Há diariamente novas denúncias de contaminação propositada com HIV, segundo a Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA. Organização alerta que é preciso mais investimento público para ações de combate.
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Todos os dias, há pelo menos 10 denúncias de pessoas contaminadas de propósito com HIV, de acordo com dados da Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA (ANASO).
A contaminação dolosa é crime. Em Angola, os autores incorrem em penas de até 24 anos de prisão. Mas muitos casos não são denunciados na Justiça, as vítimas temem represálias dos agressores, e o problema agrava-se.
O coordenador da ANASO, António Coelho, diz que o número de denúncias aumentou, mas que ainda há um longo caminho a percorrer, e pede urgentemente uma mudança de atitude, "no sentido de abandonarem tal prática e se juntarem a nós na sensibilização daqueles que ainda entendem que devem contaminar os demais."
HIV: Há mais denúncias de contaminação intencional em Angola
Punição
Não é a primeira vez que se fala em contaminação dolosa em Angola. Há dez anos que o assunto é debatido com frequência na sociedade, mas, segundo o jurista Agostinho Canando, o Estado tem sido demasiado brando na aplicação da lei.
Canando comenta que a Procuradoria-Geral da República tem de intervir. "Se a onda de contágios continuar, volta e meia, teremos uma Angola toda contaminada porque a PGR nunca faz nada", diz.
No entanto, cientistas referem que não está provado que a criminalização resolve o problema da contaminação dolosa. Dizem, inclusive, que leis "mal concebidas" podem até piorar a situação, porque levam os agressores a esconder-se e não procurar ajuda, segundo um documento publicado durante a conferência internacional sobre a SIDA, que termina esta sexta-feira (27.07) na Holanda.
Na conferência deste ano, o ressurgimento de novos casos da doença em alguns países do mundo foi uma das preocupações. Milhares de ativistas pediram maior acesso a medicamentos antirretrovirais e mais dinheiro para campanhas de sensibilização sobre o HIV.
Combate ao vírus requer mais recursos
Segundo a Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA, nos últimos anos, Angola tem registado em média 25 mil novas contaminações com HIV e 13 mil mortes de pessoas infetadas. As províncias do Kuando Kubango, Cunene, Moxico, Lundas, Kwanza-Norte e Luanda registam o maior número de contágios. As mulheres são as mais afetadas e os kovens entre os 15 e os 24 anos são a faixa etária mais vulnerável.
António Coelho, da rede ANASO, pede ao Governo angolano mais financiamento, para se intensificar a luta contra o HIV/SIDA no país. "A situação da SIDA em Angola continua preocupante e, em alguns casos, alarmante. No atual contexto, a resposta é fraca, sobretudo, por falta de fundos e de compromissos."
O responsável sublinha ainda que é preciso um debate alargado na sociedade sobre estas questões e acabar, de uma vez por todas, com a discriminação de pessoas com HIV.
Kasensero: local de origem da SIDA
Quando a primeira epidemia de SIDA global aconteceu na aldeia de Kasensero no Uganda, muitos acreditavam que se tratava de bruxaria. Médicos identificaram a doença como vírus. Hoje, 33% dos habitantes são seropositivos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma aldeia de pescadores
Kasensero é uma aldeia pequena e pobre situada na margem do Lago Vitória no distrito de Rakai no sul do Uganda na fronteira com a Tanzânia. Em 1982, a aldeia tornou-se famosa a nível mundial. Em apenas alguns dias morreram milhares de pessoas com uma doença desconhecida. O HIV já era conhecido nos EUA, na Tanzânia e no Congo. Mas uma epidemia com esta dimensão nunca tinha acontecido.
Foto: DW/S. Schlindwein
Milhares de pessoas morrem
Kasensero 1982: Thomas Migeero era a primeira vítima. Primeiro perdeu a fome e depois os cabelos. No fim ele só era pele e osso, se lembra o seu irmão Eddie: "Alguma coisa dentro dele comeu-lhe". Durante o funeral, o seu pai não se aproximou do caixão. Todo mundo acreditava numa maldição. Hoje sabemos: morreu de SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma cidade morta
Quando a doença começou a matar milhares de pessoas, os habitantes começaram a abandonar a cidade. As famílias que podiam partiram e deixaram os seus campos de milho, e os bovinos e caprinos. Até hoje, Kasensero parece uma cidade abandonada e morta. Só os mais pobres ficaram.
Foto: DW/S. Schlindwein
Como o vírus chegou a Kasensero
Presumivelmente o vírus chegou através das rodovias da África Oriental a Kasensero. Condutores de veículos pesados passam a noite nos postos fronteiriços de Kasensero. Muitos procuram prostitutas como esta mulher de 30 anos de vestido rosa, que gostaria não ser reconhecida. Conta que os homens pagam quatro vezes mais para o sexo sem preservativo. Ela não se importa, pois é seropositiva.
Foto: DW/S. Schlindwein
SIDA como normalidade
Joshua Katumba é seropositivo. O pescador de 23 anos nunca visitou uma escola e não sabe ler e escrever. Não tem uma perspetiva para um futuro melhor – como a maioria dos que vivem em Kasensero. Um terço dos habitantes estão infetados com o vírus da SIDA – um dos índices de contaminação pelo HIV mais altos do mundo.
Foto: DW/S. Schlindwein
Medicamentos grátis
Yoweri Museveni, o Presidente do Uganda, foi o primeiro presidente da África, que reconheceu a SIDA como uma doença. A seguir, o Uganda desenvolveu-se como modelo da luta contra a SIDA. Pesquisadores internacionais chegaram a Rakai. Subsídios foram distribuídos. No hospital da região, os doentes com HIV passam horas em fila para buscar os seus medicamentos: são grátis.
Foto: DW/S. Schlindwein
Violência sexual
Há cinco anos, que Judith Nakato é seropositiva. Provavelmente ela foi infetada quando foi estuprada e ficou grávida. Pouco antes do parto, os médicos perceberam que ela tinha o vírus e conseguiram evitar uma transmissão ao bebé. Todos os dias, Judith tem que tomar os seus medicamentos contra a SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Anti-retrovirais escassos
Desde que Judith Nakato começou a tomar os seus medicamentos, conseguiu voltar a trabalhar. Os comprimidos, chamados anti-retrovirais ou ARV, evitam que a SIDA se desenvolve totalmente. Os medicamentos são pagos pelo Fundo Global contra a SIDA. Mas Judith Nakato tem que deslocar-se a uma outra cidade a mais de cem quilómetros para receber a sua medicação, pois os medicamentos são escassos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Pacientes estão moribundos
Olive Hasal de 50 anos emagreceu a pele e ossos. Ela respira com muito esforço e os olhos parecem cansados. Ela mostra o comprimido que está embrulhado num pano. "Este é o último", diz ela. Hasal já viu morrer o seu marido e as suas duas crianças. Ela sabe que ela também vai morrer se ninguém for buscar os medicamentos na capital do distrito que fica a 140 quilómetros de distância.
Foto: DW/S. Schlindwein
Modelo contra a luta de SIDA?
Uganda foi considerado modelo da luta contra a SIDA: grandes somas de dinheiro foram doadas pela comunidade internacional. No início com sucesso: os casos de infeções diminuíram em cerca de dois terços a partir de 1990. Mas nos últimos dez anos, o número das infeções aumentou novamente.
Foto: DW/S. Schlindwein
Testes clínicos e pesquisas
Desde as primeiras tentativas de terapias em 1996, os habitantes foram usados para estudos de longo prazo. Kasensero é o laboratório das pesquisas globais da SIDA. O resultado da pesquisa mais recente: homens circuncidados reduzem o risco de infeção em 70 %. O Uganda aposta agora na circuncisão masculina para reduzir a propagação do HIV-SIDA.