cidade, nos 5 anos de insurgência.

Mosambik | Binnenvertriebene verliehen von Palma nach Pemba
Foto: DW

Com o terrorismo, quase tudo mudou em Pemba. Houve uma explosão democrática, aumentou a pressão nos serviços públicos e a vida está mais cara. E houve um aumento dos negócios informais. Neste quarto episódio da série da DW "Histórias de Fuga" falamos sobre as mudanças ocorridas em Pemba ao longo de mais de cinco anos de insurgência.  

Os ataques terroristas que assolam o norte de Moçambique desde 2017 trouxeram mudanças profundas para a vida na cidade de Pemba. A capital provincial foi o destino de muitos deslocados que fugiram dos vários distritos atingidos pelas incursões dos rebeldes e que consideram a cidade como o local mais seguro.

A população na cidade aumentou para o dobro, em comparação com os anos antes da violência. Se o censo populacional de 2017 indicava 201.846 habitantes, Pemba recebeu 198.457 deslocados do terrorismo.

O preço de muitos alimentos é proibitivo. Foto: DW

Aumento do custo de vida 

A vida encareceu bastante. Para o ativista social e especialista em relações internacionais, Aly Caetano, tudo está cada vez mais complicado.

"As famílias que não são consideradas de renda média nem de alta, são famílias de renda extremamente baixa, já viviam uma situação de aperto. Tinham que fazer um exercício para garantir as três refeições, um outro exercício para que tivessem acesso à escola e para garantir que tivessem acesso à saúde. A vida era complicada. Com a situação de conflito, essa situação ficou cada vez pior", revelou o ativista.

O preço de muitos alimentos é proibitivo. Anchinha Abdul, ativista e residente em Pemba diz que o sufoco das famílias aumentou.

"A vida em Pemba sempre foi cara, mas agora está pior. Um saco de arroz encontrávamos a 800 meticais [cerca de 12 euros] antes, agora está por aí 1250, 1150 meticais [18-16 euros]. Um outro tipo de arroz, com um pouco mais de qualidade, comprávamos a 1250 meticais, e agora compramos um saco de 25Kg a 1680 a 1700 meticais [25 euros]", contou Abdul.

Ao mesmo tempo, aumentou a pressão nos serviços públicos, desenhados para muito menos habitantes.

"Com o aumento de pessoas, um hospital que estava [projetado] para em média para receber 20 a 30 pessoas tem que receber agora 150 pessoas. Isso se replica em todas as instituições estatais: nós vamos para fazer o Bilhete de Identidade e temos uma fila enorme, porque temos os nossos irmãos deslocados que perderam tudo e precisam fazer o BI. Na educação também se replica: uma sala de aula acostumada com 50 [alunos], hoje tem que ter um bocadinho mais", disse Aly Caetano.

O comércio informal aumentou, tal como o trabalho infantil.Foto: DW

Reinventar-se para sobreviver

Muitos que se deslocaram das zonas de origem devido ao conflito chegaram às zonas de acolhimento e tiveram de se reinventar para sobreviver. O comércio informal aumentou, tal como o trabalho infantil, como consideram os ativistas.

"Vários jovens agora fazem a venda de ovos, de amendoim, de alguns salgados, de algum petisco para garantir a sobrevivência. Um negócio que proliferou muito ao longo dos cinco anos é o moto-táxi. Agora temos muitos moto-táxis em várias esquinas, e isso é o impacto direto da questão do conflito", considera Aly Caetano.

Anchinha Abdul lembra que as autoridades moçambicanas e as organizações não-governamentais têm dado apoio, mas não chega. Por isso, os deslocados recorrem ao que têm.

"As senhoras um pouco adultas recorrem ao negócio. Aqui na cidade quando elas recebem o apoio, como o Programa Alimentar Mundial, que tem dado assistência, algumas pessoas recebem cheques e vão buscar arroz, saco de trigo, óleo e açúcar, fermento e começam a fazer bolinhos", contou Abdul. 

A ajuda é bem-vinda e a relação entre as tropas estrangeiras e a população local é elogiada. Foto: Estácio Valoi/DW

Tropas estrangeiras

Ao mesmo tempo, em Pemba, os avanços e recuos dos insurgentes, mais a norte, continuam a ser tema frequente de conversa.

No combate aos terroristas, Moçambique tem recebido apoio militar estrangeiro do Ruanda e da missão dos países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SAMIM).  A ajuda é bem-vinda e a relação entre as tropas estrangeiras e a população local é elogiada. 

"Eles estão a tratar a população como se fossem moçambicanos ou como se fosse na terra deles. Eles estão a tratar as pessoas com todos os direitos humanos reservados dentro dos nossos instrumentos legais. Nós encontramos militares [estrangeiros] a pilarem, a pilar milho com a população", contou Abudo Gafuro Manana, ativista residente de Pemba. 

O especialista em relações internacionais Aly Caetano confirma esta relação "saudável".

"Alguns estudos, debates e conversas em que tenho participado constatam que as pessoas nativas têm uma melhor relação com a força estrangeira do que com as forças moçambicanas. Isto é extremamente controverso", considerou. 

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